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“Mercados chineses sempre foram dirigidos politicamente”

Após acumularem perdas superiores a 30% nas últimas semanas, o equivalente a quase 4 trilhões de dólares, as principais bolsas de valores chinesas deram sinais de recuperação no fim desta semana.

As autoridades chinesas, que já vinham lutando para evitar uma desaceleração mais acentuada da economia, tomaram uma série de medidas para evitar um colapso sem precedentes nos pregões em Xangai e Shenzhen.

Em entrevista à DW, a economista Sandra Heep, do instituto Merics, sediado em Berlim, di que, se os mercados não notarem uma tendência estável de crescimento, poderá haver protestos políticos, uma vez que a credibilidade do Partido Comunista chinês está em risco.

"O Estado está plenamente consciente das consequências sociais e econômicas que um colapso do mercado de ações poderá desencadear", afirma. "Os mercados de ações chineses sempre foram dirigidos politicamente: seus desenvolvimentos têm sido influenciados por sinais políticos em vez de princípios econômicos."

Deutsche Welle:Como a queda nos mercados financeiros poderá impactar a manutenção do poder pelo Partido Comunista, principalmente se as ações voltarem a despencar nos próximos dias?

Sandra Heep:Se não notarmos em breve uma tendência estável de crescimento nos mercados de ações, poderá haver protestos políticos. Um grande número de pequenos investidores está decepcionado com o partido e o responsabiliza por suas perdas. Eles poderão se tornar um desafio para o sistema político. A credibilidade do partido está em risco.

Caso o Estado fracasse em acalmar os mercados, a perda de confiança em sua competência econômica deverá, muito provavelmente, levar a um subsequente declínio nos índices de crescimento. Empresas privadas do setor de tecnologia, que se beneficia enormemente do aumento dos preços das ações, deverão novamente enfrentar grandes dificuldades financeiras.

Além disso, as perdas dos pequenos investidores poderão enfraquecer a demanda doméstica. Essa crise acabaria evitando a implementação das medidas planejadas de liberalização do sistema financeiro. A necessária reforma econômica na China corre o risco de fracassar em razão de um colapso do mercado de ações.

Porque Pequim decidiu intervir? As autoridades chinesas possuem as ferramentas necessárias para impedir o colapso do mercado de ações?

O Estado está plenamente consciente das consequências sociais e econômicas que um colapso do mercado de ações poderá desencadear e está disposto a ir longe em sua tentativa de acalmar os mercados. Tendo em vista que as medidas, até agora, falharam em impedir essa tendência, poderão, teoricamente, haver intervenções ainda mais drásticas. Entretanto, uma atitude radical poderia destruir completamente a noção de que os mercados de ações da China estejam, ao menos parcialmente, movidos pelos princípios econômicos.

Os mercados financeiros são indicadores globais de desenvolvimento econômico e de confiança. Por que os investidores institucionais e privados estão perdendo a confiança na economia chinesa?

Os mercados de ações chineses sempre foram dirigidos politicamente: seus desenvolvimentos têm sido influenciados por sinais políticos em vez de princípios econômicos fundamentais ou pelo desempenho de algumas empresas.

Por esse motivo, a atual queda dos mercados financeiros não deve ser considerada uma determinação da trajetória futura da economia chinesa, mas deve sim ser entendida como tendo sido causada por um aumento das restrições às operações de margem – que permitem aos investidores pegar dinheiro emprestado das corretoras para investir no mercado financeiro.

Como a economia chinesa tem recentemente demonstrado sinais de enfraquecimento, acabou sendo um contrassenso que os preços das ações atingissem níveis recordes. Se as autoridades não tivessem impulsionado o mercado, eles não se encontrariam em uma situação tão difícil.

Como que, há poucas semanas, o Partido Comunista conseguiu se beneficiar politicamente da alta nos mercados financeiros?

Os preços altos das ações podem contribuir para a melhora da situação precária das empresas estatais, que acumulam dívidas enormes desde o início da crise financeira global.

A expansão orquestrada pelo Estado pode ser entendida como uma reação ao aumento das limitações da política monetária. Nos últimos meses, o banco central tem reduzido a taxa básica de juros, assim como a proporção da obrigatoriedade de reservas. Entretanto, essas medidas não produziram os efeitos desejados.

Os custos financeiros para as empresas continuam altos, e os bancos ainda relutam em emprestar dinheiro. Dessa forma, tentar estimular a economia através do mercado de ações parece oferecer uma solução bem-vinda.
 

Brics oficializam criação de Banco de Desenvolvimento

Depois de dois dias de reuniões, a sétima cúpula dos países dos Brics terminou nesta quinta-feira (09/07), na cidade russa de Ufá, com um compromisso para intensificar as indústrias nacionais dos integrantes e oficializou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).

Durante a cúpula, os países dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – assinaram o memorando para a criação do NDB, que se apresenta como uma alternativa para o sistema financeiro global, atualmente dominado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial.

A expectativa é que a nova instituição, cuja sede será em Xangai, na China, comece a operar a partir de 2016. Inicialmente, o banco irá financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável dos países do bloco, expandindo, no futuro, sua atuação para outras regiões.

O NBD terá um capital inicial de 50 bilhões de dólares e será presidido pelo banqueiro indiano K.V. Kamath. O economista brasileiro Paulo Nogueira Batista Junior será o vice-presidente da instituição.

Indústria e economia nacional

No final da cúpula, os líderes dos Brics assinaram ainda uma declaração, na qual se comprometem a desenvolver as indústrias nacionais para aumentar a produção e a exportação de produtos de alto valor agregado.

Além de impulsionar as economias nacionais, a medida "contribuirá para a participação em cadeias de valores globais e melhorar a competitividade", ressaltou a declaração conjunta.

Perante o atual cenário global, os países também concordaram em coordenar esforços para manter suas economias estáveis. "Nós estamos preocupados com a instabilidade de mercados, a alta volatilidade dos preços de energia e de commodities e a acumulação de dívida soberana por alguns países", afirmou o presidente russo, Vladimir Putin.

Durante o encontro do Conselho Empresarial do grupo nesta quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff disse que investimentos empresariais são "fundamentais", assim como o comércio, para o desenvolvimento econômico. Dilma ressaltou ainda que o papel internacional dos Brics precisa ser reforçado para garantir o desenvolvimento global.

 

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