Americano diz que porta-voz que atacou
o Brasil é da ‘escola do ódio judeu’
Roberto Lopes
Precisamente como os tanques do seu Exército – acostumados a produzir devastação indiscriminada nas comunidades urbanas praticamente indefesas da Faixa de Gaza –, também o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, vem se notabilizando, nos últimos anos, pela destruição que promove. Não com armas, obviamente, mas com palavras.
Foi Palmor quem deu o tom da irritação do governo de Tel Aviv com as críticas feitas pelo Itamaraty à ação “desproporcional” das Forças Armadas israelenses em resposta aos bombardeios com foguetes desfechados pelo grupo radical Hammas contra o território israelense. Um confronto que, só até a quinta-feira 24 de julho, havia dizimado 21 vezes mais palestinos do que israelenses.
Assim mesmo, Palmor foi pródigo em deboches à posição brasileira.
Ele chamou o maior país sul-americano – e 7ª economia mundial – de “anão diplomático”, definiu-o como “parceiro diplomático irrelevante” – e ainda recorreu ao sarcasmo ao dizer que “desproporcional” é um time de futebol perder de 7 a 1. Clara alusão ao resultado obtido pela seleção brasileira diante da Alemanha na Copa do Mundo de 2014 – o mais trágico já alcançado pelo Brasil em 100 anos de história do selecionado nacional.
Como se o resultado de uma equipe esportiva pudesse – ou devesse – refletir o fracasso, a decadência de toda uma nação.
Palmor se esqueceu dos diplomatas brasileiros que entraram para a História ao arriscarem suas vidas para salvar judeus da perseguição nazista na Europa – e hoje têm a sua memória preservada em museus israelenses –, e que foi um diplomata brasileiro – Oswaldo Aranha – que, em 1947, na presidência rotativa dos trabalhos da Organização das Nações Unidas, manipulou os regulamentos da entidade para garantir a sessão destinada a homologar a criação do Estado de Israel.
Aranha foi capa da Revista Time por causa de sua coragem; já Palmor tem recebido da imprensa dos Estados Unidos tratamento bem diferente.
A 26 de junho passado, o jornalista Walter McDaniel, correspondente do site de notícias canadense Digital Journal no estado americano da Carolina do Sul,escreveu uma reportagem sobre o estilo “elefante em loja de louça” adotado por Yigal Palmor, para defender as posições de seu governo. O título da matéria era sintomático: “ ‘Nós não fazemos com finesse’ diz o porta-voz israelense Yigal Palmor” (‘We don’t do finesse’ says Israeli Spokesman Yigal Pamor”)
“Yigal Palmor funciona como um importante porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, mas tem muitos problemas com a forma como conduz a sua atividade” escreveu McDaniel. “Ele afirma que a falta de finesse é uma tendência que usa na sua rotina e ela fere a imagem externa de Israel”. O jornalista lembrou que no seu afã de se manter na vanguarda das crises, o porta-voz já usou sua metralhadora giratória para alvejar instituições da própria administração de Israel.
Ainda segundo o articulista, Palmor admite: “Nós não fazemos nuances; nós não fazemos [o trabalho] com finesse”. E o jornalista conclui: “Mesmo aqueles que apóiam Israel reclamam que [as queixas de Palmor] estão super expostas em temas mundiais”.
Yigal Palmor passou a maior parte dos seus vinte e poucos anos de carreira diplomática em postos ligados à Comunicação Social, e chegou a fazer um curso de assuntos latino-americanos. Sua vocação para a defesa das posições israelenses parece, contudo, toldada por um convencimento de que o mundo discrimina o Estado judeu. É dele, por exemplo, a seguinte frase: “A coisa mais perigosa para nós [israelenses] não é o que vão pensar mal de nós, mas que não venham a pensar em nós”.
“Ele [Palmor] é da escola do ódio judeu, e isso só existe para [Israel] ser notado, que é melhor do que ser ignorado”, explica o jornalista do Digital Journal. De acordo com McDaniel a preocupação de pessoas como Palmor é que as pessoas vão ouvir tanto sobre Israel que elas acabem parando de escutar”.
Em janeiro de 2013, Yigal Palmor lançou sua fúria quando soube que o governo Cristina Kirchner havia ajustado com o Irã a formação de uma comissão de juristas para investigar, de forma independente, a suposta responsabilidade de autoridades iranianas no ataque de 1994 à entidade benemérita judaica AMIA, que funciona em Buenos Aires. No atentado a bomba morreram 84 pessoas. “Nós já tínhamos avisado a Argentina que os iranianos iriam preparar uma armadilha”, vociferou Palmor. O grupo de investigadores até hoje não chegou a uma conclusão.
De resto é preciso reconhecer que as críticas de Yigal Palmor se acomodam perfeitamente no regaço de franca tibieza com que o Itamaraty vem se posicionando em questões importantes. Parceira da Rússia nos BRICS, a diplomacia brasileira foi incapaz de condenar a anexação da Crimeia por Moscou, e de se posicionar com um mínimo de dignidade no evento da derrubada do jato da Malaysian Airlines sobre a região de fronteira da Ucrânia com a Rússia.
Violações aos direitos humanos também deixaram de ser motivo de indignação na Administração Dilma Roussef. Vide o silêncio que Brasília adota diante do encurralamento da oposição, na Venezuela, pelo regime (de democracia tipicamente Castrista) do presidente-sindicalista Nicolás Maduro.