Reflexões Teóricas Sobre Conflitos Assimétricos:
Parte V – Cavalaria Blindada nos Espaços Confinados
Eduardo Atem de Carvalho, PhD
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Rogério Atem de Carvalho, DSc
Instituto Federal Fluminense
Série Reflexões Teóricas Sobre Conflitos Assimétricos,
Parte I – Introdução ao Momento Atual Link |
Resumo
Os conflitos assimétricos registrados recentemente forçaram o emprego de Carros de Combate (CCs) em áreas urbanas densamente povoadas, o que até então era considerado como um erro tático com consequências graves. Porém, a ausência de CBTPs capazes de sobreviver em áreas infestadas por IEDs e RPGs forçaram a tal. Os CCs sobreviveram ao embate em ambiente confinado, quando empregados simultaneamente (ver trabalhos II e III desta série) com a Infantaria e a Engenharia de Combate, sendo que dos modelos atualmente em uso, o Challenger 2 teve o melhor desempenho de todos.
No momento, diversos países ou grupos de países estudam se vão modernizar os modelos atuais ou desenvolver novos, à luz dos conflitos recentes e em andamento. Estes modelos parecem ter atingido o limite máximo de peso que as linhas de suprimento e transporte conseguem lidar e seu custo já se tornou proibitivo. O tempo de mobilização e transporte das grandes unidades blindadas as tornou de uso muito seletivo. A resposta deverá vir da tecnologia e com isto as prováveis novas gerações de Carros de Combate tenderão a ser algo mais leves que as atuais.
Único dos Carros de Combate atuais a sobreviver aos rigores da guerra assimétrica moderna, o britânico Challenger 2 se tornou um problema logístico para o Exército inglês Foto – MOD UK
INTRODUÇÃO
Diante de um cenário de combate urbano, onde os CBTP (Carro Blindado de Transporte de Pessoal) tradicionais não tem sobrevida longa se viram na contingência de empregar seus CC como veículo de patrulha [1], já que estes eram os únicos veículos em seus arsenais capazes de sobreviver a ataques simultâneos de até dezenas de RPGs e IEDs (Rocket Propelled Grenade e Improvised Explosive Device, respectivamente). Como já citado ao longo desta série de artigos, a menos de Israel e seus CBTP e veículos de Engenharia pesadamente blindados, nenhum outro país tem veículos específicos para o campo de batalha que se descortina no século XXI. O segundo país a se equipar para tal foi a Rússia, foi a família de blindados Armata [2], em especial o T-14, que será objeto de trabalho futuro específico. Este veículo parece ser produto das traumatizantes experiências russas na Chechênia [3].
Recentemente apresentado ao público mundial e ainda em evolução, o T-14 Armata russo já apresenta características da nova geração de Carros de Combate.
Na fase de ocupação do Iraque, após a derrubada de Saddam Hussein, o Exército Americano removeu rapidamente seus caríssimos M2 e M3 do cenário de conflito, já que estas viaturas não suportariam o desgaste, os IED, fogo de RPG ou minas AC. E desta forma, a viatura que os substituiu, o M-113 acabou ficando obsoleta sem nunca ter enfrentado um inimigo de verdade, apesar do alto investimento em projeto e aquisição, ao contrário do seu CC parceiro, o M1A1, que foi empregado em patrulhas urbanas.
