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BNDES tem plano de apoio à indústria aeronáutica


Chico Santos Do Rio


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara uma política operacional específica para apoiar a indústria nacional de peças e equipamentos para aviões. Será, segundo Sérgio Varella Gomes, assessor da presidência do banco, a "segunda onda" de desenvolvimento da indústria aeronáutica, após a primeira, que foi o apoio do BNDES à própria Embraer.

A nova política, que deverá ser efetivada até o primeiro semestre do próximo ano, poderá incluir a participação acionária do banco em holdings formadas por grupos de pequenas empresas já existentes e até a participação da Embraer, a única cliente no mercado nacional, em associações (joint-venture) com essas holdings até que elas se robusteçam para caminhar com as próprias pernas. O setor é considerado estratégico, tanto do ponto de vista de desenvolvimento tecnológico quanto de geração de empregos qualificados.

O ponto de partida para as discussões em curso foi um trabalho denominado "O Desafio do Apoio ao Capital Nacional na Cadeia de Produção de Aviões no Brasil", que será publicado na próxima edição da "Revista do BNDES", ao qual o Valor teve acesso.

O estudo foi feito a cinco mãos por Gomes e Marcio Nobre Migon, assessores da presidência do banco; Jorge Cláudio de Oliveira Lima e Marco Aurélio Cabral Pinto, gerentes da Área de Comércio Exterior; e por Walter Bartels, presidente da Associação de Indústrias Aeroespaciais do Brasil. "A constituição de uma holding com unidades de trabalho definidas permitirá ao capital nacional a ampliação a curto prazo da escala e do escopo dos serviços prestados", diz o texto.

Segundo os autores, a cadeia de produção aeronáutica é caracterizada por uma estrutura do tipo líder-seguidores, sendo a Embraer a líder e as pequenas e médias empresas as seguidoras, "assim caracterizadas porque seu tamanho é determinado, fundamentalmente, por variações da cadência da produção da líder".

O trabalho diz que a principal evolução organizacional sofrida pela Embraer após a sua privatização em 1994 foi a desverticalização da produção, transferindo custos industriais para terceiros e mantendo o controle tecnológico da integração dos componentes. Essa estratégia permitiu diluir riscos com fornecedores estrangeiros "que têm acesso a capital para investimentos de baixíssimo custo em comparação com o que ocorre no Brasil".

Essa mudança segmentou os fornecedores da Embraer em três tipos: os parceiros, que correm riscos em conjunto nos projetos; fornecedores, que são responsáveis por partes importantes do avião, mas não chegam ao nível de parceiros (são 16 parceiros e 22 fornecedores no programa da linha de aviões 170/190); e os subcontratados, "firmas que usualmente prestam serviços em atividades de menor conteúdo tecnológico".

De acordo com o trabalho, "as poucas e pequenas firmas de capital nacional que sobreviveram pelas condições adversas enfrentadas pela indústria ao longo da década de 1990 não se beneficiaram da onda modernizadora" e ficaram relegadas ao bloco das subcontratadas. A partir do pressuposto, com base na demanda e na estratégia da Embraer, de que o período 2004/2007 será marcado pelo "aumento da cadência de produção e do índice de nacionalização" dos aviões brasileiros, os autores concluíram que esta é a hora de trabalhar para que a indústria nacional alcance a condição de parceira de risco nos próximos investimentos da Embraer, tornando-se também fornecedora global de componentes aeronáuticos.

Hoje, a Embraer vem obtendo êxito na atração para o Brasil de parceiros internacionais, como a japonesa Kawasaki e a alemã Liebherr, reduzindo custos, prazos e necessidade de capital próprio e aumentando o índice de nacionalização dos seus produtos. O trabalho do BNDES e de outras instituições, como o Centro para Competitividade, Empreendedorismo e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi) e da própria Embraer vem sendo a busca de robustecer a indústria nacional para que ela possa correr na mesma velocidade dos projetos da montadora.

Gomes disse que além da hipótese de participação do banco e/ou de outras instituições estatais em sociedade nas holdings de pequenas empresas, há também a hipótese de que sejam criados fundos de investimentos específicos para aportar recursos nessas holdings. Para Agliberto Chagas, gerente-executivo do Cecompi, "a idéia de criação de holdings é fundamental" para resolver problemas crônicos, como a dificuldade de acesso a financiamentos.

"Temos de aumentar a competitividade e por isso precisamos de um modelo de negócio robusto", ressalta. O esforço em favor da empresa nacional não exclui o capital estrangeiro, incluindo a possibilidade de associações que permitam a absorção de tecnologias e abra mercados externos às empresas brasileiras, diz o estudo do BNDES. Chagas vai mais longe. Segundo ele, a estratégia de atrair parceiros externos da Embraer para o Brasil pode fazer com que alguns deles decidam, graças às vantagens competitivas, transferir para o Brasil suas plataformas exportadoras

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