Augusto Scarella Arce
Jornalista / Tenente Coronel do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Chile
Mestre em Ciências Políticas, Segurança e Defesa
Os graves fatos que estão ocorrendo no atribulado Iraque e na frágil Síria, com o surgimento de um grupo que disputou a liderança da Jihad global com o grupo Al-Qaeda, o ISIS, podem parecer estar distantes do Chile. No entanto, suas ações comunicacionais levaram o conflito a todo o mundo, incluindo técnicas de marketing como parte de uma estratégia de comunicação, que superou inclusive sua capacidade de manobra militar.
Os sucessores da Al-Qaeda sofreram diversas metamorfoses no decorrer do tempo, variações tão improváveis como pertencer a um braço do temido grupo terrorista já citado.
As origens do ISIS remontam a um pequeno grupo extremista jordano fundado em 1999 e que, em 2004, ficou sob o domínio da Al-Qaeda no Iraque. Posteriormente, em 2006, ressurgiu como Estado Islâmico do Iraque.
Abu Bakr al-Baghdadi, seu líder desde 2010, suscita mistério e especulações. Muito pouco se sabe sobre ele. Acredita-se que tenha nascido em Samarra, no Iraque, no início da década de 70, tendo seus estudos culminado com um doutorado em educação na Universidade de Bagdá.
Em 2011, o líder Baghdadi realizou uma série de ataques suicidas contra objetivos majoritariamente xiitas. Com a intenção de obter um maior controle do território, ele tomou a decisão de enviar seus combatentes ao território sírio. Nem as constantes ameaças de Al-Zawahiri, o então líder da Al-Qaeda, o fizeram desistir.
Nomeou sua organização Estado Islâmico do Iraque e o Levante, e concentrou seus esforços em destruir ou absorver outros rebeldes sírios, organizando diversas ações além de aproveitar as jazidas petrolíferas, ao invés de combater diretamente Bashar Hafez al-Asad, presidente da Síria. Desde 2011 várias facções insurgentes tiveram origem na organização de Baghdadi.
Depois de ter controlado o oeste iraquiano nos primeiros quatro meses deste ano e de suas conquistas militares no norte deste país em junho, o grupo decidiu que o momento era propício a sua etapa mais dramática. Foi anunciado o estabelecimento de um califado: um Estado islâmico universal, liderado por um sucessor (califa) de Maomé, neste caso Baghdadi, o que veio acompanhado por outra mudança de nome do grupo, o Estado Islâmico (IS) ou ISIS ou ISIL, como é conhecido até agora.
As estratégias do líder
Diversas fontes estimam a existência de sete a oito mil combatentes do ISIS no Iraque e outros 5 mil na Síria. Segundo informações, há vários estrangeiros em suas fileiras na Chechênia, Afeganistão e Europa.
Chechênia, Afeganistão, Europa
Sua estratégia tem como objetivo implantar a Sharia em todo o território sírio e iraquiano. O ISIS já controla boa parte desses territórios, como veremos na ilustração a seguir. O avanço sobre Mosul soma-se às cidades já dominadas no início de 2014 e amplas zonas da província de Ambar.
Há alguns meses, os combatentes do ISIS chegaram a Ambar, no oeste do Iraque, procedentes da província síria de Rakka. Em janeiro eles se estabeleceram na cidade de Faluja, conquistaram depósitos de armas do Exército iraquiano e resistiram aos ataques das tropas do Governo.
Quanto aos recursos financeiros, a organização de Abu Bakr al-Baghdadi também tratou de se abastecer devidamente. Em junho deste ano, segundo informação do prefeito da cidade de Mosul, o ISIS tomou US$ 450 milhões de um banco da cidade.
Os combatentes do ISIS continuam a avançar em direção a Bagdá, lutando contra as forças de segurança e milícias xiitas. Os enfrentamentos ocorrem a 80 quilômetros da capital, mas algumas facções adiantadas já se encontrariam na metade da distância desta cidade.
O ISIS dispõe também de equipamento militar pesado, como tanques e helicópteros. Na Síria os combatentes já são financiados com o fruto das extorsões praticadas contra os cristãos que permaneceram em suas casas em troca de proteção.
Eles controlam ainda a maior refinaria de petróleo do país, capaz de processar 320 mil barris de óleo por dia. O grupo terrorista é forte ali, onde a população está dividida e os muçulmanos sunitas são a maioria. Na Síria foram bem recebidos a princípio pela oposição majoritariamente sunita, contra o presidente Bashar al-Asad, um alauita classificado como “inimigo do inimigo”.
No Iraque muitos sunitas veem a situação sob o mesmo ângulo. Sentem-se discriminados pelo Governo de Bagdá, dominado pelos xiitas. Por isto a milícia terrorista pode avançar facilmente e os combatentes locais rebeldes engrossam suas fileiras.
As a result, the terrorist militia may advance easily, and local rebels are joining their troops.
A batalha comunicacional, parte da estratégia militar
Execuções de supostos rivais por decapitação, que tentam impactar a população para que os cidadãos não se unam às fileiras simpatizantes do governo, vídeos de propaganda onde diferentes líderes explicam os propósitos da Jihad, ou guerra santa, o uso da rede Twitter para anunciar a morte por execução de 1.700 soldados xiitas, emissão de comunicados, investimentos em marketing – camisetas com imagens alusivas à causa – estimulam uma estratégia de comunicação cuidadosamente estudada e dirigida a um público específico, que deu resultados, e o governo iraquiano só impôs censura da internet no intuito de interromper esse fluxo.
A censura não funcionou efetivamente em nenhum país do mundo e não é a melhor forma de combater esse tipo de ameaça. Por muito tempo as forças menores e menos capazes valeram-se de técnicas de uso comunicacional para atrair a atenção e a simpatia de audiências externas para suas causas, o que fez com que se extrapolassem as decisões militares que poderiam ser adotadas para combater tais ofensivas.
No caso do ISIS, apesar de atualmente o grupo possuir uma relativa supremacia militar que vem sendo combatida com o envio de ajuda dos países da Coalizão, é de maior interesse que exista, por parte do governo iraquiano, um planejamento comunicacional que permita uma visão sob outra dimensão dos fatos que vêm ocorrendo na Síria e no Iraque.
O ISIS se preocupou em conquistar audiências, seja através da simpatia ou, principalmente, pelo terror, onde sem um trabalho estratégico comunicacional, devidamente planejado e dirigido, nem sequer contando com uma força militar suficientemente grande para controlar o território nas mãos dos jihadistas, será possível eliminar a influência sobre a população afetada pelo ISIS, questão para a qual o Governo do Iraque, apoiado pela Coalizão, deveria se planejar rapidamente.
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