Ele vai ou não vai? Será que Kim Jong-un vai participar das comemorações do 69º aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte nesta sexta-feira (10/10)? Esta foi a principal pergunta esta semana entre observadores da Coreia do Norte e na imprensa internacional.
A resposta é: não. Nas listas de convidados divulgadas pela agência estatal de notícias KCNA, seu nome não aparecia. Em vez disso, quem apareceu nas cerimônias foi Hwang Pyong So, o número dois na hierarquia do país. E a especulação em torno do paradeiro de Kim continua.
Na verdade, ele é um ditador acostumado com aparições públicas. Seja quando visita uma fábrica, durante exercícios militares ou quando passeia com sua esposa no parque de diversões, todos esses compromissos do jovem ditador sempre são acompanhados por câmeras. É assim desde que ele chegou ao poder, após a morte de seu pai, Kim Jong-il, no final de 2011.
"Kim Jong-un deixa a mídia e as pessoas chegarem bem mais perto dele do que, por exemplo, seu pai, que tendia a ser mais fechado", explica Rüdiger Frank, pesquisador sobre Ásia Oriental da Universidade de Viena e especialista em Coreia do Norte.
Entretanto, há pouco mais de um mês, a situação mudou. Desde então, Kim parece ter desaparecido. Ele foi visto em público pela última vez no dia 3 de setembro, durante um concerto. Na ocasião, o líder foi visto mancando, parecendo se mover com dores. As imagens de sua aparição lançaram as bases para uma série de especulações sobre o destino do jovem ditador. Será que ele tem problemas de saúde? Será que tem problemas com as pernas devido a seu excesso de peso? E esses são apenas os boatos mais inofensivos.
Muitas suposições, poucos fatos
Muitos também se perguntam se acontecimentos políticos poderiam estar por trás de seu sumiço repentino. Será que Kim foi afastado do poder? Essa é uma das suspeitas de exilados norte-coreanos que escrevem no portal de notícias online New International Focus, depois que, há cerca de uma semana, os números dois, três e quatro na hierarquia norte-coreana surpreendente visitaram o sul, onde mantiveram conversações. Um indício especial que reforçaria as teorias de derrubada de Kim foi o fato de que a delegação viajou no avião presidencial.
"As maiores lideranças do país estavam a bordo, com exceção de Kim Jong-un. Para mim, os três não pareciam simples enviados, mas sim os que realmente têm as rédeas nas mãos", considera Aidan Foster-Carter, especialista em Coreia do Norte da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Apesar de considerar motivos de saúde a razão mais provável para o sumiço de Kim, o especialista se pergunta sobre uma possível transferência de poder.
Já Frank, que esteve há três semanas na Coreia do Norte, afirma que, na ocasião, não encontrou evidência alguma que pudesse indicar essa troca de poder. "Comparado ao ano passado, o nome do líder foi muito mais frequentemente usado nos slogans onipresentes, e também em documentos impressos sua pessoa recebe destaque cada vez maior", ressalta.
Ele afirma que o sistema atual na Coreia do Norte está focado num único líder, e que este atualmente é, claramente, Kim. "Sem ele, o sistema não funcionaria", acredita. Por esta razão, Frank considera um golpe de Estado aberto uma suposição irreal. "Isso seria, na perspectiva da elite, uma grande estupidez. É bastante possível que diferentes grupos tentem influenciar o líder, mas não substituí-lo."
O governo sul-coreano também se distanciou de especulações sobre um suposto enfraquecimento político de Kim. De acordo com um porta-voz do Ministério da Unificação, citado nesta sexta-feira pela agência de notícias sul-coreana Yonhap, ele, aparentemente, continua exercendo seu cargo como de costume.
Mídia norte-coreana é reticente
Diferentemente da imprensa internacional, a mídia norte-coreana informa pouco e de forma muito reticente sobre o porquê de Kim não aparecer mais em público e como ele está. Nela, foram divulgadas apenas informações sobre um "mal-estar" do jovem estadista. "A saúde do líder não é tematizada oficialmente", frisa Frank. No entanto, ele acredita que também haja boatos no país, já que as imagens do líder mancando também foram vistas na televisão estatal local.
Na opinião do especialista, esse pode ser um truque tático do governante, uma forma especialmente escolhida para lidar com sua própria fraqueza física. "Com ajuda dessa encenação de sua doença, seja ela qual for, ele quer mostrar que é apenas um ser humano que se sacrifica pelo seu povo."
Já dura quase um mês e meio a especulação em torno do chefe de Estado, que era sempre tão presente publicamente. Mas mesmo que Kim eventualmente reapareça em cena, isso não significará necessariamente que ele dará, então, respostas exaustivas a todas as perguntas relacionadas ao seu desaparecimento. "Normalmente, o que aconteceria é que ele apareceria normalmente e tudo continua como antes", opina Frank. Tudo como se nada tivesse acontecido.
"Mas com Kim Jong-un, muitas coisas são diferentes dos seus antecessores. Então, não podemos descartar nada", observa o especialista. No final, só resta uma coisa: a incerteza. No livro que publicou recentemente Frank escreve, independentemente dos desenvolvimentos recentes: "Quanto mais importante é um elemento do sistema político da Coreia do Norte, menos conhecimento confiável temos e mais temos que confiar em rumores". No caso do ditador Kim, essa afirmação cabe como uma luva.