Júlio Ottoboni
Correspondente DefesaNet
Como se não bastassem os intensos comentários junto aos funcionários de novas demissões na fábrica em consequência aos calotes do governo federal, a EMBRAER confirmou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, na última sexta-feira, dia 8, que irá transferir a produção do avião Phenom para sua unidade nos Estados Unidos, em 2016.
O Sindicato vai estudar, junto com uma equipe técnica, o impacto que essa medida pode trazer para os trabalhadores. Mas a decisão por parte da empresa, que cada vez mais se internacionaliza e retira sua produção do Brasil, é certa.
A confirmação aconteceu em reunião entre o Sindicato e a EMBRAER. Segundo a empresa, a transferência faz parte de uma estratégia de mercado e do projeto de ampliação do espaço físico da matriz da fábrica, em São José dos Campos (SP), que está saturada. Embora a EMBRAER tenha a opção de comprar o prédio desativado da Avibras 1, que é contigua a sua unidade.
Entretanto, para o Sindicato, essa medida faz parte do ‘ processo de desnacionalização dos aviões da EMBRAER’ e trará consequências diretas aos trabalhadores, como fechamento de postos de trabalho e interferência no plano de carreira dos funcionários que hoje atuam na produção do Phenom. Desde meados do ano passado a montagem dos aviões executivos vem sendo diminuída e os postos de trabalho estão sendo fechados.
O setor que produz o modelo movimenta cerca de 1.500 trabalhadores, direta e indiretamente. Em 2014, foram entregues 73 aeronaves Phenom 300, fazendo dele o jato executivo o com o maior número de entregas no mundo.
A EMBRAER é a maior empresa nacional do setor aeronáutico e uma das maiores empregadoras do Vale do Paraíba. Dos cerca de 40 mil metalúrgicos representados pelo Sindicato, cerca de um terço está empregada no setor. A desnacionalização dos aviões da EMBRAER traz impactos também nas empresas da cadeia produtiva do setor aeronáutico.
A C&D, por exemplo, que realizava em Jacareí a fabricação dos interiores das aeronaves Phenom 100, Phenom 300 e dos E-Jets 170 e 190, já transferiu a produção para uma joint venture entre Embraer e a C&D Zodiac, no México. A fábrica, que chegou a ter em 2010 cerca de 200 funcionários em Jacareí, hoje tem apenas 70.
“O Sindicato vai dar início a uma campanha, junto com os trabalhadores, para manter a produção do Phenom no Brasil. Vamos fazer assembleias na fábrica e lutar em defesa do emprego. É um absurdo a Embraer continuar com essa política de desnacionalização, que tanto prejudica o país quanto os trabalhadores”, afirma o vice-presidente do Sindicato, Herbert Claros.
A EMBRAER anunciou sua transferência para os EUA em maio de 2008, com a construção de uma fábrica na Flórida, para montagem e acabamento de aviões executivos, numa iniciativa que demandou investimentos na faixa de 51 milhões de dólares. O anúncio foi feito após uma reunião entre o presidente da fabricante brasileira de aviões, Frederico Curado, e o então governador da Flórida, Charlie Crist, terem escolhido como sede do novo projeto a cidade de Melbourne, a 140 milhas ao norte de Miami.
"O desenvolvimento desta nova instalação permitirá à EMBRAER suprir as crescentes demandas de seu negócio de aviação executiva", disse Frederico Fleury Curado, diretor-presidente da EMBRAER.
Em comunicado oficial, o governo do estado da Flórida informou na época que: “A nova fábrica será a primeira de sua categoria nos Estados Unidos. Será dedicada à montagem final, à pintura e à entrega do produto, além de um escritório de atenção ao cliente, que administra os pedidos do jato executivo Phenom”.
O compromisso da empresa é criar mais 600 postos de trabalho, num total aproximado de 800 empregados, até 2016, que incluem especialistas em montagem de aviões, planejamento por produto, qualidade e logística, design interior do avião, administração, algumas funções de engenharia, pintura dos aviões, entrega do produto e vôos de teste, entre outras funções.
E o processo de transferência de parte da linha de fabricação do Brasil para os Estados Unidos começou com a unidade de Mesa – Arizona. Implantada em 2008, executa serviços de manutenção, reparo e revisão na linha de aviões executivos Phenom e Legacy.
No mesmo ano veio a Unidade Windsor Locks – Connecticut, que também faz serviços de manutenção, reparo e revisão na linha executiva. Mas o golpe final veio com a Unidade Melbourne – Flórida. Implantada em 2011, é a primeira unidade nos Estados Unidos que realiza a montagem final de aeronaves. Produz a linha de executivos Phenom 100 e Phenom 300. Em novembro de 2012 tiveram início as obras de um Centro de Engenharia e Tecnologia na unidade de Melbourne, o mais avançado da Embraer.
Em julho 2011 o primeiro jato executivo foi produzido nos Estados Unidos, ainda recebendo peças de São José dos Campos. Em outubro de 2014 a direção da EMBRAER iniciou a construção da fábrica para montagem das aeronaves Legacy 500 e Legacy 450 nos Estados Unidos. Em cerimônia com a presença do Governador da Flórida, Rick Scott e outras autoridades locais, a Empresa celebrou a ampliação dos atuais 20 mil metros quadrados da Unidade localizada no Aeroporto Internacional de Melbourne.
Hoje a unidade de São José dos Campos que produz os jatos executivos tem cerca de 1,5 mil funcionários. A unidade de Évora, em Portugal, também produzirá aviões desta categoria voltados ao mercado da Europa. O que reduz em muito a sobrevivência da unidade fabril em solo brasileiro.
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Em visita ao Brasil no mês de Dezembro o Vice-Premiê russo Rogozin, responsável por toda a área industrial de defesa a aeronáutica da Federação da Rússia declarou à DefesaNet:
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"A EMBRAER é na verdade uma empresa norte americana, entendemos isso".
Leia a íntegra da reportagem:
Russos querem criar fábrica de avião no Brasil independente da Embraer Link