O Exército Brasileiro deve implementar, nos próximos anos, um Polo de Ciência e Tecnologia com o objetivo de integrar interesses de setores como indústria de defesa, instituições acadêmicas e governos estaduais.
O projeto de criação desse novo centro foi anunciado nesta terça-feira (12) pelo comandante do Instituto de Militar de Engenharia (IME), general Barroso Magno, durante palestra no Seminário Pós-Graduação em Segurança e Defesa, promovido pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em parceria com o Ministério da Defesa.
O evento foi aberto pelo general Joaquim Silva Luna, secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto (Sepesd) do Ministério da Defesa, que palestrou na presença do Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri.
De acordo com Magno, apesar de ainda não haver data prevista para implantação do novo centro, já se sabe que suas instalações serão no bairro de Guaratiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Durante sua palestra, o comandante do IME falou ainda sobre a importância do Instituto, criado em 1792, e que, na época, tinha como principal atribuição ajudar a construir as fortificações do país. “Hoje, estamos em um momento em que a defesa faz parte da agenda nacional e está totalmente sintonizada com as necessidades sociais”, complementou.
O general lembrou que, atualmente, o IME conta com cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) nas áreas de engenharia nuclear, defesa, química, mecânica, elétrica e materiais.
Outro destaque abordado pelo general foi o projeto de inserção social desenvolvido pelo instituto. Coordenado pelo corpo docente do IME, o projeto consiste na preparação de alunos carentes de instituições públicas de ensino para que eles se tornem aptos a estudar na instituição de excelência.
Engenharia de Defesa
O coordenador da pós-graduação em Engenharia de Defesa do IME, professor Paulo Rosas, explicou que o curso segue as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END) para a capacitação das Forças Armadas. O professor afirma que a qualificação, criada em 2007 e voltada a civis e militares, tem como foco principal encontrar soluções tecnológicas para os problemas nacionais.
O curso tem três linhas de pesquisa: comunicações e inteligência em sistemas de defesa; mecatrônica e sistemas de armas; e modelagem e simulação em sistemas de defesa. O curso já contabiliza 16 teses de doutorado e 18 dissertações de mestrado, além de 17 professores permanentes.
Também dão suporte ao curso laboratórios de cartografia, comunicações digitais, processamento de sinais acústicos, mecatrônica e sistemas de armas com ênfase em aplicações em sistemas inerciais e veículos não tripulados.
Linhas de pesquisa em segurança e defesa.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Duarte Villa, outro participante do encontro, há duas formas de inserção de estudos de segurança e defesa no Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG), da Capes.
Um dos métodos, conforme o professor, ocorre de forma institucionalizada a partir da criação da linha de pesquisa dentro de um programa de pós-graduação. Hoje, só existe um programa voltado para os estudos de segurança, implementado na Universidade Federal Fluminense (UFF).
O professor contou ainda que existem 12 programas, que formam parte do Comitê de Ciência e Política e Relações Internacionais da Capes, com três grandes temas gerais: conflitos e mecanismos de solução; gestão pública de segurança; estratégia, política externa e integração.
Segundo Rafael Villa existem 20 instituições de ensino superior com tais linhas de pesquisa, entre elas: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (UNESP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“A outra maneira de inclusão é induzida, por meio de editais e que acontece há 10 anos”, salienta. De acordo com o docente, este mecanismo possibilitou a criação de uma rede de pesquisas e uma interface institucional importante.
Conceito de defesa e segurança
Em outra mesa do seminário, o professor Alcides Costa Vaz, da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, defendeu que o conceito de defesa tem escopo melhor delimitado do que o de segurança. E acrescentou que, algumas vezes, os dois termos se complementam. “A constante presença da violência faz com que haja questionamentos de como os governos usam suas políticas de defesa e emprego das Forças Armadas. E isso interpela as definições de defesa e segurança existentes”, disse.
Vaz também citou que atualmente a sociedade entende a importância de operações na fronteira, como é o caso da Ágata – ação conjunta entre Marinha, Exército e Aeronáutica e agências governamentais –, que segundo ele, é uma atividade mais de segurança do que de defesa.
Outro palestrante a discorrer sobre o assunto foi o assessor técnico do gabinete do ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Giovanni Hideki Chinaglia Okado. Ele falou acerca da dificuldade de definir um significado para o termo segurança, por se tratar de algo subjetivo que aborda várias áreas. Como exemplo, citou que um dos objetivos do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) é promover estudos de gênero em segurança.
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