MARCO ANTÔNIO MARTINS DIANA BRITO DO RIO
Uma troca de tiros entre traficantes no Complexo da Maré, zona norte do Rio, na tarde desta quarta (1º), interrompeu por meia hora o trânsito numa das principais vias de acesso à cidade: av. Brasil.
Motoristas pararam os carros e deitaram na pista para se proteger dos disparos enquanto observavam a movimentação de Fuzileiros Navais.
O Complexo da Maré, composto de 15 favelas, está ocupado por Forças Federais (Exército e Fuzileiros) desde 5 de abril. Nesta quarta, as disputas de traficantes, iniciadas em 20 de setembro, saíram do controle. Na base da Força de Pacificação, os militares falam em "crise na ocupação".
A expressão pode ser estendida a outras cinco comunidades, todas com UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora).
Desde domingo (28), tiroteios nos complexos do Alemão e da Penha, na Mangueira (todas na zona norte), na Rocinha e em Ladeira Tabajaras (na zona sul), assustam e surpreendem moradores.
SEM AULAS
Desde terça, duas pessoas morreram baleadas e cinco ficaram feridas. Mais de 11 mil crianças ficaram sem aulas nessas comunidades e não faltam relatos de bandidos caminhando com fuzis pelas ruas.
Nas polícias Militar e Civil, policiais não veem os diversos episódios como ação coordenada, mas suspeitam que possa haver influência política, dada a proximidade das eleições de domingo (5), aliada a uma ação de agentes corruptos junto a traficantes.
A Secretaria de Segurança informou que a polícia está atuando nesses locais. "É importante ressaltar que são comunidades que durante décadas foram abandonadas pelo Estado e que o processo de pacificação não irá recuar", afirmou a pasta, em nota.
O coordenador das UPPs, o coronel Frederico Caldas, informou, que "estes episódios são isolados e, em todos eles, a polícia agiu rapidamente evitando um problema maior".
Apesar de o coordenador minimizar os casos de violência, já está definido um reforço no policiamento em todas as 38 UPPs no dia da eleição.
A decisão é resultado da sequência de tiroteios. A população voltou a conviver com confrontos de traficantes em disputa por territórios.
DECAPITAÇÃO
No Conjunto Esperança, por exemplo, uma das 15 favelas da Maré, os moradores se depararam com o corpo de um jovem decapitado.
Era a primeira vítima de uma guerra entre as facções Terceiro Comando e ADA (Amigo dos Amigos) na comunidade.
Os criminosos da ADA entram na comunidade caminhando com fuzis e pistolas na mão, além de rádios transmissores.
Os confrontos aconteceram em 13 das 15 favelas do complexo. Apenas nas comunidades de Roquete Pinto e Praia de Ramos, ambas com milicianos, não houve troca de tiros. Nas outras, os militares contam que os confrontos têm sido constantes.
Moradores contam que os jovens vendem drogas armados e se escondem quando os militares passam em ronda.
A mesma prática tem sido relatada nas outras comunidades em conflito.