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Província iraquiana de Anbar pode ser próxima conquista do “Estado Islâmico”

Já duram meses as lutas, entre o governo do Iraque e a organização terrorista "Estado Islâmico" (EI), pela província de Anbar. Apesar de quase desabitada, a gigantesca região no deserto é de grande importância estratégica.

Dados de Bagdá levam a crer que o EI já decidiu a luta em favor próprio, pois detém o controle de 80% da província. Além de Fallujah, em outubro também caíram em mãos terroristas as cidades de Hit e Kubaisa, ambas estrategicamente importantes.

Ao longo delas transcorre o corredor principal que vai da Síria até Bagdá, passando pelos postos de fronteira sírio-iraquianos. Assim, teoricamente a milícia sunita disporia de uma posição inicial forte para atacar a capital iraquiana.

Fraco Exército iraquiano

"As tropas iraquianas receberam até mesmo ordem de retirada", comenta Günter Meyer, do Centro de Estudos Árabes da cidade alemã de Mainz. Em consequência, o Exército deixou para trás todas as suas armas, entregando-as sem combates aos jihadistas. Segundo Meyer, "as tropas iraquianas não estão em condições de resistir ao EI": em geral, os militares são mal pagos e mal treinados.

Alguns também não estão dispostos a arriscar a vida pela manutenção do controle sobre Anbar. Grande parte do Exército iraquiano é composta por xiitas, enquanto a província é o bastião dos sunitas no Iraque. Hostilidades recíprocas fazem parte do dia a dia.

As tropas do governo ainda conseguem manter o controle sobre as represas em Haditha e Ramadi, porém se elas forem tomadas pelos milicianos, as consequências poderiam ser fatais. "Se elas caírem em mãos do EI, ele teria o controle do fornecimento de água e energia. Além disso, também poderia controlar o cinturão agrícola em torno de Bagdá", avalia o especialista em Iraque Günter Meyer.

Para o EI, a conquista de Anbar é uma dupla vitória estratégica. Lá estão localizadas importantes instalações militares, o que aumentaria o já vasto arsenal de armas e munições dos fundamentalistas sunitas. Além disso, eles estariam, assim, ainda mais perto de seu objetivo de conquistar Bagdá.

Medo da queda de Bagdá

Segundo a emissora britânica BBC, por esse motivo o governo iraquiano enviou um pedido urgente de ajuda aos EUA e aos seus aliados árabes. Em Bagdá, teme-se não ser possível manter o controle da província por muito tempo mais, e que em breve o EI esteja avançando sobre a capital.

"Aí aumentaria o número de atentados em Bagdá. A já precária situação local de segurança se agravaria ainda mais", antecipa Meyer. Além disso o aeroporto também poderia cair em mãos do EI.

Contudo, até agora os aliados do governo ainda não correram para ajudar a manter Anbar. É certo que, há semanas, a coalizão militar internacional liderada pelos Estados Unidos realiza ataques aéreos sobre posições do EI. Mas os jihadistas só puderam ser contidos nas regiões do Iraque onde os combatentes curdos peshmerga oferecem resistência.

Devido à grande atenção dada às lutas pelo controle da cidade curda de Kobane, na Síria, a campanha do "Estado Islâmico" em Anbar tem sido negligenciada. Lá, nem os ataques aéreos da coligação internacional foram capazes de conter o avanço do grupo terrorista, que assumiu o controle de cidades e vilarejos inteiros, quase sem resistência.

Ainda nenhuma ajuda para Anbar

No passado, houve planos para a instalação de uma central de comando em Anbar, a ser administrada em conjunto por iraquianos e americanos. Mas até hoje nada disso se concretizou. "Na verdade, o plano dos EUA era criar uma milícia tribal, uma assim chamada zahwa, que lutasse contra o EI", relata Günther Meyer. A ideia era reunir numa tropa os combatentes sunitas que lutaram no antigo Exército de Saddam Hussein e que ainda não se houvessem aliado ao "Estado Islâmico".

Mas desde que milícias xiitas, ou seja, os inimigos do EI, passaram a violar os direitos humanos, é pouca a motivação dos combatentes sunitas para se aliarem a uma zahwa. Nas últimas semanas, xiitas sequestraram e mataram dezenas de sunitas, em vingança pelos assassinatos perpetrados pelo "Estado Islâmico".

"Enquanto Bagdá continuar permitindo que as milícias pratiquem regularmente tais atrocidades, estará sancionando crimes de guerra e fomentando um círculo vicioso de violência de motivação religiosa, que destrói ainda mais o país", instou Donatella Rovera, consultora da ONG Anistia Internacional para resposta a crises, em relatório recente. "O governo iraquiano deve finalmente parar de apoiar o regime das milícias,"

Essa opinião é compartilhada pelo especialista Günter Meyer: "Atos de vingança devem ser proibidos e punidos", uma vez que os sunitas de Anbar só estarão dispostos a se unir à luta contra o EI quando sua confiança tiver sido recuperada. E apenas desse modo se poderá evitar a perda dessa importante província iraquiana.

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