O Exército Brasileiro foi o último das três forças militares a abrir as portas para mulheres. Provavelmente por ser a força terrestre e pela imagem construída do homem forte e poderoso que conquista seus objetivos no campo de batalha.
É o que acredita a major Carla Clausi, que assumiu no último dia 23 a direção do Hospital de Guarnição de João Pessoa, se tornando a primeira mulher a comandar uma unidade militar do Exército nacional. Apesar disso, ela acha que durante os seus 19 anos de carreira o cenário já apresentou diversas mudanças e continua abrindo mais espaços para as mulheres.
“Existia o contexto histórico de que a mulher é esse ser frágil e que as forças armadas estavam ali unicamente para os homens. Inclusive na sociedade civil, só começamos a votar em 1932. São vários paradigmas que foram criados durante a nossa formação e que agora estamos conseguindo quebrar”, relata.
A major lembra que quando entrou no Exército, em 1996, ouvia de alguns generais que enquanto eles estivessem nas Força, as mulheres nunca fariam cursos operacionais. “Brincávamos que ficaríamos lá por mais tempo que eles e conseguiríamos mais essa conquista. A verdade é que eles tiveram que nos engolir. Hoje não existe mais esse tipo de comentário”, brinca a militar.
Carla conta que tentou fazer um curso de paraquedismo durante cinco anos e não foi permitida. “Fomos angariando mais espaço e em 2006 as mulheres foram permitidas a fazer este curso”, explica.
Em 2017 a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) iniciará a primeira turma de mulheres. “Ainda não existe mulheres de carreira de arma dentro do Exército Brasileiro, e esta conquista da turma da Aman é histórico. Hoje só existem mulheres como eu, na área de serviços e de saúde”, disse.
Mesmo celebrando as conquistas durante os anos, Carla concorda com alguns dos questionamentos feitos em relação até onde as mulheres podem ir. “Ainda existe a dúvida se podemos fazer a mesma coisa que os homens nas armas, por exemplo na Infantaria, Artilharia e Cavalaria. É comprovado que os homens são mais fortes e rápidos, então não sabemos se as mulheres poderiam acompanhar uma tropa masculina. Isso tem que ser questionado”.
Segundo ela, quanto ao cargo que ocupa hoje não há dúvidas. “Somos capazes de assumir cargos de liderança. Sou a primeira apenas por questão de tempo, mas existem várias outras atrás de mim que em pouco tempo estarão onde estou. Lutar por isso não é feminismo, é igualdade”, finaliza a major.