Comando Militar do Sul
Operação Fronteira Sul 2008
Presença e Dissuasão
Entrevista com o Comandante Militar do Sul
Gen Ex Elito Carvalho Siqueira
Kaiser Konrad
e Nelson Düring
DefesaNet
Porto Alegre – O Comando Militar do Sul realizou entre os dias 26 de maio e 10 de junho de 2008 a Operação Fronteira Sul. Mais de 10 mil soldados de 96 Organizações Militares foram deslocados às fronteiras com o Uruguai, Argentina e Paraguai. Estiveram operando, também, membros da Brigada de Operações Especiais e mais de 250 veículos blindados Urutu e Cascavel. Grupos de Artilharia de Campanha realizaram exercícios de tiro em locais estratégicos.
A operação foi realizada de forma combinada com a Marinha do Brasil, que realizou missões específicas no Lago de Itaipu e da Força Aérea Brasileira, que permitiu a vigilância do espaço aéreo e o apoio ao transporte de tropas. O exercício integrou os órgãos de Inteligência e o Exército aos demais órgãos federais e estaduais de segurança pública e de fiscalização voltados para o combate aos ilícitos trans-fronteiriços, em conformidade com a Lei Complementar Nr117, de 2 de setembro de 2004.
No Paraguai, a Operação Fronteira Sul foi vista por boa parte da imprensa e da população como um ato ultrajante e de provocação. Alguns setores do governo brasileiro afirmaram que a manobra buscava enviar uma mensagem aos governos da região. Para conhecer com maior profundidade a Operação Fronteira Sul, o maior exercício combinado já realizado na região Sul neste ano, DefesaNet entrevistou o Comandante Militar do Sul, General-de-Exército José Elito Carvalho Siqueira.
General Elito – Hoje as regiões de fronteira não são mais uma agenda somente militar, mas fazem parte da agenda nacional. A presença nas fronteiras é diuturna. Estamos realmente fazendo a nova maneira de sermos soberanos nessas áreas: através da “Presença e Dissuasão”. O comando de área do Exército Brasileiro que tem mais unidades é o Comando Militar Sul, que possui 164 quartéis espalhados pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Se houver o emprego dessas unidades ele terá que ser dinâmico. Por isso a Operação Fronteira Sul é estratégica e possui esse caráter de autenticidade, aproximando-se ao máximo de uma operação real. Estes exercícios serão realizados pelo menos duas vezes ao ano, sempre integrados com as outras forças e órgãos de segurança e Inteligência.
DefesaNet – Como o senhor vê nossa capacidade de dissuasão nacional?
General Elito – Nós temos que estar em condição de dissuadir. É por isso que estiveram presentes aviões da FAB (A-1) e integrantes da Brigada de Infantaria Leve, assim como outras estruturas de combate. Também é dissuasão tudo que iniba qualquer ação ilegal em área de fronteira, local onde temos poder de polícia. Os comandantes militares dos países limítrofes foram todos avisados da manobra e as tropas vizinhas puderam assistir a ela. Temos um intercâmbio com militares dos outros países (Argentina, Uruguai e Paraguai). Já se passou a fase de que tínhamos que esconder as coisas. Hoje, nós temos que demonstrar que somos uma potência, e é importante que nossos vizinhos saibam disso. Não podemos deixar de exercitar e mostrar que somos fortes, que estamos presentes e temos capacidade de enfrentar qualquer ameaça.
DefesaNet – Itaipu é um ponto estratégico na área de atuação do CMS.
Qual o envolvimento deste Comando na proteção da área da Usina?
General Elito – Nossa concentração de tropas em Foz do Iguaçú e em outras localidades da região são naturais. São instalações que refletem uma posição histórica como pontos de passagem e comércio. É claro que Itaipu é fundamental e importantíssima, assim como são Machadinho, na divisa com Santa Catarina, e Tucuruí, no norte do País, por serem áreas de instabilidade geradas por movimentos sociais e invasões de terras. Para nós, esses problemas merecem serem acompanhados, apesar de não serem de responsabilidade do Exército, mas dos poderes municipais e estaduais.
DefesaNet – Itaipu é uma binacional. Se os movimentos sociais paraguaios invadissem a área da usina, como aconteceu em Tucuruí – onde o Exército teve que intervir – e ameaçassem interromper o fornecimento de energia ao Brasil, quem seria responsável pela manutenção da Lei e da Ordem?
General Elito – Exatamente. Esta é a pergunta que deve ser feita. A segurança de Itaipu é responsabilidade primeiramente da própria empresa, a Itaipu Binacional. Caso ela não consiga mais prover a segurança de suas instalações, seja pela invasão de movimentos sociais ou outras ameaças, o problema poderá se tornar uma questão policial ou militar. E isso será estudado e discutido pelo governo. O Exército Brasileiro existe para cumprir qualquer missão em qualquer lugar do território nacional. Se o Presidente da República determinar que uma ação deva ser feita, ela será executada. Esperamos que essa missão não aconteça, mas se ordenada, será cumprida.
DefesaNet – Os paraguaios entenderam a operação Fronteira Sul como um ato de guerra. Já os “brasiguaios” viram como um apoio brasileiro à defesa de suas terras. Como o senhor vê isso?
General Elito – Com ou sem a Operação Fronteira sul estas percepções e problemas persistem. Essa visão de um lado ou de outro está errada e é muito pontual. Os responsáveis pelos dois países com certeza não pensam assim. Este assunto é importante e está na agenda dos dois governos pois envolve muitas considerações; entre elas, as gerações de famílias que buscam viver honestamente em terras paraguaias. É uma questão mais ampla do que se imagina e certamente os governos dos dois países vão buscar uma solução política para o assunto.
Exercício de extrusão em hidrelétrica
Como parte integrante da Artilharia Divisionária da 3ª Divisão de Exército na Operação Fronteira Sul, o Pelotão de Operações Especiais (PELOPES) do 27º Grupo de Artilharia de Campanha (27º GAC), "Grupo Monte Caseros", realizou um Exercício de Extrusão na Hidrelétrica de Itá, localizada no limite entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Santana do Livramento (RS) – O 3° Regimento de Cavalaria de Guarda (3º RCG), “Regimento Osorio”, realizou patrulhamento em área rural da faixa de fronteira com sua tropa hipomóvel. O Pelotão de Lanceiros Hipomóvel, do 1º Esquadrão de Lanceiros Hipo, realizou, com a cooperação de policiais militares do 2º Regimento de Polícia Montada (2º RPMon), de Santana do Livramento, patrulhas em área rural na faixa de fronteira entre o Brasil e o vizinho Uruguai, percorrendo mais de 60 quilômetros em estrada de terra, balizando-se pelos marcos de fronteira, nos períodos do dia e da noite. Nesta última, a patrulha foi apoiada por um Grupo de Combate do Pelotão de Operações Especiais (PELOPES) do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea, de Caxias do Sul, que atuou como Força de Reação em face da periculosidade da área, conhecida pelos crimes de abigeato, demonstrando a integração das tropas da Subunidade de Operações Especiais (SUOPES), que prestou o apoio de viaturas e comunicações.
Nota DefesaNet : O Gen Elito ressaltou a integração com as forças militares dos países fronteiriços ao mencionar, que em setembro próximo, tropas dos Exércitos do Brasil e da Argentina realizarão a Operação Guarani, no estado do Paraná.
Entrevista realizada no gabinete do General Elito, no Quartel-general do Comando Militar do Sul. DefesaNet agradece aos Cel Bolze, Ten Cel Candido e Ten Quéli, da 5ª Seção do CMS, pelo apoio à realização da mesma.