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A transformação da Elite do Combate Convencional


Coronel Fábio Benvenutti Castro
Nota DefesaNet – Promovido a General-de-Brigada
Comanda a  6ª Bda Inf Bld (Ver Matéria Link)

 

"LANCEIRO aqui CENTAURO CINCO. Informo comboio suspeito nas imediações da fronteira. Esse comboio pretende penetrar no território via balsa, cruzando o Rio Colorado.” Após essa comunicação rádio, o Comandante do Teatro de Operações (TO) SUL – LANCEIRO – determina que o comboio assinalado seja interceptado, assim que adentre o território brasileiro. Determina ainda que as agências sejam acionadas para que a missão seja cumprida e os procedimentos legais sejam adotados.

Ao mesmo tempo, o Centro de Coodernação de Operações do TO SUL recebe a informação de que estão ocorrendo manifestações nas imediações de Monte Alverne, capazes de impactar a continuidade do fornecimento de energia para o País Amarelo e para o País Verde no caso de radicalização dos manifestantes. LANCEIRO determina que seja desencadeada a primeira fase do Plano de Ação Iluminar, que prevê concentração dos meios de aviação do exército e de forças especiais, de modo que passem ao controle operacional da 5a Divisão de Exército, a fim de isolar e controlar a área da hidrelétrica de Monte Alverne, garantindo o fornecimento de energia para ambos os países.

No prosseguimento das atividades, em função das constantes variações climáticas afetas à área operacional, ocorre o início de um vazamento tóxico na retaguarda do TO SUL, na área de responsabilidade da 14a Brigada de Infantaria Motorizada (14a Bda Inf Mtz). Tarde da noite, o Governador do Estado de Santa Catarina aciona a maior autoridade militar. O Comandante da Brigada informa ao Comandante do TO SUL a gravidade da ocorrência e que a evacuação da área já teve início com auxílio das agências de defesa civil.

O Comandante do TO SUL aciona, ainda durante a madrugada, o Batalhão de Aviação e um grupo de defesa química para que decolem imediatamente para a área do sinistro a fim de assessorar a 14ª Bda Inf Mtz quanto às medidas a serem tomadas em função da possível toxicidade do vazamento. A aviação decola sua aeronave de alerta da Base Aérea de Canoas, sob condições de voo por instrumentos, conduzindo uma equipe de guerra química com agentes sanitários especialistas em vazamentos químicos. Os equipamentos de análise já estavam pré-armazenados na base aérea, prevendo uma eventualidade similar.

 

Ainda na madrugada, ORCA – Comandante da Força-Tarefa Naval, informa que barcos pesqueiros estão nas proximidades das águas territoriais no extremo sul e suspeita que estes estejam carregando entorpecentes e materiais proibidos. Pelo sistema de reconhecimento facial à distância, ORCA identifica um dos tripulantes dos pesqueiros como Salvatore Veneza, traficante internacional, procurado pela Interpol, ligado a grupos terroristas.

A conduta a ser adotada e aprovada por LANCEIRO é de interceptação e prisão dos meliantes. O Ministério das Relações Internacionais é alertado sobre a possibilidade de prisão de um criminoso internacionalmente procurado.

De acordo com a previsão de emprego, o Sistema Aéreo Remotamente Pilotado (SARP), localizado na Base Aérea de Santa Maria, decolou prevendo reconhecer a faixa de fronteira na área de responsabilidade da 3a Brigada de Cavalaria Mecanizada. Durante o voo, ao passar pelo campo de instrução de Saicã, identificou uma atividade clandestina noturna, na qual inúmeras viaturas estavam descarregando tonéis no sopé de um cerro, coberto por vegetação.

As imagens chegaram em tempo real, LANCEIRO determinou ao Comandante da Força Aérea Componente que acionasse a Força-Tarefa Conjunta FURACÃO, integrada por helicópteros do 5o/8o GAv e elementos do Batalhão de Forças Especiais, para realizar uma incursão aeromóvel no sítio identificado e neutralizar qualquer atividade ilícita e não autorizada.

