O presidente russo, Vladimir Putin, negou que tenha a intenção de ressuscitar a extinta União Soviética (URSS), lamentando que os países ocidentais não acreditem nele – de acordo com um documentário divulgado neste domingo pela televisão estatal russa.
Putin afirmou que a postura dos países ocidentais na Ucrânia e no antigo espaço soviético é no sentido de "impedir o restabelecimento da URSS", o regime comunista que se desintegrou em 1991 com a independência de várias repúblicas no Leste Europeu e na Ásia Central.
"Mas ninguém quer acreditar em nós, não querem acreditar que não propomos voltar a criar a União Soviética", disse Putin no documentário "Ordem mundial" (tradução literal), filmado na quinta-feira, depois de sua entrevista coletiva anual.
Desde a queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovytch, aliado de Moscou, por pressão de manifestações populares pró-Europa, a diplomacia russa acusa os ocidentais de implementarem uma "política de contenção" similar à aplicada pelos Estados Unidos contra a então URSS durante a Guerra Fria.
Bombardeios provavelmente russos na Síria
Trinta e seis pessoas, a maioria delas combatentes, morreram neste domingo na província de Idleb, noroeste da Síria, em bombardeios provavelmente russos, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Os bombardeios, provavelmente russos, tiveram como alvos áreas antigas do regime, utilizadas pelo Exército da Conquista", coalizão composta por jihadistas da Al-Nosra e grupos islamitas, como Ahrar Al-Sham, afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
"Dezenas de pessoas, em sua maioria civis, ficaram feridas", completou.
A Rússia, que executa uma campanha de bombardeios aéreos na Síria desde 30 de setembro, afirma que tem como alvos o grupo Estado Islâmico (EI) e outras organizações "terroristas", mas os países ocidentais e os rebeldes acusam Moscou de concentrar-se principalmente nos grupos rebeldes que lutam contra o regime de Bashar al-Assad.
Por outro lado, as forças governamentais assumiram neste domingo o controle de uma localidade estratégica da província de Aleppo, Jan Thuman, ao norte do país, segundo o OSDH.
Desde medos de outubro, o exército ampliou as operações terrestres contra os rebeldes ao norte do país, com o apoio da aviação russa, e conseguiu retomar o controle de várias regiões na província de Aleppo.
Rússia nega uso de bombas de fragmentação na Síria¹
O Kremlin negou nesta segunda-feira que a aviação russa use bombas de fragmentação na operação militar contra os jihadistas na Síria, como denunciou a organização Human Rights Watch (HRW), que acusou Moscou de matar 35 civis com esse tipo de armamento proibido pela ONU.
"A Rússia realiza sua operação em estrita consonância com as normas do direito internacional, inclusive aquelas que proíbem determinados tipos de armas. Ninguém pode ter dúvidas disso", garantiu em entrevista coletiva o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O representante do Kremlin recomendou aos jornalistas que se informem com o Ministério da Defesa russo para obter informações precisas "sobre os resultados dos ataques" executados pela aviação militar russa na Síria.
A HRW denunciou nove ataques das aviações síria e russa que, segundo dados da ONG, tiraram a vida de 35 civis, entre eles cinco mulheres e 17 crianças, e feriram dezenas de pessoas.
O uso desse tipo de munição viola a resolução 2139 das Nações Unidas, que pediu em fevereiro de 2014 a todas as partes do conflito sírio que encerrem o emprego indiscriminado de armas em áreas povoadas do país árabe.
Ao todo, 118 países, entre eles Rússia, Estados Unidos e Síria, proibiram as bombas de fragmentação devido ao dano que ocasionam. Geralmente, após serem disparadas, essas bombas explodem no ar e espalham até centenas de pequenos explosivos sobre áreas do tamanho de um campo de futebol.
No entanto, o mecanismo costuma falhar e as bombas não explodem no ar, deixando restos similares a minas no chão, um perigo para os civis.
Desde 2012 e até finais de 2014, esse tipo de armamento foi o responsável pela morte de 1.968 pessoas, a maioria civis, segundo detalhou em setembro um relatório anual da Coalizão sobre Bombas de Fragmentação.
¹com agência EFE