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Modernização do NAe São Paulo em curso

Por Chris Biggers – Texto do Bellingcat
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

Poucas nações têm um porta-aviões em operação, e o Brasil é uma delas – ainda que por um triz. Com um litoral que se extende por 7.400 quilômetros e reservas significativas de energia offshore, não é difícil entender porque ter um. Imagens recentes sugerem que o país está bem no caminho de manter seu status como único detentor de um porta-aviões na América Latina.

Imagens adquiridas pela DigitalGlobe e feitas em maio deste ano mostram o NAe São Paulo (A12) docado no Arsenal da Marinha, no Rio de Janeiro. O estaleiro fica na Ilha das Cobras, dentro da Baía da Guanabara, e é o principal centro de manutenção da Marinha do Brasil. É lá que o país deu o primeiro passo para modernizar o porta-aviões para que ele continue operando até 2030.

As fotos históricas mostram o antigo NAe francês entrando na doca no final de março. Em maio foi divulgada a contratação de uma empresa internacional para auxiliar na avalaiação do navio. A consultoria em engenharia Zentech, dos Estados Unidos, teria firmado o contrato para realizar uma inspeção ampla no casco da embarcação para avalizar futuros upgrades.

Como parte de um programa de cinco anos, os especialistas devem procurer focos de corrosão, determinar a integridade do casco e oferecer recomendações para a troca de chapas de aço. “O trabalho inicial envolve busca por corrosão, avaliação de condições e análise detalhada da integridade do casco, incluíndo a criação de modelos em 3D, para mapear com precisão os resultados da inspeção para análises futuras e, por fim, oferecer sugestões acerca da substituição do aço no casco”, informou a Zentech.

A companhia tem um histórico marcante na América Latina, com trabalhos semelhantes nas plataformas de petróleo da estatal mexicana PEMEX.

Além da avaliação, a outra empresa parceira do Brasil, o grupo de construção naval francês DCNS, também firmou contrato estimado em 2 milhões de dólares para fornecer assistência futura em atualizar os sistemas de energia e propulsão do porta-aviões. Uma vez concluída a modernização, a expectativa é de que o navio tenha um sistema de geração e distribuição de energia com potência de 54MW, permitindo velocidade de até 27 nós.

Outros upgrades incluem trabalho nas catapultas, equipamentos de arresto e elevadores para as aeronaves. Tudo isso indica que o Brasil ainda considera adquirir o Gripen-M, versão naval do Gripen-E. Porém, notícias recentes sobre a compra dos caças suecos não mencionam a variante M.

Com certeza essas melhorias vão ajudar, mas é difícil prever quão bem um São Paulo modernizado irá funcionar. Incêndios a bordo ao longo dos anos, somados à idade do navio, sugerem que se trata de um desafio, e dos mais caros.

Mas dado o histórico do porta-aviões, as coisas não poderiam ser piores. Durante os 14 anos de serviço na Marinha do brasil, o A12 totalizou apenas três meses de operação entre manutenções. Com valor tão limitado, é pouco provável que o porta-aviões de 51 anos contribua muito em termos de projetar e reforçar a doutrina naval do país.

É claro que não é a primeira vez que a MB teve problemas com navios-aeródromos. O antecessor do São Paulo, o Minas Gerais (A11) – um antigo classe Colossus – mal operava aeronaves de asa fixa. A bem da verdade, antes de o Nae ser descomissionado, a Marinha conseguiu adquirir sua própria ala aérea, quando antes precisavam embarcar pilotos da Força Aérea.

Parece que o Brasil gosta do título de única nação latino-americana a operar um porta-aviões – e o status que vem junto – mais do que o uso prático dessa plataforma. E agora, se o país quer manter esse título, a modernização do São Paulo terá que manter o ritmo nos próximos anos.

Isso porque os planos brasileiros de aquisição de um novo Nae foram adiados, em grande parte por falhas no gerenciamento da economia. Esses planos também contemplavam a construção de um navio em solo nacional com um parceiro estrangeiro – uma empreitada nada modesta diante da falta de expertise do país. Como resultado, a Marinha não espera seu novo porta-aviões até os idos de 2028 – antes a previsão era 2023.

Não é preciso dizer que, caso a debilitada economia brasileira não retorne ao crescimento robusto, as coisas podem se tornar ainda mais instáveis para as aquisições no setor de defesa. Com a atual retração do PIB esperada para 2015, o Brasil pode ter um caminho árduo pela frente não só para modernizar, quanto mais adquirir um porta-aviões maior e mais caro.

Ainda assim, relatórios da Marinha apontam que a reforma deve começar em 2017 e tem previsão de durar quatro anos, com a reentrada em serviço do NAe São Paulo prevista para 2021.

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