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O Retorno do Samurai – Câmara do Japão aprova mudanças na legislação pacifista

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, conseguiu aprovar nesta quinta-feira na câmara baixa do Parlamento legislação que pode permitir o envio de soldados do país para lutar no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, apesar de milhares de manifestantes terem protestado durante a noite, cantando e segurando cartazes que diziam "Não à guerra, não à matança".

Na quarta-feira, uma comissão da Câmara aprovou o projeto impopular que derruba uma proibição de autodefesa coletiva ou participação em ação militar para defender um país amigo, como os Estados Unidos, o que desencadeou uma enorme manifestação. Outras estão programadas.

O protesto lembra atos semelhantes que levaram à derrubada do avô de Abe do cargo de primeiro-ministro, há 55 anos, depois que ele encaminhou ao Parlamento uma revisão do pacto de segurança EUA-Japão.

Multidões de manifestantes –segundo os organizadores, eram 100.000– se concentraram perto do Parlamento. Muita gente permaneceu no local durante a noite, cantando e segurando cartazes que diziam "Fora Abe", "Sem guerra, sem matança" e "Abandone as leis de guerra".

Os projetos de lei agora vão para o Senado e, se não houver votação num prazo de 60 dias, retornam para a Câmara, onde a coalizão de Abe pode sancioná-los com uma maioria de dois terços.

Abe diz que uma posição mais ousada na área da segurança, bem-recebida pelos EUA, é essencial para o país enfrentar novos desafios, tais como uma China mais assertiva. "A situação de segurança ao redor do Japão está ficando mais difícil", disse Abe a jornalistas após a votação, boicotada pelos principais partidos da oposição. "Esses projetos são vitais para proteger a vida dos japoneses e impedir a guerra."

As mudanças expandem o campo de ação das Forças Armadas do Japão, pois permitem que também dê apoio logístico a países amigos, relaxam os limites para operações de manutenção da paz e tornam mais fácil responder a incidentes de uma "zona cinzenta" que se aproxime de uma situação de guerra. Opositores dizem que as revisões poderiam enredar Japão em conflitos liderados pelos EUA em todo o mundo e violam o Artigo Nove da Constituição pacifista elaborada pelos EUA após a Segunda Guerra. 
 

Ministro da Defesa da China diz que lei do Japão vai “complicar” a região

O ministro da Defesa da China disse nesta sexta-feira ao chefe do Conselho de Segurança Nacional do Japão que a legislação japonesa que permitirá o envio de soldados para lutar no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial iria “complicar” a segurança regional.

As relações sino-japonesas, por muito tempo abaladas pelas lembranças da invasão do Japão durante a guerra e a disputa por ilhas no Mar do Leste da China, melhoraram desde que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping, numa cúpula Ásia-Pacífico, em Pequim, em novembro.

A legislação, aprovada na Câmara Baixa do Parlamento do Japão na quinta-feira, elimina a proibição de autodefesa e de participação em combates para defender um país amigo, como os Estados Unidos.

O chefe do setor da Defesa da China, Chang Wanquan, disse a Shotaro Yachi, que é um aliado próximo de Abe, que a aprovação do projeto de lei foi um “movimento sem precedentes”, segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, depois que os dois se encontraram em Pequim.

"Essa iniciativa terá uma influência complicada na segurança e na estabilidade estratégica regional", afirmou Chang, de acordo com a agência. Ele “exortou os japoneses a aprender com a história, a respeitar as principais preocupações dos seus vizinhos com a segurança e não fazer mal à paz e à estabilidade regional”, acrescentou a Xinhua.

O Ministério das Relações Exteriores da China disse na quinta-feira que a legislação põe em xeque o compromisso do pós-guerra do Japão de seguir “o caminho do desenvolvimento pacífico”.

Xi e Abe se reuniram em uma segunda minicúpula em abril, durante um encontro de líderes da Ásia-África, na Indonésia. O Japão quer manter o degelo e se assegurar ao mesmo tempo de que a China perceba os riscos de uma política marítima militar cada vez mais assertiva.

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