Essa abordagem inicial narra algumas atividades presentes no dia a dia do Comando Militar do Sul (CMS). Como responsável pelo TO SUL, o CMS tem o encargo de empregar as Forças Componentes Naval, Terrestre e Aérea, projetando poder, garantindo as missões constitucionais impostas pela Carta Magna e implementando a dissuasão estratégica.

Além dessas atividades, o CMS é prioridade em vários projetos estratégicos, como o PROTEGER e o SISFRON, consistindo-se, também, em vetor de modernidade e um dos principais atores no processo de transformação do Exército.

Deslocamento de tropa de infantaria blindada
Deslocamento de tropa de infantaria blindada

O COMANDO MILITAR DO SUL

A criação do CMS ocorreu devido à reestruturação do Exército Brasileiro (EB), em 1985. Sua origem remonta a Inspetoria de Regiões de 1921, no 1o Grupo de Região Militar, em vigor até 1961 e, posteriormente, no III Exército.

O CMS é responsável por garantir a integridade do território nacional no sul do país, enquadrando os três estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Estrutura-se com duas Divisões de Exército, Grandes Comandos Operacionais, e duas Regiões Militares, encarregadas da administração territorial e do fornecimento de todo o suporte logístico em sua área de atuação. O CMS possui um efetivo de aproximadamente 25% do Exército. Grande parte desse capital humano pertence às unidades de combate que integram as forças mecanizadas e blindadas da Força Terrestre.

Em sua área de jurisdição, o CMS possui os maiores campos de instrução militar do Exército para efetivar todos os seus treinamentos e preparação para o emprego. Essas áreas são capazes de absorver grandes concentrações de tropas para executar qualquer tipo de operação tática, seja no contexto convencional, seja no complexo contexto inerente à guerra de quarta geração. Os campos de instrução existentes são, de acordo com sua estrutura e base física, particularmente aptos, também, à realização de manobras escolares, uma vez que, durante o ciclo de instrução, elas têm sido utilizadas pelas Escolas de Formação em inúmeros exercícios no terreno, contribuindo, assim, com o sistema de ensino para que a formação dos quadros seja a mais completa e realista possível.

Além disso, no CMS encontram-se desdobradas duas bases aéreas estratégicas da Força Área Brasileira (FAB), uma com sede em Canoas-RS e outra sediada em Santa Maria-RS. Para a FAB, elas são encarregadas da defesa aérea e da manutenção da integridade do espaço aéreo no Cone Sul do Brasil. Atuam no sentido de projetar o poder aeroespacial pela capacidade de pronta resposta e agilidade operacional dos vetores aéreos que são empregados segundo a coordenação do espaço aéreo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (CINDACTA II), localizado em Curitiba-PR, órgão integrante do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).

Mais ao Sul, na cidade de Rio Grande, encontra-se 5º Distrito Naval, cuja missão é contribuir para o cumprimento das tarefas de responsabilidade da Marinha do Brasil. Este serve de plataforma de futuras bases de operações navais que possam operar no extremo Sul do território nacional, inclusive projetando o apoio necessário às atividades a serem desenvolvidas no Programa Antártico Brasileiro.

Com essa percepção, o CMS caracteriza-se por desenvolver um conjunto amplo de ações que capacitam suas forças à realização de operações de guerra, de não guerra, bem como ao apoio e à execução de ações subsidiárias. Dessa forma, em treinamentos realizados durante o ciclo de instrução, o CMS desenvolve ações no amplo espectro, em diversas frentes, cujo contexto tende a ser dinamicamente alterado durante as aplicações táticas e estratégicas, ensejando um elevado grau de adestramento, de agilidade operacional, de capacitação de seus quadros e, em particular, de suas estruturas, aptas ao trabalho sincronizado entre si e com as demais forças militares e agências civis que possam estar presentes e envolvidas em um cenário de emprego conjunto e de interagências.


DOUTRINA E TRANSFORMAÇÃO

O CMS é o Comando Militar de Área com a maior concentração de tropas do EB, possui mais de 50 mil homens, um quarto do efetivo total do País. O CMS, antes conhecido como III Exército, possui 18 oficiais-generais, 160 organizações militares, 20 tiros de guerra, 100% da artilharia autopropulsada, 75% da artilharia geral e 90% dos 1.645 carros de combate de toda a força terrestre brasileira – incluindo os blindados alemães Leopard e Guepard, os americanos M-113 e os brasileiros, produzidos pela ENGESA, Urutu e Cascavel, além de ser pioneiro no recebimento e emprego das viaturas blindadas de transporte de tropa (VBTP) Guarani, construídas pela indústria nacional em parceria com o sistema de ciência e tecnologia do Exército.

