Militares evitam parceiros prioritários
da diplomacia petista
Roberto Lopes
Exclusivo DefesaNet
robertojlopes@hotmail.com
Alguém pode perguntar por que os parceiros estrangeiros preferenciais da Assessoria Internacional da Presidência da República e da parcela do Itamaraty acumpliciada ao bolivarianismo sul-americano, não conseguem se afirmar como sócios confiáveis das Forças Armadas e dos industriais brasileiros do setor de Defesa.
Nessa área há certa cooperação com a Rússia (bem menos do que Moscou gostaria) e uma notável indiferença em relação aos programas militares de China e Índia. A colaboração mais promissora é com a África do Sul – concentrada, hoje, no setor de desenvolvimento de mísseis.
A opção do governo chavista pela aquisição de tecnologias militares russa, chinesa e iraniana, produziu um afastamento natural entre os aparatos de Defesa do Brasil e da Venezuela.
Entre os bolivarianos, Argentina e Equador se afiguram como clientes potenciais da Base Industrial de Defesa, mas a capacidade de investimento deles é tão limitada – e sujeita a tantas intercorrências (como a que acontece nesse momento, produto da crise financeira platina) –, que o futuro dos relacionamentos com Buenos Aires e Quito não empolga.
A liderança ideológica exercida pelo historiador Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da presidenta Dilma, e pelo ex-embaixador em Caracas Antônio Ferreira Simões – atual chefe dos assuntos relativos às Américas do Sul, Central e Caribe dentro do Ministério das Relações Exteriores – gostaria imensamente que as alardeadas parcerias de Brasília com o BRICS (grupo dos países de economia emergente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e com o Bolivarianismo pudessem reproduzir ambientes de cooperação como os que unem os militares brasileiros à França, Suécia e Estados Unidos. Mas, apesar do empenho pessoal do Ministro da Defesa, Celso Amorim, tal expectativa não encontra amparo na realidade.
Na verdade, o que se verifica é quase um cabo-de-guerra. Os diplomatas e assessores do Executivo petista puxam para um lado; os militares e industriais da área de Defesa puxam para outro.
É isso que explica o desinteresse da Força Aérea Brasileira (FAB) pelo caça multifunção Tejas – que se encontra em fase final de homologação pela aviação militar indiana –, ou a indiferença da Embraer e suas associadas pelo supersônico de combate sino-paquistanês JF-17 e os projetos dele derivados – ou ainda a prudente distância que a Marinha do Brasil guarda da indústria naval russa.
Oficiais da FAB foram convidados a conhecer o programa Tejas, e não ficaram bem impressionados. O aparelho foi oficialmente incorporado ao componente de combate da Força Aérea da Índia em 2013, mas ainda não é completamente operacional. Diferentes testes e avaliações indicaram a conveniência de os militares indianos aguardarem uma versão mais aperfeiçoada da aeronave, que incluirá modificações na capacidade de manobra (em alta performance) do aparelho.
A indústria bélica indiana, que se caracterizou, nas últimas décadas, por implantar programas a partir de projetos russos, tem a fama de apresentar resultados queimando etapas, em busca de uma redução no tempo de desenvolvimento dos seus produtos. Essa metodologia causou sérios problemas durante a construção do “Arihant”, primeiro submarino nuclear do país, e também na fase de acabamento do “Vikramadytia”, um porta-aviões obtido por 942 milhões de dólares junto à esquadra da Rússia. O navio ainda está em fase de aceitação, mas seu custo já cruzou o marco dos 2,5 bilhões de dólares.
Atualmente os indianos tentam vender à Marinha do Brasil o míssil mar-mar BrahMos, que possui uma versão terra-mar, de defesa costeira. O projeto não empolga os chefes navais brasileiros (concentrados em modelos similares fabricados pelo Ocidente), mas é o sonho de alguns almirantes venezuelanos, que gostariam de ver o míssil instalado em seus navios de patrulha oceânica recebidos, na década de 2000, do estaleiro espanhol Navantia.
Em Brasília, militares em postos importantes do Ministério da Defesa não escondem sua predileção pelas tecnologias européia e americana, ainda que elas sejam mais difíceis de se obter, e muito mais caras de se adquirir. O que faz a diferença é o resultado operacional. E o exemplo disso está bem perto de nós.
Após três anos de decepções, o Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador finalmente decidiu comprar no Ocidente radares de defesa aptos a substituir os modelos CETC-YLC/2V-3D e YLC-18, comprados por 60 milhões de dólares na China, que nunca funcionaram perfeitamente.
A própria aquisição dos helicópteros russos Mi-35, de ataque, pela FAB, gerou, de parte dos compradores brasileiros, muitas reclamações referentes a atrasos na entrega das aeronaves e a um comportamento dos vendedores que, no Brasil, é educadamente resumido como um “pós-venda sofrível”.
A postura das autoridades do Exército e da Força Aérea tem sido a de optar pelo produto russo somente quando não há esperança de o Ocidente fornecer produto similar a preços competitivos – caso da importação já feita dos mísseis antiaéreos Igla, e da negociação em curso para a encomenda de baterias antiaéreas Pantsir S1.
De resto, é preciso ter em mente que, nos últimos cinco anos, o investimento feito pelo segundo governo Lula e pela administração Dilma no reequipamento das Forças Armadas, distanciaram o aparato de Defesa brasileiro dos seus congêneres argentino e venezuelano. Ainda que, nos últimos 12 anos, Caracas tenha incinerado cerca de 14 bilhões de dólares na substituição de equipamentos de origem americana por produtos russos e chineses, além de investir em áreas de pesquisa (para combustível de mísseis e explosivos de alta potência) que contam com o respaldo iraniano. Hoje as Forças Armadas da Venezuela possuem um dos maiores arsenais das Américas, mas, em Brasília, isso não é interpretado, de forma automática, como elevação do nível de preparo militar.
Os caças supersônicos Sukhoi SU-30MK2 comprados pelos venezuelanos à Rússia na década de 2000, ainda requerem manutenção de uma missão técnica russa em território venezuelano, e a entrada em funcionamento dos chamados centros integrados de defesa regional apresentam problemas.
Foi isso que se observou, por exemplo, na terça-feira, 18 de março deste ano, quando um monomotor Cessna 210 suspeito de estar a serviço do narcotráfico invadiu o espaço aéreo venezuelano (procedente de Honduras), foi perseguido por dois caças F-16 e mesmo assim conseguiu escapar.
De nada valeram os esforços do contra-almirante Edglis Herrera Balza, comandante da Zona Operativa de Defensa Integral de Falcón (ZODI-Falcón), no norte do país, que acionou um helicóptero Super Puma e embarcações da Guarda Costeira local.
Durante quatro horas a torre de controle do Aeroporto Internacional de Las Piedras Josefa Camejo e o centro de defesa aérea sediado em Caracas se esforçaram por rastrear o aviãozinho – um modelo com tecnologia da década de 1980 e grande sucesso, por sua simplicidade, entre proprietários rurais. Voando a muito baixa altitude, o Cessna misturou sua silhueta ao relevo e às copas das árvores, conseguindo evadir-se.
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