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Aviação global se recupera, mas Brasil é exceção

João José Oliveira


A aviação brasileira estará na contramão do setor em 2016. Enquanto no mundo, a maioria das companhias aéreas globais vai transportar mais pessoas, cobrar menos pelas passagens e, ainda assim, capturar lucros maiores – graças ao petróleo mais barato, que reduz custos -, no Brasil haverá menos gente voando por causa da recessão, os prejuízos serão inflados pelo dólar valorizado, e os bilhetes tendem a ficar mais caros porque as empresas vão cortar parte da oferta.

Segundo projeções atualizadas pela Iata este mês, a demanda pelo transporte aéreo global em 2016 vai aumentar 6,9% em número de passageiros ante 2015, um ritmo superior à expansão de 6,7% apurada este ano.

Apesar disso, a receita das companhias aéreas no mundo vai avançar a um ritmo mais moderado, de 0,9%, para US$ 717 bilhões, por causa do barateamento das passagens. Em média, o yield – quanto cada pessoa embarcada paga para voar um quilômetro – vai cair 5% em 2016, após um recuo que já foi de 18% em 2015. "A queda dos preços do petróleo e o aumento de demanda estão permitindo às companhias cobrarem tarifas mais baixas por causa da escala", disse o economista chefe da Iata, Brian Pearce.

Além da maior escala, as aéreas terão a ajuda do combustível mais barato. O petróleo, que representa perto de 40% dos custos operacionais da aviação, deve seguir em 2016 cotado ao redor de apenas um quinto das cotações de 2014.

Por isso, as aéreas vão lucrar mais em 2016. O ganho líquido somado do setor vai atingir US$ 36,3 bilhões, segundo a Iata, ou 10% mais que em 2015. Esse ganho vai garantir uma margem em relação ao lucro antes de juros e impostos – a chamada margem Ebit – de 8,2%. A melhor rentabilidade desde 2000, antes do ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, que afetou a demanda global pela aviação.

"A indústria aérea vai entregar em 2016 a seus acionistas um desempenho financeiro e operacional sólido. Ao mesmo tempo, os passageiros vão se beneficiar de tarifas mais competitivas e de investimentos em produtos. Os níveis de emprego no setor também vão crescer", disse o presidente da Iata, Tony Tyler, durante encontro anual da entidade, este mês, em Genebra, na Suíça.

Mas ele alertou que essa não é a realidade do Brasil. Muito pelo contrário. "Apesar das tarifas já muito achatadas, o crescimento não ocorre", disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, os preços das passagens tiveram queda de 38,16% no acumulado do ano até novembro. "O resultado atual já ruim vai piorar ano que vem".

A demanda pelo transporte aéreo doméstico no Brasil nos onze primeiros meses de 2015 ainda resiste com uma variação positiva, de 1,4%, segundo levantamento da Abear. Mas esse quadro foi construído no primeiro semestre. Após quatro retrações mensais seguidas – de 0,6% em agosto, de 0,8% em setembro, de 5,7% em outubro e de 7,9% novembro -, a curva passou a apontar encolhimento em 2015. O que não acontecia no Brasil desde 2003. "A recessão e a crise política levaram o setor a regredir anos" afirmou Sanovicz.

Ontem, a Agência Nacional de Aviação Executiva (Anac) apresentou dados semelhantes: demanda doméstica em retração de 7,5% em novembro e leve expansão de 1,5% no acumulado do ano.

Em 2016, a recessão econômica e desvalorização do real, já superior a 50%, devem corroer ainda mais as receitas e inflar despesas das companhias aéreas brasileiras por pelo menos mais seis trimestres, calculam TAM, Gol, Azul e Avianca.

Enquanto no mundo as empresas aéreas comemoram o aumento da rentabilidade, no Brasil os prejuízos já ultrapassam R$ 4,2 bilhões em 2015. Isso sem contabilizar os últimos meses do ano.

De janeiro a setembro, a líder TAM acumulou prejuízo de US$ 171,6 milhões. A Gol, segunda maior do mercado, perdeu R$ 3,2 bilhões no período. Azul e Avianca, que só apresentaram resultados até junho, acumularam no primeiro semestre perdas de R$ 236,7 milhões e R$ 38,6 milhões, respectivamente.

Em entrevista ao Valor este mês, a presidente da TAM, Claudia Sender, afirmou que os "yields" [quanto cada passageiro paga em média para voar um quilômetro] estão em patamares muito baixos, o que fará a indústria tentar recompor preços, com redução da oferta de assentos. A TAM cortou a capacidade em 10% no Brasil neste segundo semestre e vai reduzir mais 9% em 2016.

Ao mesmo tempo, sua controladora Latam vai reduzir em 40% os investimentos em frota no período de 2016 a 2018 para economizar US$ 3 bilhões e preservar caixa, de US$ 1,6 bilhão.

A Gol também vai cortar oferta em 2016 e adiar o recebimento de onze novas aeronaves que deveria receber ano que vem. A Boeing vai enviar ao Brasil quatro novas aeronaves para a Gol, em vez das 15 planejadas. O restante, apenas após 2017.

Claudia Sender, da TAM, diz que o impacto da crise brasileira só não será maior porque a empresa faz parte de um grupo continental, a Latam, que está crescendo em outros mercados, como Colômbia, Peru e Chile.

De fato, segundo a Iata, a aviação na América Latina terá um lucro acumulado em 2016 de US$ 400 milhões, após fechar 2015 com perdas de US$ 300 milhões. Isso porque LAN, Copa Airlines, Aeromexico e Avianca Colômbia influenciam positivamente os números. Já TAM, Gol, Azul e Avianca jogam os indicadores para baixo.

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