Auro Azeredo
Coordenador
CSTA- Comitê de Simulação e Treinamento da ABIMDE
Estar na IITSEC é por sir só uma fantástica experiência no mundo da simulação e do que há de melhor em tecnologias para formação e capacitação militar, seja em defesa ou segurança pública.
Não é por acaso que anualmente este evento se repete na capital mundial do entretenimento: Orlando (EUA), que recebe milhões de visitantes todos os dias do ano para brincarem em seus parques, que colocam a disposição, simuladores de toda espécie, imergindo crianças e adultos num mundo de fantasias e aventuras de forma segura, barata e muito divertida.
A simbiose entre o mundo do entretenimento e seu emprego profissional é intensivamente explorado, uma vez que a criatividade dos produtores dos estúdios locais aliado aos técnicos de simulação, fazem disto um negócio que movimenta bilhões de dólares ao ano.
O mercado de simulação e treinamento militar movimenta cerca de Us$ 10 bilhões ao ano apontando um crescimento para Us$ 15 bilhões nos próximos 10 anos, onde só as forças armadas norte americanas estão prevendo investir cerca de 1% do seu orçamento, neste mesmo período com o uso destas tecnologias. Não é pouca coisa, se considerarmos que estão previstos para 2016 e 2017 no orçamento da defesa cerca de Us$ 548 bilhões e Us$ 551 bilhões respectivamente.
Observou-se que o treinamento intensivo, usando dispositivos de simulação é extremamente eficaz e de baixíssimo custo, se comparado com seu emprego real, considerando o nível de tecnologia embarcada nos equipamentos de defesa e das possibilidades para o seu efetivo emprego nas missões de caráter tático e operacional.
Para uma melhor compreensão do que trata o mercado Treinamento e Simulação é importante alinharmos alguns conceitos, a saber:
Treinamento: é todo emprego de meios necessário para transferência de conhecimento essencial para o uso dos recursos para defesa, de forma que seja controlado, tanto seu acesso as aulas em multimídia digital (CBT – Computer Based Training), com auto grau de interatividade (Serious Game), como também a gestão do aproveitamento do aluno (LMS- Learning Management Systems).
Por exemplo: Transmitir conceitos, conhecimentos e procedimentos de sobrevivência e primeiros socorros em situações adversas, ou um curso de Ground School de uma aeronave, onde se explana sobre todas suas características técnicas, sabendo quando o aluno realizou aquela aula, qual foi seu aproveitamento e seus pontos fracos e fortes na sua realização.
Simulação: é todo dispositivo que permite representar a mesma operação de algum equipamento real, dotando-o de meios (tecnologias) que possibilitem ao seu operador ter as mesmas sensações, como se estivesse operando num contexto real.
Para tanto classificamos a simulação em três categorias conhecidas como LVC (Life, Virtual and Constructive):
VIVA: Aquela em que o operador utiliza equipamento de simulação em um ambiente real.
Ex: Simulação de operação de uma companhia do exército em território de combate, onde as armas utilizadas possuem recursos tecnológicos de disparos a lazer, mas com as mesmas sensações de som e recuo tal como munição real.
VIRTUAL: Onde o operador utiliza equipamento de simulação em um ambiente virtual que pode ser representativo de um mundo real ou não.
Neste caso temos duas categorias:
– Treinadores: são basicamente recursos que buscam reproduzir os equipamentos reais buscando apenas apresentar suas características operacionais sem priorizar suas características funcionais.
– Simuladores sintéticos: o simulador como o próprio nome já diz, busca representar todas as características do equipamento real com a maior acuracidade possível, dotando os dispositivos de todas as tecnologias necessárias para gerar a maior imersão do usuário tanto quanto possível e na melhor relação custo/benefício.