O colossal israelense Namer, que alegadamente resiste a todos os projéteis embarcados e mísseis modernos, permitindo à Infantaria da IDF efetivamente combater em cenários assimétricos
A CAVALARIA NA GUERRA ASSIMÉTRICA
NOTA: No Brasil, ao contrário da maior parte dos países, a arma de Cavalaria contém três das quatro formações blindadas que costumam ser armas independentes em outros exércitos. A Cavalaria em si, herdeira das formações leves, de reconhecimento, escolta, fustigamento e exploração em profundidades, conhecida em eras passadas como Hussardos ou Ulanos. Pode ter meios mecanizados (sobre rodas) ou blindados (sobre lagartas) ou mistos (no Brasil, RCMec – Regimento de Cavalaria Mecanizado). Tipicamente, quando servindo à Brigadas de Infantaria, o Esquadrão CMec disponível para o comando da Brigada, tem todos os seus meios sobre rodas. Quando servindo a Bda Cav, esses Esquadrões tendem a ter meios mistos, com Grupo de Exploradores sobre rodas, Seção de Carros sobre lagartas e peça de morteiro sobre rodas. Com a entrada em serviço da família de blindados sobre rodas Guarani [4], todo material CMec deverá ser sobre rodas, nas unidades mecanizadas (Nota – Há estudos conduzido pelo Estado Maior do Exército para reter o Regimento de Cavalaria Blindado na Brigada CMec).
Em alguns países, como a Alemanha, não existem meios mistos, são Armas diferentes. Isto causa grande confusão quando leigos tentam traduzir livros sobre 2a Guerra Mundial ou livros técnicos. E dentro da mesma Cavalaria tem-se a formação de unidades de Carros de Combate (RCC – Regimento de Carros de Combate), contendo apenas CCs, sendo esta formação empregada nas chamadas Forças-Tarefa (FT), que são formações altamente flexíveis, no efetivo e na composição. Descendem dos Cuirassiers ou Courasseiros, a Cavalaria Pesada, da ação de choque, do rompimento da formação inimiga. E por fim tem-se unidades de Cavalaria Blindada (RCB – Regimento de Cavalaria Blindado), que contém igualmente 2 esquadrões de CC e 2 de fuzileiros blindados. São unidades que pertencem às Brigadas de Cavalaria Mecanizada, com meios equilibrados e ideais para desenvolvimento de doutrina e instrução. Descendem, aproximadamente, de uma combinação dos antigos Dragoons ou Dragões, a Infantaria montada – Lancer ou Lanceiros. Desta forma, este artigo ao se referir à Cavalaria Blindada, irá cobrir o que no exterior é conhecido como a arma de Blindados ou aproximadamente “Armoured” ou “Panzer” em língua Inglesa ou Alemã, com cultura diversa da Cavalaria tradicional. Esta classificação histórica está sujeita à contestações também, já que diferentes países adotaram um mesmo título para formações com diferentes características e missões [5].
O Esquadrão de Carros de Combate
O esquadrão de Carros de Combate isoladamente não seria, até o advento das guerras assimétricas contemporâneas, a formação escolhida para o patrulhamento de áreas urbanas dominadas por uma força adversária, nem mesmo em um conflito tradicional. Porém, o uso maciço de RPGs, combinado com IEDs e mesmo mísseis AC de gerações antigas, tornou o ambiente urbanos totalmente inóspito para os CBTPs e outras viaturas existentes, a menos dos descritos no segundo trabalho desta série [6].
Desta forma, o único tipo de veículo com couraça capaz de sobreviver aos repetidos ataques destas armas e ainda ser capaz de interditar e negar o livre movimento do inimigo é o CC. Pelo menos até que uma nova geração de CBTPs ou MRAPs [7] possa vir a substitui-los. A ideia de manobrar efetivos blindados nos espaços confinados e expostos de uma área urbana em ruínas causa calafrios em qualquer estado-maior, mas o desenvolvimento de novas técnicas de emprego, a presença da Engenharia de Combate moderna e novos sensores embarcados, como os térmicos diferenciais, em conjunto com a atuação de Forças Especiais, têm permitido à força blindada sobrevida sem maiores perdas neste ambiente.
Existe porém uma enorme desvantagem nesta solução e que a torna emergencial: sendo os CC os itens terrestres mais caros no inventário de um exército, sua prematura fadiga, em operações de ocupação e patrulha, pode ser considerada como de alto custo. Sua manutenção exige do Serviço de Intendência e da Arma de Material Bélico uma dedicação quase que exclusiva, podendo causar o comprometimento do bom andamento da operação, como recentemente descobriram os britânicos no Iraque, onde os custos associados com o emprego da força de CCs Challenger 2 ocasionou gastos inesperados e uma taxa de ocupação da linha de suprimentos de cerca de 70%. Os CCs que deveriam ser uma reserva de pronto emprego, acabaram sendo usados cotidianamente, sofrendo desgaste acelerado.
