Por Ana Fonseca Pereira – Texto do Público.pt
Adaptação e edição – Nicholle Murmel
O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, decretou estado de exceção nos municípios do estado do Amazonas que fazem fronteira com a Colômbia, colocando sob jurisdição militar o único trecho da linha divisória entre os dois países que ainda não havia sido bloqueado. O anúncio foi feito 24 horas depois de Caracas e Bogotá terem se comprometido a encerrar a crise diplomática que se arrasta há um mês e que já levou 20 mil colombianos a abandonar a Venezuela.
O líder venezuelano assegura que não há nenhuma incongruência entre as duas decisões, dizendo que apesar de ter ficado decidida a “normalização gradual da situação na fronteira” isso só acontecerá mediante acões que os dois países venham a adotar para combater o contrabando de mercadorias, o tráfico de drogas e a presença de grupos armados. Algo que, sublinha o presidente, não deverá demorar menos de seis meses e estará condicionado à situação no terreno. “Até lá não vacilaremos nem um minuto. É preciso cerrar punhos contra o crime, os delinquentes e os paramilitares”, disse o líder bolivariano no seu programa semanal na televisão venezuelana.
O estado de exceção prevê a mobilização das Forças Armadas e a limitação das liberdades constitucionais proibindo, entre outros, o direito de manifestação – um fator importante tendo em conta que as legislativas venezuelanas estão marcadas para Dezembro, adianta o jornal espanhol El País, acrescentando que oito dos 23 municípios fronteiriços onde a medida está já em vigor são governados pela oposição.
Ao todo, Caracas interditou 1400 dos 2200 quilômetros da fronteira comum, uma região que tem sido alvo de frequentes tensões entre dois países e que é uma auto-estrada para actividades ilegais, do tráfico de drogas ao contrabando, adianta a Reuters. Do petróleo (o mais barato do mundo) à comida são milhares as mercadorias que se podem comprar a preços subsidiados na Venezuela para vender com enormes margens de lucro na Colômbia. O negócio é antigo, mas a penúria de bens essenciais no país levou o Governo venezuelano a apertar o cerco, que se transformou em guerra depois de, em 19 de Agosto, três militares colombianos terem sido feridos num ataque que Caracas atribuiu a paramilitares e contrabandistas colombianos.
Além do fechamento das fronteiras e do estado de exceção, a Venezuela expulsou 1500 colombianos sob alegação de estarem em situação irregular. Outros 18 mil deixaram às pressas o país por medo de represálias, segundo números recolhidos pela ONU. A tensão atingiu o pico quando, uma semana depois do ataque, Caracas e Bogotá chamaram os respectivos embaixadores e o Governo colombiano acusou o país vizinho de incursões aéreas no seu território.
As tentativas de solução começaram durante encontro na última segunda-feira (21) no Equador, entre Maduro e o Presidenteo colombiano, Juan Manuel Santos, em que ficou decidido o regresso imediato dos embaixadores e a criação de um grupo ministerial para melhorar a cooperação fronteiriça. “Hoje triunfou a sensatez, o diálogo e, aquilo que deve imperar sempre, a paz”, afirmou Maduro. Santos disse entender as preocupações da Venezuela com a presença de grupos armados na região, mas sublinhou que os dois governos devem “agir juntos” apesar das divergências ideológicas e exigiu respeito pelos direitos dos colombianos que vivem no país vizinho.
Na Venezuela, a oposição acusa Maduro de usar o conflito fronteiriço para, em vésperas de eleições, desviar as atenções da derrocada econômica. Acusações que podem ganhar fôlego diante das denúncias da Guiana sobre a “extraordinária escalada da actividade militar da Venezuela” desde o início do mês numa zona marítima que os dois países reclamam e onde a Exxon Mobil está a fazer prospecções petrolíferas.