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CHINA – Demissões e protestos provocam temores de agitação social

 
Mark Magnier, de Shenzhen, China
Com Per Li


A jornada de Li Jiang desde os campos de arroz do interior da China até um dormitório de concreto dividido por vários homens foi repetida um milhão de vezes por trabalhadores em busca de um pedaço do sonho chinês.

Para Li, esse sonho evaporou em outubro. Depois de dez anos trabalhando na Fuchang Electronic Technology Co., em Shenzhen, a fabricante de carcaças de celulares e conversores de TV fechou as portas, deixando Li e cinco de seus familiares sem emprego. Em uma nota na porta da fábrica, a Fuchang culpou o crédito limitado e sua própria má administração pelo fechamento.

Sem nenhuma informação sobre indenizações, Li e cerca de mil funcionários da Fuchang foram para as ruas. No dia seguinte, três mil fizeram uma manifestação, dizem trabalhadores e ativistas de defesa dos direitos trabalhistas. “Fiquei pedindo para as pessoas aderirem”, diz Li, que tem 30 anos. “Quanto mais [gente], melhor para ganharmos força.”

O protesto de Fuchang é parte de uma nova onda de conflitos trabalhistas que está afligindo a China, maior e mais furiosa que as anteriores, dizem especialistas do trabalho.

A China Labour Bulletin, organização civil de defesa dos trabalhadores sediada em Hong Kong, informa que as greves e protestos trabalhistas em toda a China quase dobraram nos primeiros 11 meses deste ano, para 2.354, comparado com o mesmo período de 2014. O Ministério do Trabalho da China informa que 1,56 milhão de casos de disputas trabalhistas foram aceitos para arbitragem e mediação em 2014, ante 1,5 milhão em 2013.

Por trás dos conflitos está uma economia se desacelerando mais rapidamente do que o governo esperava, provocando demissões e fechamentos de fábricas. Economistas dizem que a China vem penando para atingir a meta de crescimento de cerca de 7% em 2015, o que já seria a menor alta em 25 anos, e a maioria prevê um crescimento ainda menor em 2016. O presidente da China, Xi Jinping, e líderes do Partido Comunista acabam de definir um mapa para atacar a desaceleração no próximo ano, reconhecendo que a economia enfrentará um longo período de estagnação. Reduzir a capacidade industrial é uma prioridade do plano, além de estimular o mercado imobiliário e diminuir os custos das empresas, segundo comunicado divulgado pela agência estatal ontem, ao fim da reunião de cúpula do governo.

A China não divulga estatísticas sobre o fechamento de fábricas. O número de fábricas pertencentes a empresas de Hong Kong no sul da província de Guangdong (Cantão), onde Shenzhen está localizada, caiu 35% em 2013 ante o pico de 2006, para 32 mil, segundo uma análise que Justina Yung, da Universidade Politécnica de Hong Kong, fez para a Federação das Indústrias da ilha.

Para operários como Li, tal cenário representa o fracasso de uma promessa, o desgaste de um pacto social na China sob o qual os migrantes aceitavam turnos extenuantes de trabalho e condições de vida espartanas longe de casa em troca da perspectiva de um futuro melhor.

“Os migrantes realmente ajudaram a construir a China, mas nossos direitos não estão protegidos”, diz Li. “Nós somos discriminados e a riqueza na sociedade não é bem distribuída”, acrescenta.

No fim, a Fuchang ofereceu a Li e outros operários um acordo parcial e os protestos se abrandaram. Mas a amargura não está se dissipando. Alguns operários estão levando a Fuchang para os tribunais de arbitragem. Embora Li e um parente acabaram encontrando novos empregos na cidade com salário equivalente, eles dizem que o horário e as condições de trabalho são piores. A mulher, irmão, cunhada e primo de Li continuam desempregados.

Liu Zehua, advogado da Fuchang e de seu sócio majoritário, Chen Jinse, diz que Chen “é muito honesto e diligente […], mas possui capacidades administrativas limitadas. A diretoria da Fuchang desperdiçou dinheiro, provocando a queda da firma.”

No início da desaceleração chinesa, a economia era capaz de absorver trabalhadores como Li e sua família. Mas, com a contínua fraqueza econômica, as demissões se tornaram comuns e trabalhadores desesperados estão encontrando poucas oportunidades — tendência que autoridades e especialistas dizem estar se acentuando.

O emprego fabril na China vem caindo há 25 meses, segundo um índice da confiança empresarial da revista chinesa “Caixin”. O Ministério do Trabalho afirma que a taxa de emprego deve permanecer estável no curto prazo, mas que o impacto da desaceleração e reestruturação chinesa não pode ser ignorado. O Ministério da Segurança Pública não respondeu a pedidos de comentário.

Pesquisadores chineses e executivos de empresas dizem que está aumentando a possibilidade de o governo comunista vir a enfrentar o tipo de conflito social que sempre temeu. Recentemente, as autoridades chinesas prenderam e interrogaram mais de uma dezena de ativistas, principalmente no Cantão.

“Eles definitivamente veem os protestos como uma ameaça à segurança social e estão preocupados”, diz Anita Chan, acadêmica visitante do Departamento de Mudanças Políticas e Sociais da Universidade Nacional Australiana.

O governo está respondendo duramente às manifestações trabalhistas. Na centro industrial da província do Cantão, as greves e protestos dos últimos 12 meses apresentaram mais policiais e prisões foram feitas de forma mais rápida, diz Geoffrey Crothal, diretor de comunicações da China Labour Bulletin.

Em várias ocasiões, os operários revidaram as demissões mantendo executivos das empresas presos. Executivos estão sendo detidos após anúncios de demissões em maior número que antes, diz M. Sean Molloy, diretor-gerente da consultoria de gestão de crises Control Risks.

Um executivo europeu diz que operários o mantiveram preso depois que sua empresa anunciou uma reestruturação em fevereiro na cidade de Tianjin. Os trabalhadores bloquearam os portões da fábrica com uma empilhadeira e filmaram tudo o que ele dizia, na expectativa de vencê-lo pelo cansaço A polícia o libertou depois de 15 horas.

“Precisamos ajudar os operários a encontrar empregos ou eles serão forçados a agir ilegalmente”, diz Zou Suojun, ex-diretor de uma unidade de peças eletrônicas da Plainvim International Ltd. em Dongguan. Zuo diz que os trabalhadores da fábrica de Dongguan o prenderam por sete dias no fim de 2013 e o espancaram e impediram de dormir.

“Se a economia continuar indo desta forma”, diz ele, “teremos agitações sociais sérias em alguns anos.” Executivos da Plainvim não comentaram. Um empregado da firma confirmou os detalhes da prisão de Zou, dizendo que era compreensível: “Eles ficaram muito nervosos.”

O fechamento das fábricas cria um efeito dominó. O colapso da Fuchang forçou o fornecedor Jun Yi Co., de polidores de celular, a demitir metade de sua equipe de 16 funcionários devido ao dinheiro que a Fuchang lhe deve, diz o dono da Jun Yi, Chen Jun.

“É incrivelmente estressante. Os credores telefonam a toda hora”, diz Chen. Liu, o advogado da Fuchang, não quis comentar sobre as dívidas da empresa.

Nota DefesaNet

Há anualmente mais de 1.000 coflitos na China em que são empregadas as Forças do PLA (Exército Popular da China). Interessante que ao realizar pesquisas para adicionar fotos de conflitos à matéria do WSJ ó localizamos via Google, fotos de um exercício das Forças de Segurança da área de Shenzhen, no ano de 2014.

O Editor

 

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