Pedro Paulo Rezende
Especial para DefesaNet
A saída da maioria da maior parte do destacamento da Federação Russa da Síria foi um gesto de boa vontade para facilitar as conversações entre a oposição armada e o governo sírio. Segundo uma fonte diplomática de Damasco, a medida foi tomada em acordo entre os presidentes Vladimir Putin e Bashar-al-Assad como uma resposta a gestos de conciliação tomados pelas potências ocidentais.
Durante a breve intervenção de Moscou, iniciada em 30 de setembro de 2015, foram realizadas 9 mil missões de combate em apoio ao Exército Árabe da Síria, colaborando para a retomada de 20 mil quilômetros quadrados de territórios ocupados pela guerrilha e pelo Estado Islâmico, também conhecido como Daesh.
O esforço das Forças Aeroespaciais russas foi acompanhado pelo reequipamento e o adestramento das unidades do Exército Árabe da Síria. A blindagem reativa dos carros de combate T-90U mostrou-se adequada para conter um dos trunfos da insurreição, os mísseis TOW cedidos à insurreição pelos Estados Unidos e monarquias do Golfo Pérsico. Ao mesmo tempo, o fracasso da política proposta pelo presidente norte-americano Barack Obama, de treinar e equipar grupos da chamada oposição moderada, acelerou a dissolução dos rebeldes.
Em reportagem publicada pela insuspeita Voice of America, publicada em 8 de fevereiro (Citing Betrayal, Some Syrian Rebels Withdraw From Front Link), comandantes das milícias antigoverno afirmaram que se sentiam abandonados pelo Ocidente. É preciso ressaltar que foram gastos U$ 600 milhões dos contribuintes estadunidenses para formar apenas cinco milicianos, que se renderam e entregaram seu armamento no primeiro encontro com o Daesh.
Segundo diplomatas sírios, a retirada ordenada por Putin também tem outro objetivo: dar uma clara mensagem de que intervenções militares devem ter um começo, um meio e um fim. Os objetivos russos eram bem determinados: recuperar a posição de Assad, que se encontrava sitiado, restaurar o poder militar do governo sírio, quebrar a base econômica do Estado Islâmico e empurrar, com o emprego da força, a oposição para a mesa de negociações. A ideia, agora, é formar uma frente comum contra as forças remanescentes do Daesh.
As ações desenvolvidas quebraram a espinha dorsal da economia doEstado Islâmico, embasada no contrabando de petróleo iraquiano e do tráfico de antiguidades. Mais de dois mil caminhões tanques foram destruídos cortando as rotas para a Turquia. Adicionalmente, cortaram-se os suprimentos de armas e equipamentos militares para a oposição síria.
Ainda não há um retrato completo da extensão da retirada russa. A Base Aérea de Khmeimim, na província de Lataquia, manterá um número ainda não determinado de aviões e helicópteros de ataque, protegidos por mísseis antiaéreos S-400 e TOR M2 e um destacamento de infantaria. A Base Naval de Tartus, que abriga navios equipados com mísseis de cruzeiro Kalibr, também terá destaque no dispositivo militar remanescente. Uma fonte ouvida por DefesaNet garantiu:
— Se houver necessidade, temos condições de realizar novos ataques a partir da Rússia com o emprego de bombardeiros, mísseis de cruzeiro e aviões de ataque.
No entanto, Vladimir Putin espera não ter de utilizá-los. A aposta, agora, sai das mãos do ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e passa para o xará da pasta de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, um dos mais hábeis diplomatas da atualidade. É uma jogada ambiciosa que envolve a retirada parcial do Hezbolá, um dos trunfos da virada de Assad, e uma atitude mais contida da Guarda Revolucionária do Irã.
Presidente Vladimir Putin, com o ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov, esquerda, e Serguei Shoigu, Ministro da Defesa em reunião no Kremlin antes do anúncio. Foto – Kremlin
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