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Petrobras: riqueza de US$ 430 bi no pré-sal e resultados fracos


Bruno Rosa e Ramona Ordoñez

Com significativo potencial de aumento em suas reservas, a Petrobras pode quase quadruplicar suas riquezas nos próximos anos, passando dos 16,5 bilhões de barris de petróleo provados para cerca de 60 bilhões de barris. Desse total, 43 bilhões são oriundos apenas dos campos do pré-sal, que, de acordo com cálculos do consultor e ex-presidente da Petrobras Armando Guedes Coelho, valem entre US$ 400 bilhões e US$ 430 bilhões no mercado internacional. Mas, apesar de ter registrado um dos maiores avanços no volume de reservas em relação às demais companhias do setor, a estatal não vem entregando os resultados esperados pelo mercado.

Segundo especialistas, embora a companhia tenha colocado em operação nove novas plataformas no último ano e iniciado um programa de corte de custos, a defasagem dos preços dos combustíveis obrigou a estatal a amargar perdas bilionárias – de R$ 8,4 bilhões nos dois últimos anos, diz o Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) – e aumentou seu nível de endividamento, que em junho foi de R$ 241,3 bilhões, mais que o dobro dos R$ 103,022 bilhões do fim de 2011. No primeiro semestre, o lucro da estatal somou R$ 10,3 bilhões, o que significa queda de 25% em relação a igual período de 2013.

META É PRODUZIR 4,2 MILHÕES DE BARRIS EM 2020

A expectativa, agora, dizem analistas, é reverter esse cenário com o aumento na produção, que começou a reagir desde abril. Assim, no primeiro semestre, houve alta de 1%, para 1,94 milhão de barris por dia, em relação ao mesmo período do ano passado. No ano, a meta da empresa, no entanto, é alcançar alta de 7,5% na produção. Ainda assim, o resultado no semestre é o inverso do registrado pelas principais gigantes petrolíferas: a Exxon Mobil caiu 4,11%, assim como a Royal Dutch Shell (-5,10%), Chevron (-2,03%), Total (-14,37%) e BP (-8,06%). Segundo a Petrobras, dados preliminares de agosto apontam uma produção de cerca de 2,1 milhões de barris por dia, um aumento de 9,5% no acumulado deste ano. A estatal diz ainda que espera um crescimento contínuo até atingir 4,2 milhões barris diários em 2020.

– Todas as grandes empresas têm reservas em queda, enquanto a Petrobras tem grande volume a explorar pelos próximos anos. Se fosse uma empresa privada, poderia vender essas reservas. É uma riqueza que precisa se materializar, ser monetizada logo. Os 43 bilhões de barris do pré-sal valem no mercado mundial algo em torno de US$ 400 bilhões a US$ 430 bilhões, o que mostra que a dívida da Petrobras é irrisória face a esse ativo que é praticamente real – destaca Armando Guedes.

BENS DE EXECUTIVOS FORAM BLOQUEADOS

Para o advogado especializado em óleo e gás Cláudio Pinho, a produção da Petrobras já poderia ser maior, não fossem os atrasos dos fornecedores e as paradas programadas pela estatal em suas plataformas. O advogado lembra ainda que Maria das Graças Foster, presidente da estatal, esperava gerar mais caixa com a venda de ativos, o que não aconteceu. Ele cita as operações na Argentina e a polêmica refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

– Somando-se a esses fatores, estamos sem uma política energética. De um lado, o governo controla preços dos combustíveis e, de outro, estimula o uso de automóveis com a redução do IPI. Tal falta de planejamento é uma característica constante no Brasil – afirma Pinho.

A compra da refinaria de Pasadena motivou ainda a abertura de duas CPIs no Congresso para investigar se houve fraude no negócio, afetando o valor de mercado da estatal. Em julho, o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou os bens de 11 diretores e ex-diretores da Petrobras. Na última quarta-feira, o TCU adiou novamente a decisão sobre o bloqueio de bens de Graça Foster depois que um ministro pediu vista para analisar melhor o caso. Há duas semanas, O GLOBO revelou que a executiva doou imóveis a parentes logo depois que estourou o escândalo de Pasadena, em março.

Além desses problemas, o consultor Wagner Freire, ex-diretor da Petrobras, diz que a estatal foi prejudicada com a paralisação entre 2008 e 2013 das ofertas de áreas para exploração no país, quando o governo discutia o novo marco regulatório do pré-sal, que culminou na criação do regime de partilha. Para Freire, a situação da Petrobras "é um reflexo da má administração do governo no país":

– No governo Dilma, a imposição de venda de derivados abaixo dos preços de mercado está levando a Petrobras a uma situação de insolvência.

Especialistas destacam extensa lista de projetos problemáticos. É o caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Além de sofrerem atrasos e forte alta nos custos, eles vêm sendo alvo de denúncias de superfaturamento em contratos, motivando investigações do TCU. A própria Graça, ao assumir a estatal, em fevereiro de 2012, havia destacado que Abreu e Lima era um projeto que não deveria ser repetido

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