Com esse acervo, o CMS, observando a estreita ligação com o Estado-Maior do Exército (EME), tem o encargo de ser uma importante plataforma de desenvolvimento e de pesquisa doutrinária, no que concerne ao emprego operacional de escalões de tropa, em particular nos ambientes característicos da região sul do país.

A doutrina, notadamente, base dos procedimentos que orientam o emprego dos exércitos, vem, ao longo do tempo, submetendo-se a ciclos oportunos e contínuos de aperfeiçoamentos, seja pelo incremento de novos instrumentos de combate, que norteiam a modificação de procedimentos táticos, seja pela modificação do corpo sociopolítico nacional no qual as forças integrantes dos Estados exercem o papel de garantes da ordem constitucional.

Fundamentalmente, a doutrina é um dos principais vetores do processo de transformação do Exército. A constante aplicação do conhecimento em exercícios ou em operações, bem como as revelações proporcionadas pela história militar recente, servem de ferramentas básicas para nortear o processo de revisão dos princípios que orientam a doutrina. O desapego ao preestabelecido, à rotina e às soluções previamente concebidas constitui-se em condições essenciais para a formulação de novos procedimentos doutrinários, com vistas a ampliar a eficiência operacional e a maximizar condutas, de modo a contemplar a componente estratégica, em sentido amplo, e, em nível restrito, valorizar os aspectos eminentemente táticos e seus reflexos para a execução de tarefas específicas dos escalões mais elementares da Força.

Com esse efeito, a evolução doutrinária apoia-se em um aperfeiçoamento cíclico e ininterrupto. De tempos em tempos, sob influência dinâmica de fatores que alteraram as relações mundiais em todos os campos do conhecimento, as soluções doutrinárias de outrora e talvez as de hoje mereçam sofrer cuidadoso reestudo, visando a provocar um redirecionamento de procedimentos ou mesmo para ratificar condutas e orientações até então creditadas como verdadeiras, com base nas assertivas de que a natureza dos conflitos está em constante evolução, perpetuando as percepções de Clausewitz: “… cada Era tem tido suas formas peculiares de guerra. (…) Cada qual, portanto, tinha sua própria teoria de guerra e quem quiser compreender a guerra e suas manifestações deve lançar um olhar arguto às principais características (…) em cada Era determinada” (CLAUSEWITZ, 1827).

O tempo mantém-se Senhor das transformações. As organizações concebidas para obter sucesso nos combates previstos para serem realizados no século XXI carecem constantemente de reavaliações, a fim de se verificar sua contínua adequabilidade para as futuras missões ou mesmo para superar as crises que porventura poderão emergir num mundo cada vez mais complexo e multifacetado. Tais crises abrangem o campo interno (operações de garantia da lei e da ordem), como também o campo externo (peacekeeping operations), respeitada a carta das Nações Unidas.

O espectro de missões atribuídas a forças militares que envolvem aspectos humanitários vem crescendo exponencialmente, fato que não pode ser descaracterizado no estudo das condicionantes doutrinárias do porvir. Em que pesem esses aspectos, ressalta-se, sobretudo, que os Exércitos existem para vencer as guerras. Tal assertiva serve de base para a condução do preparo, da capacitação e do emprego operacional do CMS.

A Era da indústria de série, da produção em massa, deixou de ser decisiva na determinação das ilhas de modernidade. Com a inundação do conhecimento, provocada pelo enorme avanço da eletrônica e da informática, quem domina a tecnologia, o conhecimento, passou à vanguarda e tem maiores possibilidades de enfrentar com sucesso os cenários previstos para o milênio que se descortina. Os exércitos que sabem mais, que conhecem com mais profundidade, que dominam a tecnologia e suas ramificações, que se comunicam ininterruptamente e em segurança, que se deslocam mais rápido e de modo coordenado têm maiores chances de alcançar vitórias, impor sua vontade ao oponente, com menor desgaste e com o mínimo de baixas. Enfim, eles têm melhores condições de dominar a situação tática e influenciar o combate, mantendo a iniciativa.