CONSTRUTIVA: Trata da simulação voltada a inteligência (Comando e Controle) à ser empregado nos ambientes de defesa, segurança ou defesa civil, onde os vetores atuantes (soldados, tanques, veículos etc.) possuem características comportamentais especificas e estas são reproduzidas em um ambiente virtual (planta da região) com base nas decisões dos comados que são empregados
A IITSEC deste ano reuniu mais de 14 mil inscritos, incluído nesse total:
· 3.550 delegados da conferência
· 6.000 pessoal de exposição
· 4.850 visitantes de exposição
· 500 empresas expositoras em 394 exposições
· 1.850 inscritos internacionais de 60 países
Conforme declaração do presidente da NTSA (National Training and Simulation Association) organizadora da IITSEC, Sr. James Robb, (militar da Marinha Norte Americana – Reserva):
– “2015 está provando ser um ano de impulso considerável em todo o espectro de atividades e eventos da NTSA. Esta é uma evidência, creio eu, de um maior reconhecimento entre muitas partes interessadas na importância crítica de modelagem e simulação em muitas áreas vitais.”
Enquanto os orçamentos gerais continuam a estar sob pressão, é evidente que todos os serviços estão se concentrando em maneiras de melhorar a incorporação de ambientes virtuais em planos de campanha de treinamentos futuros.
O interesse crescente no treinamento e simulação foi evidente tanto na participação de membro quanto na participação da indústria. Vários congressistas falaram, enfatizando a importância de capitalizar sobre os avanços na modelagem, simulação e ciência IT para melhorar a segurança nacional.
Outro destaque foi para importância de se observar a gestão do ciclo de vida dos dispositivos de treinamento e simulação, uma vez que a evolução tecnologia é extremamente pujante e que envolvem altos custo de investimento, demonstrando uma forte tendência para contratação de serviços e não mais a compra de produtos, em face a rápida tendência de obsolescência e custos elevados de atualização/manutenção se considerado sua escalabilidade (quantidade de horas de uso/ano) quando se refere ao contexto militar.
A adoção de padrões de interoperabilidade entre ambientes de simulação foi outro ponto muito explorado nas mais de 200 conferências realizadas nas 40 salas preparadas para receber até 60 participantes simultaneamente, que também abordaram diversos temas das mais de 50 especialidades da simulação e treinamento.
Desta forma integrar diferentes ambientes de simulação (LVC) passou a ser uma das principais demandas das Forças Armadas Norte Americanas e dos países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o qual formaram um grupo de trabalho denominado NMSG (NATO Modeling and Simulation Group) que aprovou recentemente o primeiro Plano Diretor de Trabalho, que definirá os padrões a serem adotados entre as Forças participantes, além de incluírem os dispositivos de simulação em seu catálogo de produtos.
Nossa indústria local de simulação e treinamento se fez presente no estande do Brasil, único representante da América Latina, patrocinado pela APEX, que se mostrou sensível à importância deste evento para obtenção de relevantes resultados econômicos não apenas voltado para exportação de produtos e serviços, mas principalmente atraindo investimento de empresas estrangeiras que desejam participar do mercado brasileiro, haja vista a enorme vantagem competitiva que possuímos em função do dólar tão valorizado (4:1), nossa qualidade de mão de obra e ambiente sinergético com os países sul americanos e africanos.
Pode parecer pouco, mas os avanços tecnológicos são enormes e estar na onda destes avanços pode representar, não apenas uma expressiva economia para o preparo de nossas Forças Armadas e Segurança Pública, como principalmente a ampliação da qualidade no preparo de seu efetivo, com mais segurança e eficiência no emprego de doutrinas adequadas aos novos vetores a serem incorporados à infraestrutura de suas operações.
O CSTA – Comitê de Simulação de Treinamento da ABIMDE (http://cstabimde.wix.com/csta), promove vários eventos institucionais junto as Forças Armadas e órgão de Segurança Pública visando um melhor alinhamento cultural no emprego das tecnologias disponíveis no mercado, além de buscar um entendimento comum de padrões e técnicas à serem empregadas nos programas e projetos previstos no PAED (Plano de Articulação e Equipamento de Defesa).
Nota DefesaNet:
Em setembro de 2015 o Defesanet acompanhou a Operação Centauro, onde o Exército realizou com sucesso a integração dos três tipos de Simulações; virtual, construtiva e viva, em manobra realizada no interior do Campo de Instrução Barão de São Borja (CIBSB) – Saicã, em Rosário do Sul/RS.
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