BRASÍLIA e RIO
A Rússia liberou 87 frigoríficos brasileiros para exportação de carnes em geral e seus respectivos miúdos. Outros dois estabelecimentos de produtos lácteos também receberam aval russo. No total, são 89 empresas beneficiadas. Outras duas plantas deverão ser confirmadas nos próximos dias. Com as 30 empresas que já estavam habilitadas, agora 119 estabelecimentos estão autorizados a vender seus produtos àquele país. Os exportadores brasileiros serão beneficiados com a decisão do governo russo de retaliar os Estados Unidos e a União Europeia (UE) impondo sanções à compra de alimentos e matéria-prima desses mercados. A estimativa dos exportadores é que as vendas externas aumentem entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões.
– Frente a este resultado, o Brasil ampliará substantivamente suas exportações de carnes e lácteos, consolidando a parceria no agronegócio internacional – afirmou o ministro da Agricultura, Neri Geller.
A liberação dos frigoríficos brasileiros pela Rússia começou a ser articulada há cerca de três meses e teve como ponto alto uma conversa reservada, em julho, entre a presidente Dilma Rousseff e seu colega russo Vladimir Putin, por ocasião da reunião do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na ocasião, Dilma reivindicou maior acesso ao mercado russo, e Putin foi receptivo, sinalizando que buscava novos fornecedores, revelou uma fonte do governo brasileiro. O presidente da Rússia voltou a insistir em vender trigo para o Brasil.
Brasil já é um dos 3 maiores fornecedores
O passo seguinte foi o envio de uma missão de técnicos do Ministério da Agricultura a Moscou, no último dia 5, para negociar com as autoridades do país que frigoríficos poderiam ser habilitados a exportar para aquele mercado.
O mercado russo é o principal destino das exportações brasileiras de carnes. Apenas de carne bovina In natura , foram comercializadas entre Brasil e Rússia, em 2013, 303 mil toneladas, gerando US$ 1,2 bilhão em receitas. De carne suína, foram exportadas 134 mil toneladas, o equivalente a US$ 412 milhões. Os produtos agropecuários vendidos à Rússia no ano passado garantiram o ingresso de US$ 2,72 bilhões na balança comercial brasileira.
A notícia do aumento das compras do Brasil pela Rússia foi minimizada pelo ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, que não acredita que a liberação vai aumentar significativamente as exportações de alimentos. Mas foi bastante festejada pelo Ministério da Agricultura, o Itamaraty e representantes do setor privado.
Francisco Turra, presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPN), que reúne os exportadores de aves e de suínos, estima que as vendas externas possam aumentar em US$ 300 milhões. Segundo Turra, é possível mais que dobrar a produção de frangos rapidamente. Ele afirma que a produção destinada ao mercado doméstico não será desviada para exportação:
– É um ciclo curto nos frangos. Em 90 dias dá para aumentar a produção. No setor de suínos, aumentar a oferta é mais demorado: de oito a dez meses.
Indústria de lácteos quer estrear na rússia
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o impacto já deve aparecer na balança comercial de 2014, com entrada de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões.
– É a nossa oportunidade de entrar nesse mercado de forma mais forte, mas temos que mantê-lo, mesmo após o fim das sanções – disse Castro, ao participar do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex) 2014, no Rio.
Segundo Castro, hoje o Brasil já é um dos três principais fornecedores de frango e suínos para a Rússia, ao lado de Estados Unidos e UE, que sofrerão as restrições do governo russo. No caso dos bovinos, EUA, Brasil e Austrália são os maiores exportadores para a Rússia.
– Existe espaço para crescer – afirmou Castro.
Mesmo sem hoje estar no mercado russo, a indústria de lácteos brasileira prevê boas oportunidades, principalmente na exportação de manteiga e queijo. O país tem déficit de 155 mil toneladas de manteiga por ano (diferença entre o que consome e o que produz) e de 355 mil toneladas de queijo. A UE responde por 70% das importações de queijo.
– Esta será uma boa oportunidade para o setor de lácteos. Oito empresas demonstraram interesse em exportar para lá – afirmou Marcelo Costa, diretor executivo da Viva Lácteos, que reúne a indústria de laticínios e associações do setor.
Costa afirma que é possível atender à Rússia sem afetar o mercado doméstico, principalmente porque houve aumento de 14% da captação de leite no primeiro semestre.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, também comemorou:
– A Rússia aceitou as garantias dadas pelo governo brasileiro e pelas indústrias. Um dos pontos fortes é que, depois de quase cinco anos, voltaremos a exportar miúdos para aquele país.
Ele disse que ainda não dá para estimar quanto o Brasil poderá vender a mais para a Rússia:
– Semana que vem conversaremos com as indústrias e aí teremos condições de fazer algum tipo de projeção.
O secretário de Comércio Exterior do ministério, Daniel Godinho, por sua vez, destacou que o mercado russo é "enorme", mas que é preciso avaliar a capacidade de atender à demanda:
– É preciso fazer um estudo para saber quais os produtos que nós podemos oferecer a curto prazo. Temos que conversar com o setor privado.