A partir da “Paz de Westfália”, os exércitos passaram a definir as funções e as características das frações que os integravam. Cada arma possuía sua missão particular, que compunha um todo harmônico, indivisível. Todas elas, operando coordenadamente, proporcionavam condições para que as batalhas fossem vencidas. Existia, então, um sincronismo implícito, desejável, de modo que as armas base comandavam as ações principais e, via de regra, definiam a sorte dos enfrentamentos.

Essa prática foi dominante na organização e na estruturação dos exércitos, que combateram nos maiores enfrentamentos bélicos do século passado. Os conflitos posteriores à II Grande Guerra se sucederam e demonstraram a tendência determinante de que o emprego combinado das armas base, infantaria e cavalaria, apoiado pelas ações da força aérea e por apoio de fogo preciso, cerrado ou não, seriam fundamentais aos novos conflitos. Tal aspecto foi ressaltado nos conflitos árabe-israelenses, nos quais a velocidade, a audácia, a liderança em todos os níveis de comando e a flexibilidade foram essenciais à conquista da iniciativa das ações bélicas e, em síntese, responsáveis pela decisão dos conflitos. Embora a letalidade dos armamentos tenha sido implementada, obtendo grande avanço na segunda metade do século XX, a técnica de condução das batalhas permaneceu inalterada. O combate permaneceu atrelado a linhas definidoras de responsabilidade sobre zonas de ação. Essas medidas, de certo modo restritivas, norteavam o emprego tático dos contendores.

As campanhas de ar, terra e mar eram planejadas, em sua maioria, com relativa antecedência a fim de possibilitar as mandatórias coordenações. Com efeito, a liderança militar baseava-se nas linhas definidoras do combate para planejar, coordenar, sincronizar e conduzir as batalhas no século passado. A partir do momento em que a velocidade do combate foi considerada essencial para que a vitória fosse alcançada, novos meios, oriundos da revolução industrial, foram incorporados aos exércitos, o que provocou uma verdadeira mudança de paradigmas nos escalões responsáveis pelo estabelecimento do comando e controle. Procedimentos em compasso mecanizado rapidamente foram substituídos pelas dinâmicas ramificações eletrônicas, características da informatização dos processos.

Considerando esse avanço, o de comando e controle, bem como o pessoal envolvido com a rotina de trabalho, até então acostumados a operar em ritmo industrial, tiveram que rapidamente estruturar-se a fim de acompanhar o curso da tecnologia da informação, adaptando-se à rapidez imposta pela Era Digital. O binômio velocidade-informação veio proporcionar condições para que as frações táticas responsáveis pelos engajamentos tivessem possibilidade de impactar precisamente os adversários. Quem visse e entendesse a situação primeiro, poderia movimentar-se com mais precisão e, assim, orientar o combate de modo a conduzi-lo em vantagem.

As informações processadas em tempo real passaram a fundamentar os procedimentos táticos em todos os escalões. As decisões, gradativamente, ficaram dependentes das informações precisas e oportunas, que passaram a fluir pelos novos sistemas, em tempo real. A coleta dos dados táticos, a busca de inteligência de combate, nada mais é do que implementar conhecimento sobre a situação enfrentada, suas ramificações e tendências.

No Exército, as armas-base, particularmente, a cavalaria e a infantaria mecanizada, bem como as tropas blindadas, de aviação do exército e as que operam sensores remotamente assistidos são as frações responsáveis por nutrir o comando com as informações necessárias à tomada de decisão. Em síntese, essas tropas presentes no CMS são, em essência, portadoras do conhecimento – aspecto imprescindível para as operações de combate em todos os cenários.

O desenvolvimento doutrinário, hoje e ao longo da história, está intimamente ligado às práticas inerentes ao CMS. Esse salto de conhecimento referente aos aspectos que condicionam o emprego, atualmente, recebe significativo impulso pelo processo de transformação em curso no EB, cujos impactos se fazem presente nas áreas humanas, de controle, na organização, no armamento e no equipamento, na logística e se concretiza na reestruturação concebida em face das novas demandas organizacionais e estratégicas.

