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GIGN – Voo AF 8968 – 20 Anos

Sequestro Aéreo!
O GIGN francês em ação.
A Retomada do Air France 8968

Fernando Diniz

Na noite de 24 de Dezembro de 1994, quatro membros de um grupo terrorista autodenominado Armed Islamic Group (AIG) conseguiram embarcar, disfarçados de seguranças do aeroporto, em um Airbus da Air France, vôo AF8968 que se preparava para decolar do aeroporto de Argel para Paris. Aos gritos de "Allah u Akhbar !" eles empunharam fuzis de assalto AK-47 e informaram que a aeronave estava sob seu comando e todos os passageiros e tripulantes eram seus prisioneiros.

Começava assim uma das mais sangrentas operações de resgate da historia.

O pessoal do GIGN, arrancado abruptamente de seus festejos de Natal, reuniu-se no aeroporto de Neully, onde a Air France já havia posto a disposição um Airbus idêntico ao seqüestrado, para que pudessem obter o máximo de informações para o planejamento de uma eventual operação de resgate. Em seguida, decolaram com destino a Argel, embora ainda não tivessem recebido autorização de pouso por parte das autoridades argelinas.

Enquanto isto, os terroristas exigiam que as escadas externas fossem retiradas do avião, e que recebessem permissão para voarem para Marselha. Como as autoridades argelinas negassem a autorização, o líder do grupo, Abdul Yahia ameaçou começar a matar um refém a cada meia hora. Autoridades francesas a nível ministerial mantinham contato permanente com seus equivalentes argelinos, enquanto a força de elite do exército argelino, os Ninjas, tomavam posição ao redor do avião. Mergulhados em uma selvagem luta de três anos contra os fundamentalistas islâmicos, os Ninja não estavam dispostos a permitir nenhum tipo de negociação, e dispostos a invadir a aeronave, a qualquer custo. Neste meio tempo, o avião com o GIGN pousava em Palma de Mallorca, território espanhol, pois não haviam recebido autorização de pouso em Argel.

Para mostrar que não estava brincando, Yahia escolheu a bordo dois passageiros ao acaso, um policial argelino e um diplomata vietnamita, e levou-os para a frente do avião. Ouviram-se gritos por misericórdia, seguidos de dois estampidos, e os corpos de ambos rolaram pela escada dianteira até o chão da plataforma.O aviso era claro: ou fazem o que queremos ou a matança vai começar. Os árabes estavam dispostos a morrer, e levar com eles todos os ocupantes do avião.

Depois de demoradas e acaloradas discussões entre os ministros argelinos, pressionados pelos franceses, e o comandante dos Ninja, as escadas foram finalmente retiradas e o vôo AF8968 decolou com destino a Marselha, onde já o aguardava o GIGN, que havia decolado de Palma de Mallorca logo que soube da autorização dada ao AF8968, chegando a Marselha apenas dez minutos antes do avião seqüestrado.

Comandado pelo Cap. Denis de Favier, os homens do GIGN já estavam em posição, com snipers na torre de controle, enquanto outro grupo de elite, os paraquedistas do EPGN camuflavam-se ao longo da pista, observando de perto a aeronave que taxiava em direção ao pátio de estacionamento. As negociações agora estavam totalmente em mãos do GIGN. O comandante local do GIGN, Alain Gehim, assumiu o contato direto com os seqüestradores, a partir do sistema de comunicação da torre de controle. A prioridade era conseguir ganhar tempo suficiente para que a força de ataque, sob o comando de de Favier, conseguisse articular um plano de invasão da aeronave e resgate dos passageiros. Sob nenhuma circunstancia o avião deveria conseguir decolar outra vez.

Agentes franceses na Argélia haviam recebido uma informação do submundo local de que os homens da AIG pretendiam explodir o avião nos céus de Paris, derrubando-no no meio da cidade. Informações obtidas de passageiros liberados corroboravam esta suspeita, pois afirmaram terem ouvido várias vezes os terroristas referirem-se a "eterna luz de Allah", que é a visão islâmica da morte pelo martírio.

Temendo que explosivos tivessem sido colocados dentro do avião, o GIGN fazia seus planos com muito cuidado. Agora era o governo francês que pressionava por um desfecho rápido, mas de Favier insistia que precisava colocar microcâmeras e microfones dentro da aeronave, para obter uma visão clara do local, antes de invadir.

Os terroristas exigiam vinte e sete toneladas de combustível, o que era cerca de três vezes o necessário para um vôo a Paris, corroborando as suspeitas de pretendiam explodir a aeronave sobre a cidade, causando um holocausto.

Negociando sem cessar, Gehim ofereceu comida e a limpeza dos toiletes do avião, o que foi aceito pelos terroristas. Isto deu ao GIGN a chance de, disfarçados de empregados da Air France, colocarem os microfones e microcâmeras que precisavam dentro do avião. Em troca, pediu a liberação de mais alguns reféns. Logo após o meio-dia um casal idoso desceu as escadas, deixando a bordo ainda cerca de 150 aterrorizados passageiros, além da tripulação. Este casal confirmou a presença de explosivos a bordo, além de confirmar que os terroristas estavam pesadamente armados, cada um com um AK-47 e vários carregadores de reserva. Tinham também granadas de mão.

