Pedro Riopardense
Especial para DefesNet
O Reino Unido, compreensivelmente, tem impedido sistematicamente o reequipamento da Força Aérea Argentina. O objetivo é manter Buenos Aires longe do arquipélago das Falklands/Malvinas, dificultando eventuais aventuras militares como a de 1982. As forças armadas platinas sofrem os efeitos de décadas de abandono, depois de perderem um conflito externo contra os britânicos e de sofrerem o repúdio da população por desenvolverem uma guerra interna contra o terrorismo com repercussões até hoje. Hoje, são uma pálida sombra de tempos em que dispunham do melhor equipamento disponível na América do Sul.
A maior vítima desse processo de sucateamento foi a Força Aérea Argentina, que apresentou um desempenho excepcional no conflito de 1982. Hoje, apenas parte dos A-4R Fightinghawk — Skyhawks modernizados no final da década de 1990 — encontra-se operacional. Os Dagger, de fabricação israelense, os Mirage III e V, de fabricação francesa, praticamente não possuem mais condição de voo. Ciente desse processo, as autoridades do país manifestaram seu desejo de adquirir 24 caças Gripen E/F dentro do padrão que será adotado pelo Brasil, a chamada versão BR. Cada avião teria o custo de US$ 150 milhões com manutenção incluída.
A resposta de Londres foi clara: não permitirá a exportação de componentes britânicos para a Argentina. Foi a terceira interferência nos planos de Buenos Aires nos últimos doze meses. Inicialmente, as autoridades argentinas pretendiam adquirir caças Mirage F-1 modernizados pela Espanha. Em seguida, avaliaram aviões Kfir C-10 — rejeitados pelo Brasil em 2002 pelo péssimo estado das células. As duas tentativas caíram por terra diante da obstinada reação do Reino Unido, que mantém permanentemente uma patrulha de quatro caças Typhoon em Port Stanley.
Componente vital
No Gripen, o embargo britânico afeta o sistema de combate do avião. O radar RAVEN é fabricado na Escócia por uma subsidiária da italiana SELEX, membro do grupo Finmeccanica. Não há alternativa viável. A ELTA, a Northrop-Grumman e a Raytheon foram consultadas pela SAAB no início do projeto NG, em 2006, e foram impedidas pelos governos de Israel e dos Estados Unidos de participarem do programa.
Esta obstinação, no entanto, pode ser contraproducente. Um bom exemplo ocorreu em 2003 quando a Aviação Militar Bolivariana da Venezuela manifestou à EMBRAER a intenção de adquirir doze AMX-T equipados para guerra eletrônica e doze aviões de ataque leve EMB-314 Super Tucano. Seguindo instruções diretas do então presidente, George W. Bush, o Departamento de Estado norte-americano manifestou sua posição contrária ao negócio, embargando o fornecimento de motores e de aviônicos.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, insistiu no projeto durante três anos, sem que os estadunidenses, contrários ao governo de esquerda, mudassem de posição. Sem alternativa, a administração bolivariana procurou outros fornecedores. O resultado foi a aquisição de 24 caças Su-30MKV, que abriu uma verdadeira corrida armamentista no subcontinente sul-americano.
Alternativas
Buenos Aires está estreitando seus laços com a República Popular da China e com a Rússia. Foi a alternativa encontrada pela presidente Cristina Kirchner para enfrentar o bloqueio imposto pela banca internacional depois que a Justiça de Nova York impediu o pagamento aos credores que aceitaram as condições do Plano de Repactuação dos Títulos do Tesouro Argentino, que impuseram um deságio de 70% na dívida.
A RPC pode fornecer caças JF-17 a baixo custo. Ao preço de um Gripen BR, a FAA receberia três caças de fabricação chinesa. O mesmo ocorre com a Rússia. Há versões de alto desempenho do MiG-29 disponíveis no mercado a um preço 50% inferior ao do produto da SAAB. Um mix low-high seria viável, uma vez que os dois modelos compartilham o mesmo motor, o RD-93 fabricado pela Klimov, e integram os mesmos mísseis.
Os pilotos argentinos, treinados na doutrina ocidental, querem um produto europeu ou norte-americano, mas é grande a diferença entre querer e poder. Se não houver condições políticas para adquirir os Gripen BR, que começariam a ser entregues em 2024, o governo argentino terá de partir para uma solução viável. Mesmo a compra de Kfir C-10 como caça de transição, que se encontra em estudo, está submetida ao risco de embargo. O avião emprega uma turbina J-79 de fabricação norte-americana e as relações entre Washington e Londres são mais que carnais.
A experiência sul-americana mostra que embargos não levam a lugar nenhum e podem criar uma corrida armamentista. A Grã-Bretanha tem dez anos para refletir sobre o problema. O Ocidente não é a única fonte de fornecimento de equipamentos militares.
Características JF-17
O PAC JF-17 Thunder (Trovão), ou CAC FC-1 Xiaolong (Fierce Dragon – Dragçao Feroz), é um caça multifunção, de um motor desenvolvido em conjunto pelo Paquistão (Pakistan Aeronautical Complex – PAC) e a Chinesa Chengdu Aircraft Corporation (CAC).
O JF-17 pode ser usado para várias missões:
– Reconhecimento aéreo;
– Ataque terrestre
– Interceptação aérea, e ,
– Guerra Eletrônica
O Míssil Anti-Radiação (MAR) da brasileira Mectron está integrado à versão paquistanesa do JF-17.