A transformação do Exército encerra um sem-número de atividades que de certa forma visam a criar o exército de que o país necessita. Em que pese haver várias condicionantes e limitadores para a plena abrangência do processo de transformação, a componente humana e sua capacidade de interagir com novos cenários, pela aplicação judiciosa de novos meios e dinamicidade dos atores envolvidos com a segurança e defesa nacionais, torna-se essencial para que uma mentalidade vencedora seja enraizada e frutifique na instituição. Esse é o desafio experimentado pelo CMS ao criar condições para que as tropas aqui presentes sejam cada vez mais eficazes e aptas a operarem em qualquer cenário no cumprimento de missões de amplo espectro, seja na paz, seja nos complexos ambientes de conflito.


O COMANDO MILITAR DO SUL – OPERAÇÕES 2013

Operação Laçador
A Operação Laçador é um exercício concebido pelo Ministério da Defesa. Executada em um Comando Militar de Área, visa essencialmente adestrar as Forças Armadas. Nessa operação, militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea participam de diversos treinamentos e simulações de combate em diversos níveis, empregando variados escalões.

Em 2013, a Operação Laçador estabeleceu o Teatro de Operações SUL, cujo Comando foi atribuído ao CMS, tendo como área adjudicada os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, bem como o mar territorial até o limite de 200 milhas e o espaço aéreo correspondente.

Nesse treinamento, mais de oito mil militares das três Forças estiveram envolvidos no exercício, coordenado pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) e executado pelas tropas da Marinha, do Exército e da Força Aérea que, respectivamente, estiveram organizadas em Força Naval Componente (FNC), Força Terrestre Componente (FTC) e Força Aérea Componente (FAC).

Dentre os vários objetivos propostos, a Operação Laçador visa ao aprimoramento da integração operacional e logística em todos os níveis de comando e entre as Forças Singulares, contemplando um exercício de simulação próximo da realidade. A atuação conjunta favorece a sinergia de esforços e a coordenação dos segmentos envolvidos, o que maximiza os esforços operacionais e logísticos na obtenção da plena eficácia.

Esse exercício conjunto, sistematicamente realizado em sucessivas edições, vem proporcionando aperfeiçoamentos seletivos aplicados pelo EMCFA e pelos comandos encarregados de sua execução. No exemplo da Operação Laçador/2013, o CMS, responsável pela condução das operações no TO SUL, realizou diversas atividades nas quais as Forças praticaram e treinaram a execução de missões de guerra e não guerra. Ressalta-se que a coordenação de todas as atividades foi realizada segundo a modelagem de emprego conjunto, o que aperfeiçoou a conduta de todos os elementos envolvidos e contribuiu para sincronizar, no tempo e no espaço, as atividades operacionais e logísticas, integrando as forças militares, órgãos de segurança pública e, inclusive, as agências civis, cuja atuação é imprescindível em caso de conflito, uma vez que os desdobramentos e os efeitos de um sem números de ações se manifestam de maneira complexa, em um campo de batalha dinâmico, multifacetado e permeado por interesses diversos.

Destarte, pode-se identificar na figura anterior os escalões envolvidos no exercício, a organização do Comando do Teatro de Operações (ComTO), bem como as estruturas necessárias para que haja a eficaz sincronização de ações, sejam elas operacionais, sejam logísticas. Do organograma, infere-se, ainda, a existência de um sistema de comunicações integrado, capaz de proporcionar informações precisas e em tempo real, facilitando a ação e a unidade de comando, de modo a maximizar as operações conjuntas que envolvem mais de uma força ou órgãos de segurança pública.

Essa estrutura foi utilizada na Operação Laçador e segue o preconizado pela estrutura militar de defesa. No nível operacional, encontra-se o comando operacional, o ComTO, e, no nível tático, os comandos das forças componentes e os meios a elas subordinados. De acordo com a estrutura em vigor, a FTC, pelo emprego de seus meios, é responsável por vencer o combate terrestre.