Rapidamente o GIGN chegou a um consenso de que deveriam atacar imediatamente. Foram divididos em quatro grupos, que subiriam por escadas motorizadas colocadas nas quatro portas da aeronave, enquanto uma ação diversiva era feita na frente do avião para atrair os terroristas para a cabine de comando.

As 1600hs tudo estava pronto. Os atacantes vestiam coletes a prova de balas, capacetes de Kevlar com visor blindado, e portavam submetralhadoras MP-5, pistolas Glock e revólveres.357Magnum de cano longo.

No momento em que começavam a mover-se, ouviram o ruído das turbinas do avião acelerando, e lentamente a aeronave começou a mover-se em direção à torre de controle.

Rapidamente os homens do GIGN tiveram que alterar suas posições para não serem vistos de bordo. A aeronave parou a poucos metros da torre, e o cano de um AK-47 saiu por uma janela lateral, vomitando uma torrente de balas de 7.62 contra os vidros.

Neste momento, um sniper do GIGN abriu fogo com um rifle calibre .50 contra a cabine. Sua intenção não era tentar atingir alguém, pois atirava alto, porém chamar a atenção dos terroristas, pois o som das pesadas balas calibre .50 batendo no teto da cabine era assustador. Enquanto isto, o primeiro grupo de ataque subia em fila dupla a escada que levava à porta da primeira classe. Um deles abriu por fora a porta, e a primeira dupla, empunhando uma MP-5 e um Magnum irrompeu na aeronave. E todo o inferno se desencadeou..

Encontraram uma dupla de terroristas de boca aberta, e enquanto um deles recebia um tiro de Magnum na cabeça, uma barragem de fogo de AK caiu como uma avalanche de aço sobre ambos. O suboficial Thierry levantou sua MP-5 para tentar responder ao fogo, porém foi instantaneamente atingido por sete balas de 7.62. Três perfuraram seu braço direito, arrancando três dedos da mão direita, que empunhava a submetralhadora, e destruindo-a no processo.Outros projéteis atingiram seu ombro e peito, esmagando-se contra a blindagem do colete. Outra ricocheteou em seu capacete, jogando-o no chão, ao mesmo tempo em que alguém gritava: "Granada!" e a explosão derrubava vários de seus colegas, enchendo suas pernas de estilhaços.

Eric, que havia abatido o primeiro terrorista, teve o Magnum arrancado de sua mão por uma bala que atingiu o longo cano da arma. Um instante depois, também ele estava caído, com sangue correndo pelo rosto, pois seu capacete era a prova de balas de 9mm, mas não de 7.62, e uma delas havia perfurado a blindagem e atingido de raspão sua cabeça.

O fogo dos AK-47 não cessava. O suboficial Olivier entrou na cabine para ser imediatamente atingido por vários impactos em seu colete, sofrendo ferimentos na espinha e no quadril esquerdo. Já eram seis os GIGN caídos, e sequer o primeiro grupo tinha entrado inteiramente no avião. Os terroristas, altamente treinados, trocavam seus carregadores com espantosa rapidez, mantendo uma torrente ininterrupta de balas 7.62 através do corredor. Outro atacante, ao levantar sua Glock para tentar responder ao fogo, teve a arma atingida e destruída, levando com ela vários de seus dedos.

A segunda turma chegava agora, encontrando seus companheiros abatidos, e abria fogo contra a divisória da cabine de comando, de onde vinha o fogo inimigo. Enquanto este grupo mantinha a pressão, outros GIGN corriam para o fundo do avião, e abrindo as portas de emergência, evacuavam todos os 159 passageiros e tripulantes, que milagrosamente não haviam sido atingidos naquele inferno.

No momento em que viu sangue brotando do peito de um dos terroristas, o navegador teve a chance de cair fora, e saltou por uma das janelas abertas da cabine, caindo de uma altura de cinco metros, quebrando uma perna. Porém a rápida intervenção das ambulâncias que a esta altura já cercavam o avião levou-o para lugar seguro e tratamento adequado. O piloto e o co-piloto continuavam na cabine, escondidos em frente a seus assentos, enquanto Yahia, embora ferido, continuava a disparar furiosamente. Outros dois membros do GIGN já tinham sido atingidos.

O combate já durava dez minutos quando, seguindo ordens de de Favier, os gendarmes começaram a atirar contra os pontos específicos, atrás do anteparo, de onde vinham os disparos inimigos. Em seguida, ouviram a voz do comandante pedindo para cessarem fogo. Entrando na destroçada cabine, encontraram três terroristas crivados de balas, com seus corpos cobrindo os dois tripulantes, a cabine destroçada e pilhas de cartuchos vazios de 7.62 pelo chão.

A ação do GIGN em Marselha mostrou ter sido a mais dramática operação antiterrorista desde a operação do SAS em Princess Gate. Diferente de outras operações, como a de Djibouti e Princess Gate, os snipers tiveram papel extremamente limitado nesta operação. Toda a luta foi um selvagem corpo a corpo num local apertado e a queima-roupa.

A imprensa internacional deu ampla repercussão a ação do GIGN


Morreram os quatro terroristas e os dois passageiros executados em Argel. Sete homens do GIGN foram feridos, apenas três com certa gravidade.

Foi uma operação cirúrgica de extrema complexidade, onde o GIGN dominou todo o grupo terrorista, com reféns entre eles, dentro de um espaço extremamente restrito, sem causar a morte de um único inocente, honrando as mais altas tradições desta força de elite da gendarmeria francesa.

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