Tupi, um dos candidatos a MRAP (Mine Resistant Ambush Protected)
do Exército Brasileiro
OS CARROS DE COMBATE ATUAIS NA GUERRA ASSIMÉTRICA – LAGARTAS
a) Challenger 2 (UK)
Considerado por muitos analistas como o mais poderoso CC jamais fabricado, somente existe registro de danos causados por qualquer ação ou arma inimiga em dois destes veículos ingleses, ambos por IED, e em modelos mais antigos, sem proteção extra na parte inferior. Evolução do Challenger 1, que por sua vez descendeu diretamente do projeto do MBT Osório brasileiro [8], esses gigantes tem o mais poderoso canhão já instalado em um CC, bem como a blindagem composta mais resistente (Primeiro a família Chobham, depois Dorchester), com alcance operacional de 450 km, tinha peso básico 62.5 ton, mas ao longo dos anos e com adição das placas extras de blindagem composta, superposta à de “gaiola”, chegou a atingir, pronto, 75 ton. Seu canhão de 120 mm raiado consolidou a reputação ao atingir e destruir, em 1991, um T-62 iraquiano a 5.110 m, usando munição de urânio empobrecido, em tiro estático de posição elevada, executado por um Challenger1, do King's Hussars.
Na versão 2, patrulhando o Iraque, um exemplar foi atingido por cerca de 70 RPG em uma emboscada e retornou à base sem perda de funcionalidade. Porém, embora tenha resistido a tudo que o inimigo lançou sobre ele, seu custo de manutenção alto chegou ao ponto em que 70% do orçamento da operação tinha relação com o transporte, manutenção, abastecimento e recuperação da frota de CC britânicos, comprometendo a operacionalidade da Força Expedicionária, ainda mais em tempos de orçamento reduzido. O emprego de CC aonde se devia usar blindados específicos de transporte de Infantaria, drenou recursos. As características necessárias dos blindados empregados para patrulha em conflitos assimétricos modernos foi discutido do trabalho II desta série.
b) M1A1 (USA)
Foi concebido, para lutar contra a massa de blindados do Pacto de Varsóvia na Europa e entrou em serviço em 1983. Com a queda do Muro de Berlim 6 anos depois, seu cenário de emprego desapareceu, sua opção por turbina de helicóptero ao invés de motor diesel como unidade propulsora, adequada ao cenário europeu de uma gigantesca ação defensiva, tornou-se um problema sem solução, já que oferece apenas cerca de 160 km de raio de ação. Sua blindagem original era ineficaz, apesar do peso de mais de 65 ton e sua versão mais moderna recebeu blindagem extra de origem britânica e precisou receber extensas modificações para poder operar no ambiente de deserto. Os Marines resistiram em receber as unidades oferecidas pelo US Army, devido ao peso 50% superior ao M60 empregado pela tropa naval, e continuam em busca de uma solução para a substituição de seus CCs. Atualmente, os M1A1 pesam 70 ton em ordem de combate [9].
M1A1 do Exército americano, equipado com dispositivo removedor de minas
terrestes e IEDs. 5% de toda a frota foi perdida no Iraque
c) Merkava 4 (Israel)
Considerado o CC com a maior proteção blindada de todos, o Merkava ainda conta com o motor na frente, provendo um arco frontal basicamente impenetrável por armas cinéticas ou químicas (ver trabalho II desta série). Tem um projeto único, que atende às dimensões reduzidas do país e as curtas distâncias entre as áreas de concentração e linhas de contato. Nas suas primeiras versões era relativamente lento, porém se considerava que isto não afetava sua performance, dado o que foi supracitado, além de não levantar nuvens de pó fino, que tudo destrói, sempre presente naquela região.
