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Jobim elogia FHC e diz que hoje tem de tolerar idiotas

VERA MAGALHÃES
CATIA SEABRA

O ministro Nelson Jobim (Defesa) fez um discurso ontem na homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que foi interpretado como sinal de insatisfação com sua situação no governo Dilma Rousseff.

Começou dizendo que faria um "monólogo" dedicado a FHC -de quem foi ministro da Justiça e que o indicou para o Supremo Tribunal Federal-, e que deixaria "vazios" que o tucano iria "compreender perfeitamente".

Jobim elogiou o estilo conciliador do ex-presidente. "Nunca o presidente levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam", disse. A referência foi interpretada como uma alusão ao estilo duro de Dilma com seus auxiliares.

"Se estou aqui, foi por tua causa", afirmou, sem mencionar Lula nem Dilma.

Disse que, quando presidente, FHC construiu "um processo político de tolerância, compreensão e criação".

"E nós precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram." E citou Nelson Rodrigues: "Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento".

Esse encerramento da fala provocou perplexidade em governistas da plateia. "O que ele está querendo dizer?", indagou um petista.

Questionado sobre a fala, FHC disse que não viu nenhuma tentativa de fazer "comparações". Sobre os "idiotas", FHC sorriu e concordou: "É, aquilo foi forte".
Já o presidente do Instituto Teotonio Vilela, Tasso Jereissati, avaliou que o titular da Defesa "fez um discurso cheio de recados".

Aliados do ministro dizem que ele está, de fato, insatisfeito com Dilma. Recentemente se queixou a correligionários de que não é convocado para opinar política e direito, como Lula fazia.

Ele também ficou incomodado com o corte do orçamento de sua pasta. Assessores da Defesa negam que Jobim tenha manifestado a vontade de deixar o cargo. Hoje pela manhã o ministro tem audiência agendada com a presidente.

ECUMÊNICO
Vários aliados de Dilma participaram da homenagem a FHC no Senado: o governador Eduardo Campos (PSB-PE), o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o ministro Garibaldi Alves (Previdência). A mestre de cerimônias do evento foi a atriz Fernanda Montenegro.

O vice-presidente Michel Temer recepcionou o tucano na sala do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

No discurso, FHC se disse "muito feliz" com a carta elogiosa que recebeu de Dilma pelo seu aniversário de 80 anos e que viu no gesto a prova de que "não é preciso destruirmos um ao outro".

O discurso mais crítico ao PT foi feito por José Serra, que disse que, quando presidente, FHC jamais "passou a mão na cabeça de aloprado".

Ex-presidente não vê motivo para sigilo eterno
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, responsável pelo decreto que determinou o sigilo eterno sobre determinados documentos públicos, disse ontem ser contra o dispositivo.

"Não vejo mais razão para o sigilo", disse FHC.
A presidente Dilma Rousseff foi inicialmente favorável ao fim do sigilo eterno, mas depois recuou. Agora voltou atrás e trabalha pela aprovação do projeto, em tramitação no Senado.

FHC afirmou que tentaria fazer o senador e ex-presidente José Sarney mudar de ideia e defender a liberação dos papéis. Sarney, ao lado do também ex-presidente e senador Fernando Collor, é a favor do sigilo.

O tucano disse que assinou o decreto sem ler o conteúdo. "Fiz sem tomar conhecimento. Foi no último dia do mandato." O texto foi assinado em 27 de dezembro de 2002, cinco dias antes do fim do mandato.

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