A Operação Laçador foi uma excepcional oportunidade de treinamento, planejamento e execução de operações conjuntas em todos os escalões táticos. As forças componentes e elementos subordinados coordenaram atividades e ajustaram procedimentos, de maneira a alcançar a essencial sincronização de tarefas para que os efeitos almejados fossem atingidos. Isso proporcionou efetivamente um substancial avanço técnico-tático de emprego conjunto. Na verdade, as tarefas operacionais com objetivos comuns fizeram com que os segmentos envolvidos sofressem o necessário ajuste para que os fins fossem atingidos, a missão das forças componentes cumprida e o objetivo do ComTO alcançado.

Operação Ágata
Em 2013, o CMS realizou a 7ª edição da Operação Ágata. Essa operação teve como foco a condução operações militares preventivas e repressivas na faixa de fronteira entre os municípios de Chuí-RS e Guaíra-PR, em coordenação com os Órgãos de Segurança Pública Federais, Estaduais e Municipais e outros órgãos civis, a fim de contribuir para a redução das ações do crime organizado na faixa de fronteira e intensificar a presença do Estado nessa região.


Briefing durante a operação Operação Ágata

O controle do espaço aéreo foi executado pela FAC em estreita ligação com o COMDABRA e o controle marítimo foi exercido pela FNC por intermédio do emprego de forças militares em missões de patrulha e inspeção, em ambientes marítimo e fluvial. Efetivamente, a FNC também participou de inúmeras missões de inteligência, bem como coordenou ações do tipo ACISO, em várias áreas próximas às suas sedes.

O objetivo da Operação Ágata é a redução das ações do crime organizado na região da faixa de fronteira, contribuindo para a mitigação dos índices de criminalidade na Área de Operações que envolve a bacia do Prata. Essa operação contribui substancialmente para reduzir crimes transnacionais, evitar o surgimento de associações destinadas à prática delituosa, desarticular quadrilhas de lavagem de dinheiro e dificultar ou mesmo impedir a evasão de divisas potencializada pelo narcotráfico e contrabando.

A participação de agentes de comunicação social, da mídia local e estadual proporcionam uma coleta de informações extremamente positivas junto ao público-alvo. A população afetada com a operação dá mostras efetivas de apoio ao esforço inerente das atividades interagenciais, colocando-se à disposição dos órgãos e agências e não se incomodando de frequentemente ficar submetida a alguma ação de controle.

Entende que o benefício é muito superior aos pequenos minutos perdidos em algum ponto crítico, onde é necessária a realização de conferências mais abrangentes e específicas (regiões de check point ou Posto de Bloqueio e Controle de Estradas – PBCE). A participação assídua da população, integrada ao esforço combinado de todas as agências, está oferecendo um resultado cada vez mais contundente, o que faz com que os crimes nas regiões-alvo da operação Ágata sejam reduzidos ou mesmo neutralizados.

Essa efetividade quanto aos objetivos preestabelecidos e o sucesso operacional alcançado nas missões de emprego interagências dão certeza de que novas edições da Ágata estarão presentes nos planejamento do CMS.

 

REESTRUTURAÇÃO – CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UM PASSO À FRENTE


O CMS, por possuir a grande maioria dos meios convencionais de combate da Força Terrestre, é considerado o braço forte do EB. Herdeiro de uma tradição e de uma cultura de excelência em operações militares, esse Comando estrutura-se, atualmente, para continuar a dar, no presente e no futuro, as respostas requeridas pelo Exército.

Como parte integrante do processo de transformação do EB, o CMS desenvolve diversas atividades com o propósito de restaurar e ampliar a capacidade de suas tropas orgânicas de enfrentar as ameaças que estão inseridas na concepção de emprego das operações no amplo espectro.

