O governo do Iraque disse que pode instaurar estado de emergência no país depois que o grupo ISIS assumiu o controle da segunda maior cidade do país, Mosul.
Cerca de 500 mil pessoas deixaram a cidade após o ataque de extremistas e, segundo o chefe da missão turca em Mosul, quase 50 autoridades consulares foram detidas pelo ISIS.
Também conhecido pela sigla ISIS (Estado Islâmico do Iraque e Levante, numa tradução livre), o grupo é uma dissidência da al-Qaeda e controla um território significativo no leste da Síria e das regiões oeste e central do Iraque.
Segundo autoridades iraquianas, partes da cidade de Tikrit, a cidade natal de Saddam Hussein e que está localizada a 150 km da capital Bagdá, também foram tomadas por insurgentes de filiação ainda indefinida.
O primeiro-ministro iraquiano Nouri Maliki disse que lutará contra os extremistas e punirá os membros das forças de segurança do país que desertaram em meio aos confrontos.
O que está acontecendo?
Os confrontos em começaram em Monsul em 6 de junho, quando militantes do ISIS e árabes sunitas atacaram a cidade, que tem 1,8 milhões de habitantes.
Na segunda-feira, o governador da província de Nineveh, Atheel al-Nujaifi, pediu ao habitantes da região para "permanecerem firmem em suas áreas e que as defendam contra estranhos".
Mas o próprio Al-Nujaifi teve de fugir antes que a sede do governo fosse tomada por centenas de homens armados com lançadores de granadas, rifles e armas automáticas.
Na quinta-feira, dezenas de milhares de habitantes da província fugiram para uma região controlada pelos curdos após o aeroporto de Mosul, o centro de operações do Exército e outros edifícios importantes serem invadidos.
Os militantes também incendiaram delegacias de polícia e libertaram centenas de detentos. Policiais e soldados abandonaram seus postos.
Por que Mosul é importante?
Mosul é o mais importante centro da produção de petróleo, cimento, açúcar e produtos têxteis do país. Também é um ponto chave de comércio, por estar próximo da Síria e da Turquia.
Após a invasão do país liderada pelos Estados Unidos, em 2003, Mosul tornou-se um bastião da resistência à ocupação, à qual a maioria sunita local se opunha e minoria formada pelos cursos apoiava.
Anos de bombardeios e tiroteios por parte de militantes ligados à al-Qaeda levaram a um êxodo de milhares de habitantes.
Só em 2009 Mosul pareceu voltar à normalidade, mas os militantes mantiveram-se firmes na região. A violência aumentou depois que as tropas americanas se retiraram no fim de 2011.
E aumento ainda mais desde o início de 2003, quando o governo do primeiro-ministro Maliki lançou uma grande ofensiva contra o ISIS e os sunitas.
O governo pode retomar o controle da região?
"O que ocorreu é um desastre", disse Osama al-Nujaifi, líder do Parlamento e irmão do governador de Nineveh. Ele exigiu que o governo e as autoridades curdas enviem reforços com urgência a Mosul para expulsar os "grupos terroristas".
O primeiro-ministro pressionou o Parlamento para que seja declarado estado de emergência, similar ao estado de sítio, por 30 dias, dando às forças de segurança os "poderes necessários" para retomar o controle da região.
Isso pode incluir um toque de recolher, restrições à circulação de pessoas e censura à mídia. Uma votação será realizada na quinta-feira. Maliki também afirmou que civis receberão armas para lutar contra os militantes.
Acredita-se que governo iraquiano tenha 930 mil integrantes em suas forças de segurança. Em teoria, seria o suficiente para derrotar os invasores de Mosul.
No entanto, o mesmo foi dito em dezembro passado quando o ISIS e sunitas tomaram Ramadi, a capital de província de Anbar, e a maior parte da cidade de Fajula.
Maliki disse que destruiria os militantes, mas eles ainda controlam estas áreas seis meses depois com tropas que, segundo ativistas de direitos humanos, não cumpriram a promessa de não ferir civis ao bombardear estas áreas indiscriminadamente.
A ONU diz que os confrontos em Anbar levaram 480 mil pessoas a se mudarem.
O Iraque está à beira de uma nova guerra civil?
De acordo com a ONU, mais de 8.860 pessoas foram mortas no Iraque em 2013 – o maior número desde o auge das insurgências no país entre 2006 e 2008.
Até agora neste ano, mais de 4,7 mil pessoas foram mortas em ataques, muitas delas em Anbar.
O governo perdeu o controle de grandes partes do oeste e do norte do Iraque, com o ISIS explorando a disputa entre o governo e a minoria sunita, que consideram que Maliki monopoliza o poder e os persegue com prisões em massa em nome do combate ao terrorismo.
Apesar desta oposição política e armada ao governo, e sua incapacidade de expulsar os militantes de Anbar, a coalisão formada por Maliki conquistou a maior parte dos assentos no Parlamento nas eleições de abril.
Negociações sobre a formação de uma nova coalisão de governo estão em curso, mas ele está em uma boa posição para obter um terceiro mandato.