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Analistas discordam de Rasmussen e dizem que Otan não precisa de investimentos

"Depois de tudo o que passamos na Ucrânia, certamente a defesa territorial ganhará mais atenção no futuro", afirmou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Anders Fogh Rasmussen, em recente entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung.

Rasmussen disse ainda que a anexação da Crimeia pela Rússia foi um momento decisivo em termos de política de segurança, comparável à queda do Muro de Berlim ou aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. "Precisamos reagir ", declarou, defendendo que a resposta deve vir através do armamento.

Após o fim da Guerra Fria, muitos países europeus decidiram cortar os gastos com a defesa. Na Alemanha, por exemplo, os gastos com defesa passaram de 2,8% do PIB em 1990 para os atuais 1,3%. A Otan recomenda que tais gastos equivalham a 2% do PIB, mas quase nenhum dos países-membros cumpre essa meta.

Em contraste, a Rússia aumentou a verba destinada ao setor e voltou a investir pesado em seu quipamento militar, considerado ultrapassado. Até 2020, Moscou planeja gastar 600 bilhões de euros em novos armamentos, estima Alexander Neu, político do partido A Esquerda e integrante do Comitê de Defesa do Parlamento alemão.

A Rússia no papel de vilão

Neu questiona se a Rússia conseguirá levantar todo esse dinheiro e acredita que a ameaça russa à Europa seja totalmente superestimada.

"Nenhum dos países da Otan está ameaçado de alguma maneira", afirmou o especialista em defesa à DW. "Trata-se de uma histeria artificial, que deve servir para melhorar a imagem pública da Otan." Segundo Neu, a organização perdeu seu antigo vilão, a União Soviética, e agora cabe à Rússia desempenhar esse papel.

O governo alemão também não apoia o pedido de Rasmussen por mais armamentos. A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, afirmou recentemente que, por hora, a prioridade da Europa é reforçar a recém-recuperada estabilidade econômica.

Christian Mölling, especialista em segurança do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla original), diz que isso se aplica a países como Espanha, Itália e França. "Esses países estão lutando contra um inimigo completamente diferente: os problemas em seus sistemas sociais e fiscais. E isso é, de longe, muito mais importante do que os gastos militares."

A ministra Von der Leyen acredita que aumentar o orçamento da Defesa não seja o caminho a ser seguido no momento. "A Otan é forte e imagino que a Rússia também saiba disso", considera.

Supremacia apesar de pontos fracos

Mölling calcula quão forte é de fato a organização. "Somente os membros europeus da Otan, somados, superam os russos em número", diz. Isso se aplica tanto ao número de soldados quanto ao tamanho da frota de tanques e outras unidades militares. Além disso, explica o especialista, a Otan é qualitativamente superior à Rússia.

A Otan tem seus pontos fracos, mas, segundo Mölling, eles já existiam antes da crise na Crimeia. Ele defende que a organização invista em drones – aviões não tripulados – além de satélites de reconhecimento e em logística, como por exemplo, em aviões cargueiros de grande porte.

"Precisamos investir nisso tudo, mas isso não é novidade", diz. Essas aquisições, diz o especialista, devem ser feitas em conjunto. Fazendo aquisições e projetos como esse de modo transnacional, seria possível reduzir os custos em até 30%.

O parlamentar Neu não acredita nessa possibilidade. "Isso normalmente não funciona como deveria. Quando a divisão de tarefas é muito grande, as empresas de armas envolvidas não trabalham bem juntas."

Algumas cooperações atuais servem de exemplo, como as dificuldades no desenvolvimento da aeronave de combate Eurofighter ou o avião militar de transporte A400M, cujos custos de produção dispararam.

Especialistas afirmam que tais custos poderiam ser reduzidos, se determinados países se responsabilizassem somente por tarefas militares específicas. Por exemplo, o Reino Unido poderia providenciar a Marinha, enquanto a Alemanha se encarregaria da logística e do transporte.

No entanto, Neu classifica tal hipótese como politicamente questionável. "Tais projetos criam um mecanismo de alinhamento. Se a maioria dos países optasse por uma operação militar, a Alemanha seria praticamente obrigada a participar." Dessa forma, a autoridade dos Parlamentos nacionais – como o alemão, que decide sobre questões desse tipo – seria superada.

O "homem de Washington"

Nenhum dos especialistas acredita que a crise da Ucrânia deva desencadear uma nova corrida armamentista, como defende o secretário-geral Rasmussen. Mölling, do SWP, gostaria de ver um armamentismo "em doses homeopáticas e nos lugares certos". "Mas não estamos falando de centenas de bilhões de euros, como sonha Rasmussen".

Mölling vê a declaração de Rasmussen como uma última tentativa de tentar causar impacto antes do término de seu mandato. No segundo semestre, a Otan terá um novo secretário-geral.

Neu vai mais além, e sugere que Rasmussen seja um "homem de Washington", que pretende colocar em prática a contenção de dispesas dos EUA. "Os europeus deveriam, cada vez mais, assumir tarefas que até o momento foram administradas pelos Estados Unidos sozinhos. Por isso, [os europeus] deveriam reforçar seus orçamentos militares", afirma o parlamentar. Na sua visão, Rasmussen seria apenas um executor dos interesses norte-americanos.

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