MATHEUS LEITÃO
RUBENS VALENTE
Um hacker invadiu o correio eletrônico pessoal da presidente Dilma Rousseff e copiou e-mails que ela recebeu durante sua vitoriosa campanha à Presidência da República, no ano passado.
O rapaz tentou vender os arquivos a políticos de dois partidos de oposição, o DEM e o PSDB, mas disse que não teve sucesso.
A Folha encontrou-se com o hacker segunda-feira, num shopping de Taguatinga (DF), a 20 km de Brasília. Ele não quis se identificar. Disse que se chama "Douglas", está desempregado, mora na cidade e tem 21 anos.
Ele afirmou que fez um ataque ao computador pessoal da então candidata em duas etapas e copiou cerca de 600 mensagens da sua caixa de entrada. Um dos e-mails que Dilma usava na época era do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
Ele disse que primeiro invadiu o site do diretório nacional do PT na internet e se aproveitou de uma vulnerabilidade da página para copiar e-mails pessoais de petistas e outros dados.
Depois, "Douglas" disse que despejou no computador de Dilma um programa capaz de armazenar tudo o que ela digitasse em sua máquina.
O hacker disse que decidiu vender as informações por estar "preocupado" com o nascimento do primeiro filho, previsto para breve.
"Douglas" também pediu dinheiro à Folha em troca das mensagens. A Folha não paga pelas informações que publica e recusou a proposta.
O rapaz foi com os repórteres a uma lan-house onde mostrou, de relance, o conteúdo de 30 e-mails armazenados num disco rígido externo. Ele não permitiu que a Folha fotografasse ou copiasse as mensagens.
A amostra que ele exibiu continha resultados de exames de saúde que Dilma teria feito em Porto Alegre (RS), instruções para a campanha eleitoral do segundo turno e uma agenda telefônica com dados de parentes e assessores da presidente.
O pacote também incluía cópia do pedido feito pela Folha para ter acesso a arquivos de Dilma no Superior Tribunal Militar, mantidos em sigilo na época, depoimentos ligados ao escândalo que levou à queda da ex-ministra Erenice Guerra, comentários sobre acusações feitas contra Dilma pela ex-diretora da Receita Federal Lina Vieira, e mensagens de boa sorte na campanha.
A Presidência disse ter dificuldades para confirmar se os e-mails de fato foram extraídos ilegalmente do correio eletrônico de Dilma.
Assessores que acompanhavam a presidente em 2010 foram acionados para tentar localizar as mensagens, mas o grupo não chegou a uma conclusão.
"O que importa é que, verdadeiros ou falsos, esses e-mails são frutos de um ato criminoso", declarou a ministra da Comunicação Social, Helena Chagas.
Dois remetentes, no entanto, identificaram no lote de "Douglas" mensagens que realmente haviam enviado para Dilma em 2010.
Numa, de 7 de outubro, o jornalista Kennedy Alencar, que na época era repórter especial da Folha, pedia que a candidata confirmasse sua presença no debate presidencial que o jornal organizaria dali a dez dias. Kennedy, que hoje trabalha na Rede TV!, participou da organização do evento e foi o apresentador do debate.
Na outra, o padre e cantor Fábio de Melo desejava boa sorte a Dilma na véspera do segundo turno da eleição, "dia histórico". Ele confirmou ontem à Folha que mandou a Dilma um e-mail com esse espírito na época, embora não se lembrasse com exatidão da mensagem.
"Douglas" disse que também violou o e-mail do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O petista, que está na Europa, disse que detectou a invasão de sua caixa postal no UOL e mandou registrar a ocorrência na polícia.
Dos e-mails que o hacker disse ter extraído de Dirceu, a Folha pôde ver dois. O ex-ministro disse que o conteúdo "fazia sentido" -uma conversa com o escritor Paulo Coelho, seu amigo, sobre um possível encontro na Europa-, mas não reconhecia "aqueles específicos".
Dirceu disse que seu e-mail pessoal foi invadido por volta das 2h da manhã da última segunda. Segundo ele, sua senha teria sido alterada após telefonema de uma pessoa ao serviço de atendimento ao usuário do UOL.
Segundo Dirceu, essa pessoa disse que perdera a senha e precisava recuperá-la e, para isso, teria fornecido dados pessoais do ex-ministro. O ex-ministro disse que, após procurar o UOL, conseguiu reaver o controle de sua caixa postal.
Colaborou LUIZA BANDEIRA, de São Paulo