Tem capacidade de abrigar emergencialmente tropas de Infantaria, que podem embarcar por uma rampa bi-partida traseira. Participa ativamente de combates e conflitos de natureza assimétrica, tendo morteiro de 60 mm na torre, à disposição do comandante do CC. Também é capaz de dar combate a qualquer combate blindado clássico. Pesa cerca de 65 ton [10].
A extraordinária inclinação da torre do Merkava 4 garante, junto com sua
blindagem composta, um arco frontal basicamente impenetrável
c.1) Pere
Embora não possua relação com o Merkava, cabe aqui considerar este modelo sui generis sob aspectos técnicos e operacionais. Seus detalhes foram mantidos em segredo por 33 anos, tendo sido revelado muito recentemente: o Pere (Selvagem) é um M60 transformado em lança-mísseis Spike (Tamuz no Exército de Israel), operado pelo Corpo de Artilharia, cujo objetivo é, ao se infiltrar em colunas de CC “comuns”, evitar que o inimigo notasse sua presença e fazer fogo a uma distância bem maior do que a esperada (a de armas de tubo), tirando de combate prematuramente parte dos CC adversários. Esse projeto se iniciou em 1982 após a percepção, durante a Guerra do Yom-Kippur, de que os blindados russos dos países árabes superavam os de origem americana de Israel. Até 2005, o modelo foi mantido fora de operações reais, aguardando em segredo um conflito de grande porte entre blindados, porém, a crescente equipagem com os Merkava fez com que o fator surpresa deixasse de fazer sentido nesse.
Assim, o Pere passou a ser empregado em conflitos assimétricos, tendo disparado 527 mísseis durante a Segunda Guerra do Líbano, durante a Operation Cast Lead, e na recente Operation Protective Edge e em atritos esparsos na fronteira com a Síria [11]. Tripulado por 4 combatentes e com um lançador escamoteável para 12 mísseis, possui apenas o tubo do canhão, para manter a aparência externa de CC. Originalmente com 8km de alcance, o Spike atualmente alcança 30km, daí sua operação por artilheiros, que podem desviar o míssil durante seus 40 a 60s de voo, caso o alvo saia da visada, de maneira a impedir danos colaterais, ação comum em conflitos assimétricos [12].
O ultra secreto Pere, recentemente revelado ao mundo, cuja missão consiste
em destruir outros blindados a distancias de até 30 km. Em conflitos
assimétricos, foi empregado como destruidor de posições fortificadas
d) T-90 (Rússia)
Uma modernização do T-72 como resposta russa à terceira geração de MBTs ocidentais, pesa cerca de 48 toneladas. Possui um canhão de 125mm de alma lisa, um novo motor, visores termais e blindagem reativa composta por aço, compósitos e Kontakt-5. Entrando em serviço em 1995, o T-90 custa entre $2.77 e $4.25m por unidade e vem equipado com um sistema de proteção em três níveis: compósito na torre, Kontakt-5 ERA e a suíte de contramedidas Shtora-1.
Sua mais recente versão, a T-90M, apresenta nova blindagem reativa explosiva, torre melhorada, novo canhão e novos sistemas de visão termal supridos pela Thales [13]. Como nota de experiência em guerras assimétricas, durante a Segunda Guerra da Chechênia, após as fatídicas experiências com os T-80, que eram facilmente imobilizados por disparos de RPG-7 nas lagartas e motores, os russos passam a empregar o T-90, havendo relato de um destes blindados que resistiu a sete disparos desta munição e permaneceu em combate [3].