A concepção geral do projeto, baseada em capacidades, para os marcos temporais de 2014 a 2016, orienta o processo de transformação do CMS, o qual deverá atender às seguintes premissas:

– contribuir para a dissuasão extrarregional consubstanciada no Plano Estratégico do Exército 2014;

– conduzir a transformação dos G Cmdo, GU e OM subordinadas, segundo a nova doutrina para que, tanto na fase do preparo, quanto na de emprego, sejam implementados os conceitos de “consciência situacional”, “elasticidade”, “modularidade”, “organização por tarefa”, “centralização seletiva” e “descentralização dos meios”, dentre outros, com o uso intensivo de Tecnologia da Informação e Comunicações;

– implantar estruturas flexíveis que facilitem a evolução da situação de paz para o conflito;

– adequar o CMS aos novos conceitos, particularmente, quanto à racionalização das estruturas, porém com maior capacidade de cumprir suas missões, quando ativado o TO/SUL, requerendo as novas concepções doutrinárias;

– implantar um Centro de Treinamento de Combate/SUL (CAA ou CTC/SUL) que permita o alinhamento estratégico e operacional de todas as atividades de simulação (construtiva, real e viva). A atividade de simulação deverá permear todas as atividades de adestramento, desde o nível individual até o nível adestramento de estados-maiores de grandes comandos.

Em síntese, as ações inerentes a esse processo de transformação que visa adequar o CMS às necessidades operacionais ínsitas em um novo ambiente operacional são:- reestruturar o Centro de Coordenação de Operações do CMS, em Porto Alegre-RS, por transformação da 6ª DE;

– implantar o Núcleo do 4º Grupamento de Engenharia, em Porto Alegre-RS;

– reestruturar o Comando da 3ª Região Militar, em Porto Alegre-RS;

– separar o Cmdo 5ª Divisão de Exército do Cmdo 5ª Região Militar, em Curitiba-PR;

– implantar os 3º e 5º Grupamentos Logísticos, respectivamente, em Porto Alegre-RS e em Curitiba-PR;

– implantar o Centro de Treinamento de Combate/SUL (CTC/SUL), em Santa Maria-RS;

– reestruturar a Base de Administração e Apoio/3ª RM, em Porto Alegre-RS;

– implantar o Centro de Formação de Soldado/Gu (C Form Sd/Gu);

– implantar o Núcleo do 2º Batalhão de Aviação do Exército (Nu 2o B Av Ex), em Canoas-RS;

– implantar o Núcleo da 4a Companhia de Forças Especiais, em Porto Alegre-RS e

– implantar o Comando Logístico/CMS, em Porto Alegre-RS.

As modificações planejadas pela transformação do Exército, plataforma das ações executadas pelo CMS, causam reflexos diretos na estrutura e na dinâmica desse Comando Militar de Área e possibilitam ajustes às perspectivas de se fazer presente em sua área operacional e de dissuadir, pela eficiência no emprego de seus vetores, qualquer ameaça que permeie o complexo cenário que envolve as missões relativas à Defesa, respaldando, assim, a estratégia da Mão Amiga e do Braço Forte.

Paralelamente a essas transformações, o CMS atribui singular prioridade para a preparação de seus quadros, incentivando o autoaperfeiçoamento em todos os níveis, implantando atividades e procedimentos que elevam a capacitação técnico-profissional de seus homens, proporcionando melhores condições de trabalho, seja no cenário operacional, seja em atividades administrativas e relacionadas com a família militar. Tudo isso com o sentido de consolidar uma cultura profissional vencedora, uma mentalidade verde-oliva de excelência, cujo alicerce é formado pelos valores básicos do Exército.

PROGRAMA DE RACIONALIZAÇÃO

 

ADMINISTRATIVA DA GUARNIÇÃO DE SANTA MARIA (PRORASAM)

O Programa de Racionalização Administrativa da Guarnição de Santa Maria (PRORASAM) surgiu da Análise do Ambiente Interno do Plano de Gestão da 3ª Divisão de Exército (3ª DE), seguindo diretriz do CMS. Nesse contexto, foram identificadas oportunidades de melhoria que apontavam para a necessidade de um trabalho mais profundo visando à melhoria da gestão administrativa da Guarnição (Gu) como um todo, onde as atividades deveriam ser desenvolvidas buscando a excelência militar, tendo como foco principal a operacionalidade.

Foi observado, então, que um dos grandes óbices existentes para o seu incremento é a presença, na Gu de Santa Maria, de um grande número de militares empregados fora das atividades-fim das OM, cumprindo atividades de cunho administrativo. Em razão dessa situação, o CMS coordenou e aprovou estudos no sentido de contemplar a racionalidade administrativa na gestão de atividades que envolvem significativa parcela de recursos humanos.

