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Cyber – Brasil verba mal aplicada e segurança frágil

 Leandro Kleber e Igor Silveira
Correio Braziliense – 25 Junho 2011

Os ataques de hackers a sites de órgãos públicos pelo terceiro dia consecutivo apontam a fragilidade dos sistemas de proteção do governo federal na internet. Dados do Ministério do Planejamento mostram que o Executivo não fez o dever de casa por completo no que diz respeito à segurança virtual. Isso porque as estatais deixaram de investir R$ 1 bilhão em tecnologia da informação nos últimos dois anos e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), responsável pela manutenção das páginas de ministérios e autarquias, também vem diminuindo o ritmo de gastos no setor. Desde 2009, o orçamento previsto para a manutenção e a adequação das redes, dos computadores e dos servidores de informática não foi aplicado integralmente (veja quadro).

Enquanto estatais como a Petrobras, a Eletrobras, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e os Correios gastaram R$ 4,3 bilhões do total de R$ 5,3 bilhões previsto para 2009 e 2010, no mesmo período o Serpro utilizou R$ 242 milhões dos R$ 300 milhões reservados à tecnologia da informação. Até abril deste ano, a empresa administradora das páginas da Presidência da República e da Receita Federal — invadidas na última quarta-feira — tinha aplicado apenas R$ 8,8 milhões dos R$ 185 milhões reservados, o que representa menos de 5% da verba autorizada.

Embora o volume de recursos da ordem de bilhões de reais seja expressivo, o analista Evandro Sartoucy, que prestou serviços ao Serpro e atua no ramo há 35 anos, afirma que o dinheiro tem sido mal gasto por não contemplar gastos maciços em segurança. "Se os sites foram invadidos, é porque o investimento realizado não foi bem feito e o que deixou de ser aplicado agravou a situação", diz. "Acredito que o governo não tem noção do que está sendo eventualmente roubado nem há quanto tempo isso vem ocorrendo", completa.

Há, no entanto, outros problemas que denotam a vulnerabilidade do governo no campo virtual. O site do Brasil sem Miséria, principal programa do governo Dilma Rousseff, lançado este mês, foi construído sobre a plataforma WordPress, ferramenta simplificada de elaboração de páginas na internet, destinada ao público comum. De acordo com Wanderson Castilho, perito em crimes digitais e autor do livro O manual do detetive virtual, o WordPress não possui um nível de sofisticação adequado ao porte das necessidades do governo. "Quando a base do site é vulnerável, a chance de invasão é enorme. É como construir uma casa com o alicerce fraco e depois querer colocar o melhor sistema de segurança para protegê-la", compara.

Justificativas

O Serpro alegou que a empresa nunca deixou de investir em infraestrutura e em segurança. Já a Infraero informou que planeja aplicar R$ 94 milhões em tecnologia da informação neste ano e que adota as medidas necessárias para a proteção de seus dados. Procurado pela reportagem para comentar a vulnerabilidade do site do programa Brasil sem Miséria, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome disse que não se pronunciaria.

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