Steven Rosenberg
Há apenas quatro dias, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu que grupos pró-Rússia no leste da Ucrânia adiassem um referendo – realizado no domingo – sobre a autodeterminação da região.
Já na segunda-feira, o Kremlin descreveu a votação de domingo nas regiões de Donetsk e Luhansk como "a vontade do povo" e deixou claro que a Rússia respeitaria os resultados.
Não foi feita nenhuma menção à ausência de observadores internacionais durante as votações, à falta de listas de eleitores atualizada ou à questão bastante confusa nas cédulas de voto.
Apesar da sugestão de Putin para que a votação fosse adiada, a simpatia de Moscou aos grupos pró-Rússia no leste da Ucrânia nunca esteve em dúvida.
Basta assistir à televisão russa sobre a crise na Ucrânia para ver isso – o canal de notícias da TV estatal teve extensa cobertura positiva na segunda-feira dos "Referendos do Povo".
No domingo, uma sala de votação chegou a ser aberta em Moscou para expatriados ucranianos.
Esse apoio envia uma mensagem para os adversários do Kremlin: as autoridades ucranianas podem classificar os referendos como "farsa" com "nenhum peso legal" ou políticos ocidentais podem alegar que os plebiscitos têm "credibilidade zero". Mas a Rússia ainda apoia aqueles que buscam maior autonomia – ou mesmo independência – de Kiev. Enquanto essa posição continuar, Kiev vai sofrer para restaurar sua autoridade em partes do leste da Ucrânia.
Esfera de influência
Mas será que isso vai continuar? Qual é o jogo final de Putin?
De acordo com a edição de segunda-feira do tabloide russo Vedomosti, ele está longe de estar claro.
"Putin mantém seus oponentes em um estado de tensão constante, atacando-os quando e onde ele quiser", disse o jornal. "(Na Ucrânia), ele não tem uma estratégia. Ele apenas reage aos acontecimentos."
Se este for o caso, torna-se difícil prever o próximo movimento do Kremlin. Mas a breve declaração da Rússia na segunda-feira sobre o referendo dá algumas pistas: pede por "diálogo" e "implementação" pacífica dos resultados da votação.
O Kremlin pode não ter uma estratégia. Mas seus objetivos são claros: manter influência em pelo menos parte da Ucrânia e garantir que nem todos na Ucrânia abracem a União Europeia ou – o maior pesadelo da Rússia – a Otan, a aliança militar do Ocidente.
É por isso que Moscou pode considerar que um governo central fraco em Kiev e a contínua instabilidade no leste da Ucrânia podem lhe favorecer.
Na TV russa na segunda-feira, um proeminente político ucraniano pró-Rússia pediu a Donetsk e Luhansk e outras regiões do leste e sul da Ucrânia que formem um Estado independente chamado de Novorossiya (Nova Rússia).
Esse "Estado" seria inevitavelmente leal a Moscou.
Seria, então, a Novorossiya parte do plano de longo prazo do Kremlin de manter influência em grande parte da Ucrânia? Isso poderia envolver assistência militar russa para aqueles em conflito com Kiev?
Ou será que a estratégia de curto prazo de Moscou tem mais a ver com desestabilizar as próximas eleições presidenciais na Ucrânia?
Ao impedir que a votação ocorra em grande parte do leste, a Rússia pode esperar deslegitimar o novo presidente, uma figura que provavelmente será pró-Ocidente.
Ou não há nenhum plano, apenas uma prontidão em Moscou para reagir aos fatos?
A menos de duas semanas das eleições presidenciais na Ucrânia, se o Kremlin tem um plano, ele deverá revelá-lo em breve.