Renata Miranda – O Estado de S.Paulo
O estado de saúde do presidente Hugo Chávez e a preocupação dos opositores com um possível processo de transição turbulento abriram espaço para a discussão da relação do líder venezuelano com o Exército. De acordo com analistas e fontes militares, apesar de as Forças Armadas parecerem unificadas e leais a Chávez, já haveria sinais de cisão entre os que apoiam e os que rejeitam seu projeto de "socialismo do século 21".
Alguns acreditam que existe até mesmo a possibilidade de ruptura total do comando militar com o governo caso a saúde de Chávez piore. "As Forças Armadas já demonstraram, em reuniões privadas, que consideram o processo chavista gasto e reconhecem que o cenário político venezuelano tem de ser renovado", afirmou ao Estado o cientista político venezuelano Oscar Reyes. "Os militares acham que Chávez já governou sozinho por bastante tempo e não conseguiu resolver os problemas básicos do país, como a questão da falta de segurança e do desemprego."
Apesar da desilusão de alguns oficiais de médio escalão com o programa de governo do presidente, o alto comando militar ainda seria leal a Chávez.
No entanto, segundo explicou o analista Alfredo Ramos Jiménez, o presidente já teria antecipado o descontentamento de alguns militares e, por isso, teria criado, há dois anos, suas "milícias populares" – um grupo armado que, segundo Chávez, deveria se juntar às Forças Armadas para "defender a revolução bolivariana".
"Na história da América Latina temos um ditado popular que diz que os militares são leais até que se rebelem", disse Ramos Jiménez. "Pensando nisso, o presidente criou essas milícias para poder ter um controle maior sobre as Forças Armadas." Dezenas de milhares de homens e mulheres fazem parte dessa força que é treinada pelo governo. Opositores e críticos do presidente são contra esse grupo que, segundo eles, não passa de um bando armado cujo único objetivo é garantir que Chávez continue no poder.
Renata Miranda – O Estado de S.Paulo
Os partidários do presidente venezuelano, Hugo Chávez, negam os boatos de divisão dentro das Forças Armadas, afirmando que os militares sempre estiveram ao lado do líder bolivariano e apoiam o governo. De acordo com o analista Alfredo Ramos Jiménez, Chávez mudou o perfil do Exército depois de assumir a presidência, em 1999.
"Chávez transformou as Forças Armadas em um braço armado de seu partido político", disse Ramos Jiménez, autor do livro La revolución bolivariana: el pasado de una ilusión ("A revolução bolivariana: o passado de uma ilusão", em tradução livre).
Para Ramos Jiménez, recentemente, Chávez deu início a uma nova estratégia para fortalecer sua base de apoio entre os militares. Ele afirmou que as constantes visitas do presidente a academias de formação militar estariam destinadas a conquistar o apoio de jovens cadetes ao seu projeto de "socialismo do século 21".
"Chávez quer influenciar esses setores juvenis porque vê que está perdendo apoio", disse o analista. "No entanto, é difícil que ele consiga, porque são jovens que vivem mais de perto a situação de crise do país e, por isso, não se identificam com o governo do presidente."
Mudança. Chávez sempre teve entre seus aliados mais próximos integrantes das Forças Armadas – muitos deles participaram junto com ele da tentativa frustrada de golpe de 1992.
O historiador venezuelano Juan Romero, da Universidade de Zulia, explicou que, após o golpe de 2002 contra o governo, Chávez fez mudanças na estrutura de comando das Forças Armadas para tornar o grupo mais estável.
"Chávez era militar e, por isso, trabalhou para que seus companheiros das Forças Armadas se transformassem em uma extensão do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)", disse Romero. "E essa estrutura armada tornou-se um ator político importante na Venezuela."