Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido – Ejército Colombia
Analista de assuntos estratégicos, geopolítica e defesa nacional.
Para ler algumas de suas obras visite seu site: www.luisvillamarin.com
Tradução: Graça Salgueiro
De maneira reiterada, serviços de segurança ocidentais e jornalistas que cobrem temas relacionados com a segurança, afirmam que entre as estruturas dos grupos jihadistas militam alguns indivíduos que se radicalizam sós, atuam sós e cometem atos terroristas sós pois, segundo seu ponto de vista, são induzidos ao crime por meio das redes sociais.
Esta versão que fez carreira e rapidamente se dá por veraz, na realidade não é certa. Não há tais lobos solitários. ISIS e Al-Qaeda são organizações piramidais, estruturadas por células articuladas que atuam sob os critérios da guerra revolucionária e que gravitam ao redor da conspiratividade, da clandestinidade e da compartimentação.
Ninguém que integre um grupo terrorista, seja islâmico como o ISIS, Hamas, Hizbolah ou Al-Qaeda, ou comunista como as FARC ou o ELN, pode atuar só. As estruturas armadas de uns e outros são células terroristas imbuídas por uma doutrina definida, uma organização básica, e dirigidos por responsáveis político, financeiro, militar, de organização e propaganda, que por sua vez prestam contas a cabeças de nível intermediário e estes aos cabeças superiores.
Nessa ordem de ideias, as ações de cada célula são avaliadas pelas estruturas superiores, devem acoplar-se a um programa tático e estar inseridas em um plano estratégico. A razão é simples: se uma organização terrorista não impõe a disciplina interna, corre o risco de cair na anarquia ou na infiltração do adversário.
Nos casos de terroristas que no último ano atuaram nos Estados Unidos, até o presidente Obama disse que não existe ligação com células jihadistas, em que pese que os cabeças do ISIS reconheceram a autoria. Tal situação raia entre a ingenuidade, o desconhecimento do proceder tático-estratégico dos jihadistas, ou o que é mais grave, o desejo de ocultar informação verdadeira para evitar o pânico.
O ataque terrorista na maratona de Boston, o massacre de San Bernardino-Califórnia e a matança em Orlando-Florida, para citar três casos concretos, corroboram que os terroristas buscaram o mesmo efeito político-estratégico, que os chefes jihadistas internacionais os colocaram de exemplo como mártires para imitar, e que os autores das atrocidades não atuaram sozinhos.
O problema para os países ocidentais radica em que se confunde agressão terrorista com um assunto policial, sem dar-lhe a categoria de segurança nacional que lhe corresponde. Finalmente, repete-se de maneira irresponsável a ideia de que as comunidades islâmicas são discriminadas, que a pobreza é causadora da radicalização e que as mesquitas ou centros de estudos corâmicos não têm nada a ver na radicalização de jovens nascidos no Ocidente, quase todos filhos de muçulmanos que receberam a liberdade que não tinham em seus países de origem.
E na ordem internacional, há dupla moral dos regimes da Arábia Saudita e Paquistão, que amiúde negam qualquer relação de seus funcionários com os terroristas islâmicos, em que pese que os documentos apreendidos do ISIS e da Al-Qaeda, assim como os interrogatórios a jihadistas, dizem o contrário.
A isto soma-se o carnaval de interesses excludentes dos países afetados pelos jihadistas, com a óbvia descoordenação dos serviços de inteligência devido a desconfianças mútuas, ou nos casos do Paquistão, Arábia Saudita e seus satélites, dos quais há maiores evidências de cumplicidade com os terroristas.
Em síntese, toda ação terrorista por parte de qualquer jihadista no mundo é a conseqüência de um plano refinado e aprovado por estruturas superiores, de acordo com interesses táticos, estratégicos, políticos e geopolíticos. Em tal sentido, é duvidosa a existência de lobos solitários pois, ao tolerá-los, os grupos jihadistas poderiam cair na anarquia.