As relações entre a Turquia e a Alemanha -essenciais para reduzir a migração em massa para a Europa- piorou tanto que os dois países estão virtualmente "sem base" para negociações, disse o ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, nesta quinta-feira.
A Alemanha tem sérias preocupações com as prisões em massa realizadas por autoridades turcas depois de um golpe de Estado frustrado no mês passado, disse Steinmeier.
Ao mesmo tempo, a Turquia sente que a Alemanha não levou a tentativa de golpe de 15 de julho a sério, e está irritada com reportagens da mídia alemã sugerindo que o golpe foi orquestrado pelo presidente turco, Tayyip Erdogan.
"Estamos conversando um com outro como se fôssemos emissários de dois planetas diferentes", disse Steinmeier, falando na cidade alemã de Stralsund. "Não há essencialmente nenhuma base para entendimento … nenhuma base para as discussões."
As relações entre a Alemanha e a Turquia têm sido tensas por meses após o Parlamento alemão classificar, em votação no dia 2 de junho, o massacre de armênios por forças otomanas em 1915 como genocídio, em uma ação fortemente criticada por Erdogan e outras autoridades turcas.
A chanceler Angela Merkel reuniu-se com Erdogan durante uma reunião de cúpula da Otan em Varsóvia, pouco antes do golpe abortado, para tentar aparar as arestas, mas ela disse mais tarde que as diferenças não iriam "desaparecer".
Desde que a votação, a Turquia tem negado a parlamentares alemães acesso à base aérea de Incirlik, onde 250 soldados alemães participam nas operações da Otan contra os militantes do Estado Islâmico.
Steinmeier disse que falou pela última vez com o seu homólogo turco na sexta-feira e garantiu-lhe que a Alemanha trata a tentativa de golpe como um assunto sério, enquanto insistiu no direito de questionar se a resposta do governo turco tinha sido apropriada.
"Nós temos que ser autorizados a perguntar se prisões em massa de dezenas de milhares de advogados, juízes, jornalistas, soldados, fechamento de emissoras e jornais – foram realizadas sob o estado de direito", disse ele.
Steinmeier reiterou que a volta da pena de morte na Turquia vai impedir a sua entrada na União Europeia. Mas ele advertiu contra a interrupção prematura das discussões com Ancara, como autoridades austríacas exigiram. Isso eliminaria qualquer influência que os Europeus podem ter sobre os muitos milhares de pessoas que foram presas na Turquia, disse ele.
Erdogan promete acabar com as receitas de negócios ligados a Gulen
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, prometeu nesta quinta-feira eliminar as receitas de negócios ligados ao clérigo turco que vive nos Estados Unidos a quem culpa pela idealização de um golpe fracassado, descrevendo suas escolas, negócios e instituições de caridade como "ninhos de terrorismo".
Os negócios são a arena na qual a rede de Fethullah Gulen ainda é a mais forte, disse Erdogan em discurso no palácio presidencial transmitido ao vivo pela TV, prometendo não mostrar misericórdia em uma repressão aos negócios do clérigo.
Secretário de Estado dos EUA visitará Turquia no final de agosto, diz CNN
O secretário de Estados norte-americano, John Kerry, vai visitar a Turquia no final de agosto, relatou a rede CNN Turk nesta quinta-feira, mais de um mês após um golpe militar fracassado que abalou o país membro da Otan.
As relações entre Turquia e Washington foram prejudicadas pela tentativa de golpe, com o presidente Tayyip Erdogan culpando o clérigo turco que vive nos EUA Fethullah Gulen. Erdogan pediu a extradição de Gulen, que nega envolvimento no golpe.
Já o ministro turco de Assuntos da União Europeia disse que comentários do chanceler da Áustria, sugerindo que as conversações sobre a participação da Turquia na UE deveriam terminar, são assustadoramente próximos à retórica da extrema-direita.
"É preocupante que seus comentários sejam parecidos com aqueles da extrema-direita… Críticas com certeza são um direito democrático, mas deve haver diferença entre criticar a Turquia e ser contra a Turquia", disse Omer Celik a repórteres em Ancara.
O chanceler austríaco, Christian Kern, disse na quarta-feira que irá iniciar uma discussão entre chefes de governos da Europa para encerrar as conversações com a Turquia sobre a entrada do país na União Europeia, por conta de déficits democráticos e econômicos do país.