ZHANG JUN
Negociador adjunto da China para assuntos relativos aos BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)
Originalmente, o termo BRICS foi cunhado como um conceito de investimento para otimizar portfólios destinados a um grupo de economias emergentes com rápido crescimento –Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul.
Ninguém teria imaginado que a simples combinação de cinco letras poderia exercer tanto poder –trouxe lucros a investidores e impressionou o mundo como símbolo de nova força motriz do crescimento econômico global, particularmente durante o período mais escuro da crise financeira internacional.
No entanto, aparentemente, a magia está se desfazendo. Os países do grupo têm sofrido a saída volumosa de capitais, excessiva volatilidade da taxa cambial, crescente pressão inflacionária e instabilidade social. Instituições internacionais como FMI e OCDE mudaram o tom e projetam um futuro sombrio para os BRICS. O grupo passa a ser considerado por investidores uma página a ser virada em breve.
Visão mais ampla, porém, sugere um cenário diferente. Sem dúvida, os BRICS enfrentam desafios, mas a maioria deles só se tornou evidente nos últimos tempos. Numa análise menos imediata, constata-se que a trajetória de crescimento dos países-membros não foi revertida. Segundo o FMI, nas últimas duas décadas, o peso econômico dos Brics aumentou de 5,6% para 21,3% e continua crescendo. Especialistas apontam que, nesse período, o consumo privado, investimento e comércio nos Brics quase dobraram.
É, portanto, apressado demais declarar o perecimento do grupo. Investidores que fugiram dos mercados dos BRICS são em maioria financeiros, que buscam apenas retornos, e não estratégicos, com visão de longo alcance.
Os BRICS se caracterizaram por elementos de sucesso como crescente produtividade, custo de mão de obra relativamente baixo, enorme demanda interna e externa, políticas de incentivo a investimento e assistência técnica estrangeiros, assim como melhor técnica de gestão macroeconômica e social. Ao reconhecermos que alguns desses elementos estão perdendo o gume, devemos perceber, também, que a maioria se mantém inalterada. Os fundamentos das vantagens comparativas dos BRICS continuam fortes.
Com mais de 40% da população mundial, os BRICS têm enorme potencial de crescimento. Forte desejo dos povos por uma vida melhor e ambiciosas agendas de reforma nos países, como o processo em curso de urbanização e reestruturação econômica na China, continuarão criando demandas intermináveis. Como resultado, não apenas o crescimento dos Brics será impulsionado, como excelentes oportunidades serão oferecidas para o resto do mundo.
Mais importante, os BRICS comandam o seu próprio destino. Do momento em que foi criado até hoje, de um conceito de investimento, o grupo se tornou um mecanismo maturado de cooperação intergovernamental. Os cinco países não estão de braços cruzados esperando para serem condenados.
Apesar das condições desfavoráveis, os BRICS vêm tomando ações para enfrentar choques e têm estabilizado a situação. Ao mesmo tempo que realizam reformas estruturais conforme as suas circunstâncias nacionais, os países-membros estão desenvolvendo agenda comum para reforçar o crescimento e a resiliência coletiva, o que é bem representado pelo processo em andamento que visa ao estabelecimento do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e do Arranjo Contingente de Reservas.
Com o início do segundo ciclo de cooperação dos Brics, marcado pela sexta cúpula do grupo a ser realizada na próxima semana no Brasil, os países-membros estão preparados para alcançar mais progressos. Os BRICS enfrentam, inevitavelmente, altos e baixos no seu caminho de desenvolvimento. Todavia, temos motivos para crer que a bela história do grupo está em curso, pronta para uma nova etapa.
Nota – Leia o documento da Goldman & Sachs que lançou o termo BRICS Dreaming With BRICs: The Path to 2050 Documento original da Goldman Sachs que indicou a formação do Bloco BRICS Link