Após aprovadas as premissas do PRORASAM pelo EME, o CMS nomeou o Comandante da 3ª DE como seu gerente. O enfoque administrativo recebeu prioridade para que as “atividades-meio” pudessem ser racionalizadas ao máximo, o que, como consequência, proporciona fôlego para a implementação de novas atividades, dando espaço e criando condições para que as atividades-fim possam ser operacionalizadas e complementadas com maior eficiência.

Atuando nas áreas de: pagamento de pessoal, assuntos de justiça, seção de licitações e contratos, identificação militar, administração de vila militar e próprios nacionais, distribuição de fardamento e controle; o PRORASAM está alinhado estrategicamente com o Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX 2011), na área do Planejamento Administrativo do Exército, com particular enfoque nos objetivos traçados pelo Plano Básico de Gestão.

O PRORASAM possui estreito liame com o Projeto de Força do EB (PROFORÇA), na área crítica de gestão, visando atender aos aspectos da transformação da Força por meio da melhoria da qualidade na gestão dos processos administrativos, em particular a gestão dos recursos em pessoal e material de responsabilidade das diversas OM que integram uma Guarnição específica.

CONCLUSÃO

Ao longo do tempo, as forças militares se submetem ao chamado processo evolutivo. Tal evolução, em alguns casos, baseia-se na troca de material, em outros, em mudança de concepções de emprego. No entanto, de maneira emblemática, a vitória tende a pertencer àqueles que se antecipam às grandes mudanças na arte da guerra e não apenas reagem aos acontecimentos.

A evolução da arte da guerra, em todas as suas formas de manifestação, visa a evitar que as forças responsáveis pela defesa nacional se afastem continuamente da obsolescência. Esse aspecto inerente aos exércitos modernos impacta e incentiva novos processos evolutivos e, em se tratando do EB, orienta o processo de transformação em vigor.

Plenamente inserido no processo de transformação do Exército, o CMS enfrenta inúmeros desafios para dotar a Força Terrestre de capacidades e competências inerentes aos cenários do século XXI. Para isso, suas estruturas, de modo elástico e flexível, moldam-se para fornecer as respostas requeridas por um exército moderno e eficaz. O CMS, coerente com suas tradições, cultura e herdeiro de uma história de lutas e de vitórias, desafia as ameaças de hoje, caracterizadas por um inimigo opaco, por oponentes que não mais são transparentes, pela proliferação de grupos de interesses homiziados em organizações não governamentais, por estruturas de segurança incapazes de fornecer as garantias essenciais aos cidadãos, pela proliferação da criminalidade institucional e pelo fracionamento da autoridade constituída.

Com esse escopo, por constituir-se no CORE operacional do EB, por enquadrar a imensa maioria das forças blindadas e, ainda, por operar no “estado da arte” em vários segmentos determinantes da eficácia técnica e operacional na aplicação plena das capacidades e competências militares, o CMS está apto para cumprir sua missão, seja em um ambiente de guerra, seja em um cenário de não guerra, vocacionado para a defesa da Pátria, perpetuando sua essência e confirmando o lema de ser a elite do combate convencional.

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O Autor:

Nota DefesaNet Promovido a General-de-Brigada Comanda a  6ª Bda Inf Bld, 3ª DE / Comando Militar do Sul – CMS (Ver Matéria Link)

Coronel de Cavalaria Castro foi Assistente do Comandante de Operações Terrestres. Além dos cursos regulares da carreira, possui os de Paraquedista e de Piloto de Combate de Helicópteros, realizados no Brasil, o de Blindados nos EUA e o de Direção, Política e Estratégica no Chile.

Comandou o Curso de Cavalaria da Academia Militar das Agulhas Negras, o Centro de Instrução de Aviação do Exército e a Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Foi instrutor da Academia Militar de West Point (EUA) e participou de missões de paz na Iugoslávia e no Chipre. Serviu no Estado-Maior de Exército como formulador da Doutrina de Cavalaria. Foi Assistente do Comandante Militar do Sul (fbcastro85@gmail.com). 

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