Por Thomas E. Ricks – Texto do Foreign Policy
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel
Se Síria e Iraque não existissem, teríamos que inventá-los. É difícil ver que outro arranjo seria um avanço no Oriente Médio, especialmente se considerarmos a ascensão dos movimentos salafistas e a aposta do Irã para assumir a hegemonia local.
Ao longo do tempo têm havido duas abordagens para lidar com essa “Arábia pós-Sykes-Picot” (acordo de influência sobre o Oriente Médio assinado entre França e Reino Unido em 1916). Uma delas é criar uma ordem mais alinhada com a diversidade étnica – o Curdistão sendo o “garoto-propaganda” da iniciativa. Mas um Curdistão étnico é um acidente esperando para acontecer, uma anomalia geográfica cercada por inimigos tradicionais. Mesmo um Curdistão no Iraque é, em grande medida, uma criação dos excessos dos órfãos de Saddam Hussein e da intervenção americana.
A outra opção envolve submeter mini-Estados instáveis a uma ordem regional – neo-Otomana, neo-Abássida ou um califado sunita, e isso muito provavelmente levaria a algo com sabor de ISIS.
Em termos polidos, nenhum desses resultados significa vitória geopolítica para os Estados Unidos. Também seria uma catástrofe humanitária de proporções épicas envolvendo, no mínimo, deslocamentos populacionais de larga escala, e com certeza muitas mortes. Em outras palavras, algo moralmente repugnante. Por fim, eu apontaria que “autodeterminação nacional (entenda-se étnica/sectária/tribal)” contradiz nossos princípios políticos mais profundos. Se não fosse por isso, devolução seria uma ótima ideia.
O Iraque e a Síria modernos de jeito nenhum são abominações históricas. A região do Tigre-Eufrates vem sendo um “sistema humano” coerente há muito tempo. Juntar os cacos desse Humpty-Dumpty no Oriente Médio não será fácil, rápido nem divertido. Mas é a opção menos pior, de longe.