Seguindo a tradição, que remonta ao T-34, seu perfil e pesos são relativamente
baixos, porém conta com poderosa blindagem e canhão de 125 mm
BLINDAGEM – ALGUNS COMENTÁRIOS
Os CCs contemporâneos apresentam como defesa passiva uma combinação de diferentes tipos de blindagens, que podem ser agrupadas em dois tipos básicos, como se seguem. Inevitavelmente, um CC terá a estrutura básica de aço, capaz de resistir à penetração por projéteis cinéticos no arco frontal e depois receberá camadas de placas de compósitos cerâmicos que irão deter os ataques por ogivas de carga oca. Recentemente, placas extras em formato de “V” bem aberto, foram adicionadas ao fundo dos CCs, como forma de proteção adicional contra IEDs. Como as placas cerâmicas se quebram quando são atingidas, perdendo progressivamente eficiência, os diversos movimentos de resistência passaram a disparar dezenas de RPG sobre a mesma região do veículo, tentando vencer a barreira de proteção cerâmica. Uma das soluções encontradas foi a chamada Blindagem Gaiola.
Esta blindagem, surgida do Vietnam para proteger barcos da US Navy patrulhando o Delta do Mekong, é capaz de causar a detonação da ogiva das RPG e assemelhadas longe do casco do CC, impedindo a penetração do mesmo. É capaz também de causar curto-circuito em ogivas mais sofisticadas. O preço pago pela adição destas proteções extras tem sido da ordem de 12 – 16 ton por viatura, elevando o peso total em ordem de batalha de alguns CC, como o Challenger 2, para cerca de 75 ton.
Barreira à Penetração Cinética
Os penetradores cinéticos, como seu nome diz, baseiam seu poder destrutivo na velocidade com que atingem o alvo e na resistência mecânica do penetrador. Funcionam com as mitológicas flechas, atravessando a blindagem, podendo sofrer ignição pelo uso urânio empobrecido (o chamado Efeito Pirofórico) e estilhaçamento, o que, ao atravessar as paredes do alvo, causa a morte ou ferimentos graves à guarnição pelas ondas de choque que gera junto com os projéteis secundários. A principal barreira que se conhece são os aços balísticos, que sofrem laminação a quente e são dispostos de maneira inclinada na frente do carro. Podem receber diversas camadas com espaçamento entre elas e adição de novas camadas. O aço representa uma barreira física à penetração dos projéteis cinéticos e são selecionados aqueles que apresentam as mais altas resistências mecânica e contém Níquel, Cromo e Molibdênio. Os tratamentos térmicos posteriores são tratados como segredo industrial.
Barreira à Penetração Química
Os penetradores químicos atuam baseados em reações químicas, tendo seu alto poder destrutivo geralmente na forma de explosivos em formato de carga oca (os RPGs, mísseis AC, projéteis HEAT etc…) ou nos já defasados formatos deformáveis dos projéteis HESH. De uma forma resumida, pode-se dizer que as ogivas de carga oca detonam, gerando um jato estreito e focado de Cobre em altíssima velocidade e temperatura. Este jato se mantém letal por relativamente pouca distância e todo o esforço protetor é feito para “desfocar” e desconcentrar o jato, através de uso de barreiras compostas cerâmicas ou de outras combinações de materiais, que ficaram conhecidas do grande público como “blindagens cerâmicas”. São superpostas à proteção cinética, uma vez que não apresentam bom resistência ao impacto. Tendem a ser mais leves, porem mais volumosas que as placas de aço adicionais.
OS CARROS DE COMBATE DA PRÓXIMA GERAÇÃO
Alguns países já iniciaram discussões e estudos, em face da nova realidade, de conflitos assimétricos, onde o chamado lado “fraco” dispõe de recursos tecnológicos de comunicação e emprego tático jamais vistos. Existe também a séria possibilidade de em uma mesma grande operação, parte do inimigo se apresentar lutando de forma convencional, organizada e parte de forma dita assimétrica, cabendo à força “forte” ou “azul” se adaptar continuamente aos dois cenários. Desta forma, a definição entre manter os atuais CC, aplicando-se novas camadas de blindagem, ou substituindo-se as antigas por compostas mais modernas, ou partir para modelos totalmente novos, bem mais leves, protegidos por sistemas anti-balísticos controlados por Inteligência Artificial, não parece ainda ter sido atingida em nenhum dos países que anunciaram ter intenção de criar novas famílias de blindados.
