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A infraestrutura na mira do exército

Rodrigo Caetano

Pergunte a um engenheiro qual é a fase mais importante de uma obra. Ele, provavelmente, vai responder que é o projeto. Se bem-feito, o planejamento garante uma execução sem surpresas. Tratando-se de licitações públicas, esse é um problema generalizado.

A falta de informações e de detalhamento da obra pode gerar um edital mal especificado e, posteriormente, os famosos aditivos, que encarecem os contratos. Acabar com esse tipo de situação é a mais recente missão do Exército Brasileiro. No Quartel-General, em Brasília, uma equipe de engenheiros militares trabalha no desenvolvimento de um software capaz de catalogar absolutamente todas as grandes obras realizadas no País.

O projeto é capitaneado pelo general de brigada Marcelo Eschiletti, que comanda a diretoria de obras militares. O sistema, de codinome Opus, já está sendo utilizado pela diretoria, responsável por manter e atualizar os imóveis – como prédios administrativos e quartéis – de propriedade do Exército no País.

“A ferramenta me permite ver o que está acontecendo em cada obra, na mesma hora”, afirma o general Eschiletti. “Se há qualquer atraso, fico sabendo.” Desenvolvido no Brasil, com ajuda da empresa americana Autodesk, criadora do AutoCad, software de engenharia mais utilizado do mundo, o sistema Opus chamou a atenção do governo.

Desde o ano passado, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), dirigido pelo ministro Mauro Borges, trabalha em parceria com o Exército para replicar o sistema, que estará disponível a todas as empresas participantes de licitações de obras públicas.

A ideia é criar uma biblioteca de projetos que servirão de modelo para toda e qualquer obra pública, em especial as de infraestrutura. “Obras são muito semelhantes”, afirma Eschiletti. “Uma estrada, por exemplo, é sempre uma estrada.” Ao padronizar os modelos utilizados, o Exército e o governo esperam acabar com os editais mal elaborados e obras que, no final, acabam custando muito mais do que o previsto.

É o caso, por exemplo, da construção das usinas de Belo Monte, no Pará, e de Santo Antônio, em Rondônia. A primeira, orçada inicialmente em R$ 19 bilhões, em 2010, para ser construí­da em quatro anos, já exigiu um desembolso de R$ 30 bilhões.

A segunda estourou o orçamento em R$ 1,5 bilhão. Até o fim deste ano, o Mdic planeja lançar um portal no qual essa biblioteca poderá ser acessada, segundo afirmou Marcos Otávio Bezerra Prates, diretor do departamento de indústria intensiva do ministério, no fim do ano passado. Com o sistema em funcionamento, as empresas que entraram em licitações terão de basear suas propostas em projetos pré-aprovados e bem detalhados.

Além disso, elas terão de apresentá-las em arquivos digitais, o que vai acarretar mudanças na forma de trabalho da iniciativa privada. O Opus exige que as plantas e demais desenhos do projeto sejam feitos em 3D.

Os arquivos digitais precisam se adequar a um formato específico, em linha com um conceito chamado modelagem de informações da construção (BIM, na sigla em inglês). Trata-se de uma tecnologia ainda pouco difundida no Brasil.

Segundo um estudo da consultoria americana McGraw Hill, especializada no setor, cerca de 70% das empresas que usam esse tipo de sistema o fazem há menos de dois anos e têm, portanto, pouca experiência no assunto.

Além disso, o BIM é utilizado em apenas um terço dos projetos por 75% das construtoras que já o adotaram. O potencial de controle do Opus, no entanto, é muito maior do que a padronização dos projetos a serem licitados.

Em demonstração feita à DINHEIRO, o coronel Alexandre Fitzner do Nascimento, um dos responsáveis pelo sistema, mostrou como o software está revolucionando a gestão das obras militares. Na tela do seu computador, um mapa mostrava todas as empreitadas em curso. Dando um zoom no local a ser analisado, ele tem acesso a informações básicas, como orçamento e objetivo.

A cada aproximada, mais dados vão sendo disponibilizados. Em certo ponto, Fitzner acessou imagens transmitidas diretamente do local da obra, além de um desenho em 3D do prédio a ser construído.

Com o mouse, ele conseguia fazer um “tour” virtual pela edificação, inclusive em sua parte interna. “Fizemos a gestão de mais de 200 projetos, no ano passado, com apenas sete pessoas”, afirma o coronel.

A ideia do Mdic é tornar o sistema aberto a qualquer pessoa que queira consultá-lo, por meio da internet. Para os engenheiros e empresários do setor, será como assistir a um verdadeiro reality show da construção.

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