Um país sem uma defesa moderna, autônoma e produtiva terá sempre sua soberania relativa e dependente do bom-humor externo. Na construção de um sistema de defesa, a sociedade dita as políticas, a comunidade científica busca o conhecimento tecnológico, a indústria produz os equipamentos e sistemas necessários e o Estado conduz o processo. Nesse aspecto, a indústria de defesa é um ambiente estratégico, fator de projeção de poder e de crescimento social, econômico e tecnológico.
Seus resultados práticos geram a dualidade de aplicação de tecnologias, beneficiando outros segmentos da economia (o chamado efeito “spin-off”). A sinergia entre o governo e a indústria de defesa é fundamental, já que a dimensão tecnológica nesse campo é alavancada pelas compras governamentais. A Constituição Federal diz no seu Artigo 218 que “o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica. A Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999, proclama no seu Artigo 14, Inciso II, que a procura pela autonomia nacional é feita com contínua nacionalização de seus meios, nela incluídas pesquisa e desenvolvimento e o fortalecimento da indústria nacional.
No final do século passado, o Brasil constituiu uma razoável base industrial de defesa. Sem expressão política, econômica e arcabouço legal, sua produção perdeu substância na primeira grande crise que enfrentou, a partir de 1988. A crise foi global. Porém, enquanto o mundo desenvolvido socorria suas empresas estratégicas, no Brasil o governo manteve-se indiferente ao desmoronamento do setor industrial. Dessa forma, muitas empresas brasileiras desapareceram do mercado, milhares de profissionais de alto gabarito técnico perderam o emprego, as Forças Armadas tornaram-se obsoletas em tecnologias e equipamentos militares e a soberania nacional adoeceu.
Duas décadas depois, o governo iniciou um trabalho de recuperação das perdas sofridas durante o longo do período de estagnação da defesa. Os investimentos são astronômicos e os desafios enormes, sobretudo em pesquisa & desenvolvimento, qualificação de capital humano, reorganização da indústria e reaparelhamento das Forças Armadas. Em dezembro de 2008, foi aprovada a Estratégia Nacional de Defesa.
Os horizontes descortinados pelo documento de Estado animaram a indústria de defesa remanescente. Um novo marco se estabeleceu. Muito foi feito desde então. Mas muito ainda precisa ser feito – implementar políticas públicas essenciais à consolidação do parque industrial, transmitir segurança ao empresariado, sobretudo quanto à alocação de orçamentos públicos para os programas industriais, e disciplinar o próprio mercado interno. O Estado é o principal interessado e responsável pela saúde da defesa nacional.
Essas e muitas outras questões sobre a defesa nacional são tratadas no livro Indústria de Defesa do Brasil – História, Desenvolvimento, Desafios, do escritor Cosme Degenar Drumond, a ser lançado na Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista, no próximo dia 27 de agosto, das 18h30 às 21h30. O novo livro é resultado de um longo trabalho de pesquisas, de entrevistas com autoridades civis e militares, de análises técnicas e arquivos e de reportagens do autor publicadas na imprensa.
Degenar executou verdadeiras peripécias para coletar e juntar em uma narrativa coerente a história – ou como ele mesmo diz, pelo menos o início de uma história – da indústria de defesa do Brasil. A trajetória vai desde seus primórdios, na Colônia, ao seu auge e decadência, registrados no século XX. Mas alcança, naturalmente, o renascer da fênix, que o país vive nestas primeiras décadas do século XX1, a partir do desenho de uma política de Estado que envolve esse setor industrial, cristalizado na Estratégia Nacional de Defesa.
Do levantamento sobre equipamentos bélicos em Portugal e seus reflexos no Brasil colonial – objetivo dificultoso, devido à distância temporal dos fatos e ao ineditismo das fontes primárias, trancadas em arquivos e museus –, o autor traça também o contexto ora diplomático, ora guerreiro, em que as informações se enquadram. A mesma visão se estende para os períodos subseqüentes – o do Reino Unido, o das Duas Coroas (quando o Brasil foi espanhol), o do Império e o da Primeira República.
Da Segunda República em diante, os dados vão sendo paulatinamente mais acessíveis, porém, menos estáveis na historiografia. Assim é que, nessa faixa temporal, e sobretudo nos assuntos de atualidade, o escritor recorre a sua veia jornalística e passa a abordar o tema no calor da hora, tal como as coisas ainda se estão produzindo, seja no imaginário nacional, seja no dia a dia da indústria ou dos governos mais recentes.
Publicado pela editora ZLC Comunicações, o livro teve o patrocínio de Helibras, OAS Defesa e Grupo Inbra Filtro.
O prefácio é do empresário Jairo Cândido, presidente do Grupo Inbra Filtro: “… o texto explora fatos pitorescos e significativos de nosso setor industrial, muitos deles desconhecidos até agora. A atualidade é apresentada através de um diagnóstico apurado da indústria de defesa frente à realidade brasileira. A indústria de defesa do Brasil merecia um livro desta envergadura”.
Vale a pena conferir.
Serviço:
A Indústria de Defesa do Brasil
História – Desenvolvimento – Desafios
Autor: Cosme Degenar Drumond
Local: Livraria Martins Fontes – Paulista
Endereço: Av Paulista, 509 – São Paulo – SP
Data : 27 de Agosto de 2014
Horário das 19 às 21:30 horas