Existe um grande alarido nos fóruns especializados sobre painéis que podem ser programados para assumir a temperatura do meio ambiente, de forma a reduzir sua assinatura térmica, uma versão avançada de uma espécie da capa apresentada por uma empresa sueca, anos atrás. Outros apostam em novas cerâmicas, que seriam capazes de dissipar o efeito das novas cargas ocas presentes nos mísseis e foguetes de última geração.
Abaixo seguem alguns dos novos modelos, dos que podem ser localizados em rápida busca, sem porém desprezar o esforço de indianos, chineses, coreanos etc…
a) T-14 ARMATA
Recém apresentado no tradicional desfile de 1o de Maio, na Praça Vermelha, é parte de uma família que se pretende completa [14]. Não se sabe ainda muitos dos detalhes, além dos divulgados pelo fabricante e pelo site Jane's Report [15]. Pela soma das informações das referências anteriores e mais as fotos divulgadas, é possível fazer algumas especulações, como uma torrre totalmente automatizada, um chassis isolado desta com os três tripulantes (Comandante, Atirador e Motorista) sentados à frente dentro de uma “banheira” blindada e a presença, ou pelo menos previsão, de uma grande quantidade de sensores, inclusive radares, e grande integração entre as unidades individuais os centro de comando e controle via recursos de Network Centric Warfare (NCW). A família “Armata” deverá também contar com um sistema contra munições anti-carro conhecido como ARENA.
b) Futuro CC Franco-Alemão
Mais uma vez surge um pré-consórcio europeu, mas cabe lembrar que a França anteriormente abandonou diversos projetos conjuntos em um dado ponto. Do lado alemão a discussão se encontra no ponto onde se estuda se vale à pensa reformar os atuais Leopard 2 para um modelo próximo ao conceitual “Evolution”, ou se um novo projeto deve ser desenvolvido [16], existindo inclusive a discussão sobre o emprego de um canhão de 140 mm ou mesmo maior. Sabe-se que o canhão de 120 mm original, mais curto, disparando munição cinética com núcleo de tungstênio não consegue penetrar o arco frontal dos CC russos de última geração. Mesmo com o novo tubo de canhão, mais longo, a dúvida persiste. Entre os militares alemães existe a convicção que só a munição à base de urânio empobrecido consegue vencer a blindagem russa, mas a coligação política ora no poder na Alemanha é contra este tipo de munição por alegadas questões ambientais, mesmo com todas as implicações possíveis [17]. (Nota DefesaNet – nos anos 90 o especialista inglês, Richard Ogorkiewicz, já alertava que as munições ocidentais não conseguiam perfurar as últimas gerações de blindagem soviética).
c) CC Israelense
Em Israel existe um grande debate sobre se existe a necessidade de mais carros de combate, se vale à pena fazer upgrade nos Merkava IV, tornando-os em uma versão “V”, ou se um novo modelo deve ser desenvolvido [18]. Um dos novos sistemas propostos para ser empregado no novo CC, seja ele qual for, é o Trophy, da Elbit, que já foi testado em 2014 em algumas incursões em Gaza, durante a Operação Protective Edge. Este sistema, porém, desperta polêmicas intensas dentro do stablishment militar israelense. A razão é a que se segue: a base do sistema são tubos como espingardas de grosso calibre, que lançam centenas de esferas de aço na direção da ameaça detectada, causando sua destruição. A detecção é feita por sensores tipo radar, que devem ser programados cuidadosamente para separar uma granada tipo RPG de um infante correndo ao lado e decidir, sem a intervenção humana e em milésimos de segundo, se dispara ou não. A calibração da sensibilidade do sistema é crucial e a possibilidade de falha do sistema assusta os militares mais tradicionalistas, pouco impressionados com o desempenho típico de sistemas deste tipo mundo afora.
