O primeiro-ministro britânico, David Cameron, condenou nesta terça-feira os distúrbios que atingiram Londres e outras cidades da Inglaterra nos últimos dias, dizendo que os responsáveis pelos ataques "vão sentir a força da lei".
"Se vocês têm idade suficiente para cometer esses crimes, têm idade suficiente para enfrentar as punições", disse o premiê, que encurtou suas férias na Itália para voltar a Londres e participar, nesta terça, de uma reunião do comitê de planejamento de emergência do governo.
Cameron anunciou uma série de medidas para lidar com a crise, entre elas a suspensão de férias e folgas de policiais, o aumento do número de oficiais nas ruas de 6 mil para 16 mil e a reconvocação do Parlamento, que está em recesso.
Cameron prometeu fazer o que for necessário para restabelecer a ordem nas ruas do país.
Em uma mensagens aos responsáveis pelos tumultos, o premiê disse: "Vocês não estão apenas destruindo as vidas dos outros, vocês não estão apenas destruindo suas comunidades, vocês estão potencialmente destruindo também suas próprias vidas."
Futebol
Depois de sofrer críticas por sua ausência, o prefeito de Londres, Boris Johnson, também resolveu suspender suas férias e voltar ao país devido aos confrontos.
Na manhã desta terça-feira, a federação inglesa de futebol, Football Association (FA), decidiu cancelar um amistoso entre Inglaterra e Holanda, que seria realizado na quarta-feira no estádio de Wembley, no noroeste de Londres, com expectativa de atrair 70 mil torcedores.
As forças de segurança da capital britânica e de outras partes do país estão em massa nas ruas para tentar conter novos episódios de quebra-quebra, que já atingiram partes do norte, sul, leste e oeste de Londres, além de outras cidades britânicas como Birmingham e Liverpool.
Grupos de jovens mascarados destruíram lojas e restaurantes e atearam fogo a carros, prédios, pontos de ônibus e até delegacias.
Segundo a Polícia Metropolitana de Londres (conhecida como Scotland Yard), nos últimos três dias pelo menos 334 pessoas foram presas e 69, indiciadas. Cerca de 1,7 mil policiais tiveram de ser trazidos de outras regiões para reforçar o policiamento nas ruas.
"A violência que vimos é simplesmente imperdoável. As vidas de pessoas comuns foram viradas de cabeça para baixo por esta selvageria estúpida. A polícia vai fazer com que todos os responsáveis enfrentem as consequências de suas ações e sejam presos", disse a comandante da Scotland Yard Christine Jones.
Terceira noite
Os tumultos de segunda-feira começaram no fim da tarde no bairro de Hackney, no norte de Londres, depois que um homem foi parado e revistado pela polícia, que não encontrou nada.
Grupos de pessoas começaram então a lançar pedras e latas contra os policiais e a atacar carros da polícia com pedaços de madeira e barras de ferro. Lojas foram saqueadas e destruídas.
"O sentimento comum em Hackney Central é que nossa comunidade foi ferida e prejudicada por uma violência inexplicável. Nós falamos com saqueadores e a única explicação que eles deram para seu comportamento é que eles não tinham nenhum dinheiro", disse à BBC a moradora do bairro Catherine Holmes.
"É triste pensar que essas pessoas só pensam no momento seguinte e o momento que eles criaram é um pesadelo. Enquanto vemos eles se movimentarem em pequenos grupos, esperamos que nossa comunidade se una esta manhã para reagir contra esses tumultos."
No início da noite de segunda, os distúrbios se concentravam em Hackney, no norte da cidade, e em Peckham, Lewisham e Croydon, no sul. Durante a madrugada, no entanto, a violência chegou a outras áreas, como Notting Hill, Clapham, Ealing, Bethnal Green, Newham, Camden e Hampstead.
Segundo a Scotland Yard, três policiais foram feridos em Hackney e dois em Bethnal Green, mas não há informações sobre moradores feridos.
Em Croydon, um homem de 26 anos de idade foi encontrado pela polícia à noite, dentro de um carro, com ferimentos causados por arma de fogo. O homem foi levado a um hospital no sul de Londres, onde está internado em estado grave.
McDonald’s e Armani
Na cidade de Waltham Abbey, a leste de Londres, um centro de distribuição da Sony foi tomado pelas chamas, que atingiram vários metros de altura.
Distúrbios também foram registrados em Bristol, no sudoeste da Inglaterra, e em Leeds, no norte.
Os protestos também chegaram a Birmingham, a segunda cidade mais populosa do país, onde pelo menos cem pessoas foram presas e dezenas acabaram hospitalizadas.
Grupos de jovens mascarados destruíram lojas e restaurantes na cidade, incluindo um restaurante da rede de fast food McDonald’s e uma boutique da grife Armani, além de atear fogo em carros e caixas de correio.
A polícia local disse ainda que uma delegacia no centro da cidade foi incendiada.
Além de Birmingham, no norte do país, foram registrados distúrbios nas cidades de Manchester e Liverpool, onde carros foram incendiados e manifestantes entraram em choque com a polícia.
Origem dos tumultos
As revoltas que explodiram no sábado no bairro de Tottenham se espalharam para outras regiões da capital britânica na noite de domingo, que foi marcada por saques e violência em vários pontos de Londres.
Os incidentes começaram após um protesto pela morte de Mark Duggan, 29 anos.
Duggan foi morto por policiais na quinta-feira, em Tottenham, depois de ser abordado em um táxi por uma unidade que investiga crimes com armas de fogo no bairro.
Detalhes do incidente ainda não foram divulgados.