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Agressão a Jornalistas

 


Repúdio à agressão

 

Bruno Amorim
Taís Mendes

 

A agressão de manifestantes contra jornalistas que faziam a cobertura da libertação de ativistas que estavam presos no complexo de Bangu, na noite de anteontem, foi repudiada por entidades de classe e de defesa dos direitos humanos. Membro da Comissão de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Alcir Cavalcanti classificou a atitude do grupo como um "tiro no pé", uma vez que a mídia defende o direito de manifestação.

— Trata-se de uma atitude desesperada, equivocada e que não vai levar a nada. Agredindo a imprensa, eles (os ativistas) ficam sem defesa — afirmou Cavalcanti, que anteriormente havia se posicionado contra a prisão de ativistas

O cinegrafista do SBT Tiago Ramos foi um dos agredidos e chegou a ser derrubado no chão. Já o fotógrafo André Mello, do jornal "O Dia", teve a máquina danificada. "A liberdade de imprensa é um marco pelo qual a OAB sempre lutou. Foi graças à livre expressão que o país obteve conquistas significativas para o florescimento, a manutenção e a evolução da democracia brasileira", afirmou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), em nota.

Também em nota, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) cobrou das autoridades que o caso seja investigado e os autores da agressão, punidos, "a fim de que se assegurem a plena liberdade de imprensa e o amplo acesso dos cidadãos a informações".

O mesmo defendeu a Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (ARFOC Rio), que quer a instauração de "inquérito policial para identificar, processar e prender os agressores". Para Fernando Molica, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), ao agredirem jornalistas, ativistas se igualam a ditadores. Segundo ele, a Abraji repudia agressões contra qualquer pessoa, mas, quando o alvo é um jornalista, a liberdade de imprensa é atacada: — Todo cidadão tem o direito de não gostar da cobertura feita pelos jornais, mas em nenhum momento essa discordância pode ser traduzida em agressões.

AÇÕES RADICAIS DECIDIDAS UM DIA ANTES

O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, lamentou a violência. Para ele, a atitude dos ativistas demonstra uma incapacidade de conviver com a democracia: — Essas pessoas são inconformadas com a democracia e entendem que, com a violência, vão intimidar os jornalistas.

A estratégia de ações radicais, adotada por integrantes da Frente Independente Popular (FIP) e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) na libertação dos ativistas, havia sido decidida 24 horas antes, durante plenária realizada no nono andar da Uerj.

No fim da tarde de ontem, a deputada Janira Rocha (PSOL) entregou à Corregedoria da Assembleia Legislativa um ofício explicando os motivos pelos quais deu carona, num carro oficial, a três ativistas — dois dos quais com a prisão preventiva decretada — que haviam pedido asilo político no consulado do Uruguai, em Botafogo.

O documento foi recebido pelo corregedor da Casa, deputado Comte Bittencourt (PPS). Janira diz que não facilitou a fuga, alegando que não havia viaturas policiais na porta do consulado. Bittencourt vai decidir se abre ou não um procedimento de investigação para apurar a conduta da parlamentar.

 

Jornalistas são ameaçados dentro do próprio sindicato

 

Sede da entidade vira palco para ativistas e seus
familiares criticarem a imprensa


— Presos políticos! Liberdade já! Lutar não é crime! Vocês vão nos pagar! Foram essas palavras de ordem que, em coro e com os punhos cerrados, ativistas e seus parentes gritaram para os jornalistas presentes a uma coletiva convocada para ontem, na própria sede do sindicato da categoria. Hostilizados, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas optaram por se retirar.

Um dia após jornalistas serem agredidos por manifestantes, a coletiva transformou a sede do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio em palco para ativistas e seus familiares ameaçarem e criticarem a imprensa. Também houve críticas à polícia. Com a presença de representantes dos grupos Tortura Nunca Mais, Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST), Justiça Global e Instituto de Defensores de Direitos Humanos, eles acusaram as empresas de comunicação de fazerem campanha contra manifestantes.

— A minha filha está sendo demonizada pela imprensa e pelo estado. Ela, como todos os outros jovens, está ocupando o lugar que deveria ser de todos nós, como eu, ativista, que ajudei a fundar o PT — alegou a psicóloga Roseleta Quadros, mãe de Elisa Quadros, a Sininho, presente à reunião. Os familiares seguiram fazendo relatos em defesa de seus filhos e críticas aos jornalistas, até que Paula Máiran, presidente do sindicato, pediu a palavra:

— De maio para cá, já são 90 jornalistas agredidos, o que soma cerca de 200 casos, pois alguns foram agredidos mais de uma vez. Temos que, aqui, trazer o apelo de nossa categoria também, que luta pelos direitos humanos. O fato concreto é que, na quinta-feira, quem foi parar no hospital foi um jornalista (o cinegrafista do SBT Tiago Ramos, que torceu o tornozelo, machucou o braço e sofreu um corte no lábio). Nada justifica. E não somos obrigados todos a pensar da mesma forma. Segundo Paula, em 80% dos casos, as agressões a jornalistas foram feitas por policiais. Já Sininho, durante a coletiva, garantiu que nunca agrediu jornalistas:

— Muito pelo contrário. Muitas vezes me coloquei na frente para defender os profissionais da imprensa. A gente sempre fala o outro lado. Mas de que adianta? De acordo com Paula, a reunião de ontem foi solicitada pelos grupos Tortura Nunca Mais e Justiça Global quando os ativistas ainda estavam presos:

— O sindicato é um espaço rotineiramente aberto para debates, reuniões, atividades culturais e políticas.

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