Por outro lado, não há como humanamente identificar, decidir, apontar e disparar qualquer arma em tempo tão curto, fazendo com que a polêmica entre a possibilidade de fraticídio e a ineficiência continue [19]. Caso este sistema se revele capaz de deter munições de baixa velocidade (excluindo as de penetração cinética), o novo modelo de CC deverá ter sua blindagem reduzida para as combinações de camadas de aço balístico e nova ligas metálicas. Outra possibilidade é o sistema ainda em fase embrionário chamado Iron Fist, da IAI, e que seu fabricante alega ser capaz de deter munições cinéticas também [20].
CONCLUSÕES
É possível usar CCs em ambientes urbanos densamente povoados, embora como solução emergencial e de forma cuidadosa, com apoio direto da Engenharia de Combate e em operações conjuntas com Forças Especiais. O uso prolongado desta máquinas em patrulhamento causa inevitavelmente um aumento exponencial nos custos da operações, põe todo o aparato logístico mobilizado para esta atividade e pode acabar comprometendo a vida útil de um material prioritário. Para tal, portanto, indica-se o emprego de CBTPs ou MRAPs.
Uma conclusão importante, mas ainda ser coloca à prova é que a adoção de sistemas ativos de defesa contra munições de baixa velocidade irá permitir o surgimento de novas gerações de CCs com peso menor e portanto mais fáceis de serem transportados por meio naval, ferroviário ou rodoviário, desta forma resgatando ou mantendo a capacidade expedicionária das Grande Unidades Bld.
Referências Bibliográficas
[1] – http://archive.marinecorpstimes.com/article/20101119/NEWS/11190316/Corps-deploy-M1A1-tanks-Afghanistan
[2] – http://www.defesanet.com.br/tank/noticia/19024/RUSSIA—Ministerio-Defesa-apresenta-fotos-Detalhadas-Equipamentos/
[3] – Galeotti, M. Russia's War in Chechnya: 1994-2009, Osprey Publishing, 2014, pp.58.
[4] – http://www.defesanet.com.br/guarani/noticia/20565/Projeto-Guarani-–-Dez-Anos-/
[5] – http://www.napolun.com/mirror/napoleonistyka.atspace.com/Russian_cavalry.htm
[6] – http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/19733/Reflexoes-Teoricas-Sobre-Conflitos-Assimetricos–Parte-II-––o-Grupo-de-Combate-de-Infantaria-Blindada-e-seus-Meios/
[7] – Guardia, M., US Army and Marine Corps MRAPS, Osprey Publishing, UK (2013).
[8] – Dunstan, S., Bryan, T., Challenger 2 Main Battle Tank 1987-2006, (New Vanguard), Osprey Publishing, UK (2006).
[9] – Verlinden, F., M1, M1IP, M1A1 Abrams Main Battle Tank (Warmachines, No. 6), Verlinden Publications, US (1991).
[10] – Gelbart, M., Bryan, T., Modern Israeli Tank and Infantry Carriers 1985-2004, (New Vanguard), Osprey Publishing, UK (2004).
[11] – Rojkes-Dombe, A., “The Pere Tank is Exposed”, Israel Defense, No. 28, September-October 2015.
[12] – http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/20459/Reflexoes-Teoricas-Sobre-Conflitos-Assimetricos—Parte-IV-–-Artilharia–a-Arma-Precisa/
[13] – http://www.militaryfactory.com/armor/detail.asp?armor_id=161
[14] – http://www.defesanet.com.br/tank/noticia/19024/RUSSIA—Ministerio-Defesa-apresenta-fotos-Detalhadas-Equipamentos/
[15] – http://www.janes.com/article/52464/russia-s-t-14-armata-mbt-has-new-gen-era
[16] – http://www.janes.com/article/51850/germany-looks-towards-leopard-2-replacement
[17] – http://www.defesanet.com.br/tank/noticia/18997/Bundeswehr-–-A-Necessidade-de-Municao-DU-para-Carros-de-Combate/
[18] – Isreal Defence Staff, “The future Combate Vehicle is Materializing”, Israel Defense, No. 26, May-June 2015.
[19] – https://en.wikipedia.org/wiki/Trophy_(countermeasure)
[20] – http://www.israeldefense.co.il/en/content/active-protection-any-cost?