Segundo ele, o acordo é "uma violação clara das diretrizes alemãs sobre exportação de armamentos, que proíbem o fornecimento de armamentos a áreas em crise". Mützenich afirmou que a Arábia Saudita ajudou na repressão ao movimento democrático no Barein e tenta obter a bomba atômica.
Barril de pólvora
"A Arábia Saudita fica no meio de um barril de pólvora", acusou a secretária-geral do Partido Social Democrata (SPD), Andrea Nahles. "Não cabe a nós enviar palitos de fósforos para lá", complementou a política. A chefe dos verdes alemães, Claudia Roth, afirmou que o caso é um "desastre de credibilidade para a política externa alemã".
O deputado verde Volker Beck também classificou a aprovação da exportação de armamentos aos sauditas como "uma quebra" dos princípios vigentes até agora na Alemanha para o setor. A oposição quer levar o assunto ainda esta semana para ser debatido no Parlamento.
"Cúmulo do cinismo"
A ex-ministra da Cooperação Econômica Heidemarie Wieczorek-Zeul, do SPD, classificou a autorização para exportação de tanques para a Arábia Saudita como "o cúmulo do cinismo". Ela afirmou que, dessa forma, estariam sendo feridos princípios políticos alemães, segundo os quais não deve haver fornecimento de armas para zonas de conflito ou para países que violam os direitos humanos.
A notícia também não agradou à bancada democrata-cristã no Parlamento. O presidente do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, Norbert Lammert, e a especialista em direitos humanos, Erika Steinbach, ambos da União Democrata Cristã (CDU), partido de Angela Merkel, foram alguns dos conservadores que se manifestaram contrários ao negócio. Lammert também ressaltou que há poucas semanas os sauditas utilizaram tanques para reprimir manifestações em Barein.
Alguns tanques já teriam sido vendidos
O governo alemão não quis fazer comentários, alegando que as sessões do conselho são secretas e que informações sobre exportações de armamentos só são fornecidas após o negócio ter sido fechado. O Ministério alemão do Exterior declarou apenas que a Arábia Saudita "é um parceiro importante para a Alemanha, tanto econômica como politicamente".
Informações da agência de notícias Reuters dão conta, no entanto, que os sauditas já teriam comprado 44 tanques Leopard de um total de 200 unidades que o país pretende adquirir da Alemanha. As informações foram obtidas, segundo a agência, através de fontes sauditas da área de segurança. Os informantes, que preferem ficar no anonimato, não quiseram citar um volume financeiro concreto do negócio, que deve somar vários bilhões de euros.
Crises na região
sta seria a primeira vez em décadas que a Alemanha aceita exportar armas pesadas ao país árabe. Desde os anos 80, Berlim vinha recusando tais negócios com Riad, sob a alegação de que poderiam representar uma ameaça a Israel.
A venda de tanques para a Arábia Saudita é tema delicado com vista às revoltas populares que sacodem a região. A monarquia saudita apoiou com milhares de soldados a repressão das manifestações no vizinho Barein.
A Arábia Saudita está modernizando suas Forças Armadas devido ao crescente poderio militar do Irã. No ano passado, o país estava negociando com Madri a compra de 270 unidades da versão espanhola do Leopard por um valor de 3 bilhões de euros.
Terceiro maior exportador de armas
Segundo a Der Spiegel, os sauditas decidiram agora comprar a maior parte dos veículos dos fabricantes alemães, as empresas Krauss-Maffei Wegmann e Rheinmetall.
A Alemanha é o terceiro maior exportador de armas do mundo e a Arábia Saudita é seu sexto principal comprador. Em 2009, foram autorizados sete contratos de venda de armas por cerca de 168 milhões de euros, segundo dados oficiais. No mesmo ano, foram vendidos 147 tanques Leopard ao Chile, Brasil, Finlândia, Grécia, Cingapura e Turquia.
MD/rtr/dpa/epd
Revisão: Carlos Albuquerque