ROBERT WALL
A NASA deu o nome de X-57 a seu novo avião-conceito totalmente elétrico, uma aeronave futurística que marca a maior investida que a agência aeroespacial dos Estados Unidos fez até hoje na busca por aviões que não consomem combustível.
Juntamente com alguns dos maiores gigantes industriais do mundo e um punhado de empresas aéreas pioneiras, a NASA está mergulhando de cabeça no projeto de desenvolver aviões comerciais elétricos que sejam viáveis, como uma Tesla dos ares.
O novo movimento está indo bastante além do pequeno círculo de entusiastas que há décadas persegue a ideia de um avião elétrico. Os conceitos incluem desde iniciativas relativamente simples para usar células de hidrogênio até planos mais ambiciosos de substituir os motores à base de combustível dos aviões comerciais pela propulsão elétrica.
“Estamos novamente no Velho Oeste na aeronáutica”, diz Mark Moore, chefe de pesquisas na NASA.
Em abril, a fabricante europeia de aviões AIRBUS Group SE e o conglomerado alemão SIEMENS AG divulgaram que estavam montando uma equipe de 200 engenheiros para trabalhar em tecnologias elétricas ou híbrido-elétricas que podem ser utilizadas na aviação. Os modelos híbridos funcionam de maneira semelhante ao carro Prius, da Toyota: um motor convencional, operado por uma bateria elétrica, é usado em conjunto com um motor de combustão interna.
“Estamos agora colocando um dinheiro substancial” na iniciativa, disse Tom Enders, diretor-presidente da Airbus, numa entrevista ao The Wall Street Journal em maio. Ele projeta que um avião híbrido-elétrico de passageiros com 100 lugares poderia começar a voar até 2030.
No ano passado, a Airbus voou um avião elétrico de dois lugares, chamado E-Fan, sobre o Canal da Mancha para ajudar a gerar interesse por aeronaves elétricas. O avião usou uma bateria de lítio no voo de 36 minutos, embora a tecnologia avançada de baterias ainda esteja longe de poder ser adotada de maneira semelhante com aviões maiores.
A fabricante americana Boeing Co., enquanto isso, está trabalhando num avião-conceito que vai usar motores convencionais na decolagem, mas mudar para energia elétrica durante o voo. E a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, das forças armadas americanas, está trabalhando com parceiros, inclusive as fabricantes de motores de avião Rolls-Royce Holdings PLC e Honeywell International Inc., num drone que usa propulsão híbrido-elétrica.
As companhias áreas também estão de olho nessas possibilidades. A EasyJet PLC, por exemplo, planeja testar equipamentos nos seus aviões Airbus de um corredor para torná-los menos dependentes de motores de combustão, diz Ian Davies, diretor de engenharia da empresa europeia de baixo custo.
Ele diz que células de combustível a hidrogênio poderiam permitir aos aviões taxiar com seus principais motores desligados, reduzindo o consumo de combustível e ruído. Outra ideia promissora é usar um gerador para armazenar a energia cinética do giro das rodas nas decolagens e aterrissagens. O gerador poderia, então, carregar as baterias da aeronave. Esse conceito já é usado em carros de Fórmula 1, permitindo que eles armazenem a energia das freadas e a usem para aumentar a velocidade.
As companhias aéreas devem consumir cerca de 300 bilhões de litros de combustível neste ano. Mesmo com os atuais preços baixos do combustível, esse volume significa um gasto de US$ 127 bilhões por ano para o setor. Além disso, a pressão política para reduzir o consumo também está aumentando.
O novo avião elétrico da NASA, apresentado oficialmente na sexta-feira, vai servir de teste para as ideias da agência. O avião será uma versão altamente modificada do modelo de quatro lugares P2006T, da Costruzioni Aeronautiche Tecnam s.r.l., uma fabricante italiana especializada em construir aviões de dois a quatro lugares.
Os engenheiros da NASA pretendem remover os motores e asas do avião, substituindo-os por 14 pequenos propulsores elétricos espalhados por asas especiais.
A aeronave elétrica da NASA está na mesma classe de outros pioneiros da aviação nos EUA que também receberam a designação X, dada pela Força Aérea americana a aviões futurísticos em suas respectivas épocas. A série histórica foi iniciada pelo Bell X-1, que em 1947 tornou-se a primeiro avião a quebrar a barreira do som. O X-57 também foi apelidado de “Maxwell” pela agência — em homenagem ao físico escocês James Clerk Maxwell, que no século XIX fez descobertas revolucionárias na área de eletromagnetismo — e pode começar a voar já em 2017.