Nesta segunda-feira (16/09), os Estados Unidos realizaram pela primeira vez ataques aéreos contra o "Estado Islâmico" (EI) nas imediações de Bagdá. Os bombardeios a um alvo 25 quilômetros a sudoeste da capital iraquiana fazem parte da expansão da campanha do presidente Barack Obama contra o grupo extremista, que já conquistou grande parte do Iraque e da Síria.
"O ataque aéreo a sudoeste de Bagdá foi o primeiro a fazer parte dos nossos esforços adicionais, que vão além da proteção do nosso pessoal e das missões humanitárias. O objetivo é atingir alvos do Estado Islâmico […] tal como foi definido pelo presidente durante seu discurso na quarta-feira", informou o Comando Central dos EUA em comunicado.
A expansão dos ataques para os arredores da capital do Iraque veio, portanto, menos de uma semana depois de Obama ter anunciado, num pronunciamento transmitido pela TV, uma guerra "implacável" contra o EI, incluindo ataques na Síria e uma intensificação dos ataques no Iraque para "destruir" os jihadistas.
Segundo o comunicado do Comando Central, no último domingo e nesta segunda-feira foram realizados ataques em apoio às forças de segurança iraquianas próximos a Sinjar e a sudoeste de Bagdá. Em Sinjar, seis veículos do EI foram destruídos, e nas imediações de Bagdá, o alvo foi uma posição de combate dos militantes, a partir da qual eles atiravam contra soldados iraquianos. Desde o início de agosto, os EUA já realizaram 162 ataques aéreos no Iraque.
Nesta segunda-feira, representantes de cerca de 30 países e organizações internacionais – incluindo os EUA, a Rússia e a China – haviam se reunido em Paris e selaram uma coalizão internacional para combater o "Estado Islâmico".
Conferência em Paris sela coalizão internacional contra o "Estado Islâmico"
Os líderes da França e do Iraque lançaram um apelo por uma ação imediata contra os extremistas do "Estado Islâmico" (EI), numa conferência realizada nesta segunda-feira (15/09) em Paris. O encontro, com o objetivo de formar uma coalizão contra a milícia jihadista, reuniu representantes de cerca de trinta países e organizações internacionais, mas excluiu o Irã e a Síria.
"Não há tempo a perder", afirmou o presidente francês, François Hollande, durante a abertura da conferência. "A luta dos iraquianos contra o terrorismo também é a nossa luta", reforçou Hollande, pedindo apoio internacional "claro, leal e forte" a Bagdá.
O presidente iraquiano, Fuad Masum, também destacou a necessidade de agir com urgência, alertando que, "se houver demora, se essa campanha de apoio ao Iraque atrasar, talvez o EI venha a ocupar outros territórios, e a ameaça vai se tornar ainda maior".
Masum reiterou o pedido por operações aéreas regulares contra os redutos dos terroristas. "Temos de persegui-los onde quer que estejam. Temos que secar suas fontes de financiamento", acrescentou.
Os jihadistas ocupam um quarto do território da Síria e 40% do Iraque e seu contingente já pode ter chegado a cerca de 31.500 combatentes, segundo a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).
Horas antes da conferência, a França anunciou que vai se juntar ao Reino Unido para realizar voos de reconhecimento, em apoio aos ataques aéreos promovidos pelos Estados Unidos contra os extremistas.
Hollande afirmou ainda que a comunidade internacional deve encontrar uma "solução durável no local onde o EI nasceu, a Síria", e defendeu o apoio total às "forças da oposição democráticas" no país.
Estratégia americana exclui Irã
Também na segunda-feira, os Estados Unidos descartaram a possibilidade de colaborar com o Irã na campanha contra o EI. "Não estamos e não iremos cooperar militarmente", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jen Paski.
Ela admitiu que os dois países discutiram a crise no Iraque durante as negociações sobre o programa nuclear iraniano em Viena, em junho. E, apesar de negar qualquer cooperação entre os dois países nas investidas contra o EI, não descartou uma colaboração no futuro.
O presidente Barack Obama lançou há poucos dias uma estratégia para derrotar o EI, que inclui ataques aéreos na Síria e a expansão das operações no Iraque, onde aeronaves militares americanas já realizaram mais de 160 investidas contra os islamistas. O plano prevê também o treinamento de rebeldes moderados sírios e a reconstituição do Exército iraquiano, que sofreu deserções durante os avanços dos jihadistas no norte do país.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, havia afirmado em entrevista à rede americana de televisão CBS, neste domingo, que "tudo que é necessário para atingir nossos objetivos já foi oferecido por um ou mais países". Segundo ele, todas as bases da estratégia já teriam sido cobertas.
Em Paris, um oficial americano afirmou que o número de países aderindo à coalizão internacional aumenta "quase que a cada hora", da Europa ao Oriente Médio, incluindo também o Japão, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia.
"Os americanos têm mãos sujas"
Já o Irã rejeitou a possibilidade de se unir à coalizão internacional e afirmou ter recusado uma oferta de cooperação feita pelos EUA. Assim como a Síria, o país não foi convidado a participar da conferência em Paris.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou que seu governo rejeitou, em caráter privado, uma proposta de cooperação na luta contra o EI feita pelos americanos, e alertou que uma nova incursão dos EUA na região resultará "nos mesmos problemas que eles enfrentaram no Iraque nos últimos dez anos".
Através da rede social Twitter, Khamenei afirmou ainda que, por trás da iniciativa dos americanos, estariam planos de dominar a região. "Rejeitei a oferta porque os americanos têm as mãos sujas", apontou o aiatolá, sem especificar qual teria sido a proposta feita por Washington. Por outro lado, o governo iraniano afirmou que apoia os governos do Iraque e da Síria em sua luta contra os extremistas.
Na semana passada, Kerry havia dito que não seria apropriado incluir o Irã na coalizão, reafirmando a perspectiva americana de que o país financia o terrorismo. Teerã nega a acusação.