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COPA – Governo teme reação nas ruas

 

PAULO DE TARSO LYRA

Se torce para que a Seleção Brasileira avance na Copa do Mundo — e quem sabe, seja campeã — o governo monitora e reza para que as manifestações de junho não se repitam como as do ano passado, quando uma multidão foi às ruas e derreteu a popularidade da presidente Dilma. Ela jamais retornou aos patamares anteriores à Copa das Confederações. Pior, depois de um leve respiro nas pesquisas de popularidade, a petista caiu novamente nas aprovação de governo e, agora, nos índices de intenção de voto.

Extracampo, a situação do governo é bem complicada. "O país viveu um curto-circuito no ano passado que está, por enquanto, adormecido. Depois da Copa, sobretudo se a Seleção não for exitosa, esses fusíveis serão religados", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

A aposta do Planalto é que a conjunção de fatores ocorrida no ano passado dificilmente voltará a se repetir. Nos meses posteriores, a presença das pessoas nos protestos anti-Copa diminuiu. Por outro lado, a escalada de violência aumentou, culminando na morte do cinegrafista Santiago Dantas, em janeiro deste ano. "As pessoas continuam insatisfeitas com uma série de coisas. Mas perceberam que as manifestações foram tomadas pelos black blocs e abandonaram os protestos", declarou um interlocutor do governo.

O Planalto demorou a encaminhar ao Congresso o tão alardeado projeto para coibir a violência nas passeatas. O texto não tem previsão de votação. Para aumentar a insegurança, a cidade que sediará a final da Copa, em 13 de julho, no Maracanã, viu a bandeira do governador Sérgio Cabral (PMDB) se enfraquecer.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) mergulharam num confronto entre policiais e traficantes em comunidades estratégicas e emblemáticas do Rio de Janeiro, como o Alemão, Rocinha e Pavão-Pavãozinho. A situação tornou-se tão complexa que o governo fluminense antecipou a ampliação do efetivo de policiais nas ruas da cidade: serão 2 mil.

Manifestações, violências nas favelas pacificadas, medo de rebeliões nos presídios. Em janeiro, o Correio antecipou que o Planalto desejava firmar uma parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tentar diminuir a pressão nas unidades carcerárias, sobretudo nas cidades sedes dos jogos. No fim do ano passado, após a descoberta de um esquema de fuga dos principais líderes da maior facção criminosa do país, o grupo anunciou que "não vai ter Copa". Depois disso, o Brasil ainda presenciou a barbárie em Pedrinhas, no Maranhão, onde mais de 60 presos foram executados em 2013.

O governo também terá de conviver com as queixas dos torcedores durante os jogos. Metade das arenas que sediarão as partidas não terão rede wi-fi, o que dificultará a transmissão de dados. Boa parte dos aeroportos segue em obras. O hotel que será construído ao lado do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, só estará pronto após o Mundial. "As companhias aéreas aumentaram o número dos voos disponíveis, não haverá caos aéreo", apostou uma autoridade. Para esse assessor governista, a maior parte das pessoas compraram ingressos para assistir o jogo nas cidades em que moram, o que diminuiu a quantidade de passageiros nos aeroportos. "O fluxo de turistas será menor do que os períodos de carnaval e réveillon."

Manifestações, violência nas ruas e nos presídios, caos aéreo. O Planalto ainda teme uma onda de greve de servidores federais. Há duas semanas, os policiais militares da Bahia cruzaram os braços e Salvador mergulhou em uma crise urbana de saques e depredações. A presidente ordenou que a Advocacia-Geral da União fique atenta aos grevistas para tentar, na Justiça, liminares que considerem ilegais movimentos dessa natureza, especialmente durante o período da Copa.

A bola e o voto // Os entraves da presidente Dilma Rousseff durante os 30 dias de Copa do Mundo:

Resultado em campo

O mito de que uma vitória em campo pode ajudar a eleger o presidente foi desmentido nas últimas eleições (2002, 2006 e 2010). Mas a presidente Dilma acha que o otimismo decorrente do hexa pode ajudá-la. Se perder, a situação se complica.

Estádios padrão Fifa

As arenas ficarão prontas, mas alguns problemas aconteceram durante os eventos-teste. Além disso, metade dos estádios deverá estar sem internert wi-fi, o que dificultará o envio de dados e imagens pelos torcedores.

Aeroportos

Parte das obras dos aeroportos brasileiros não ficará pronta. Há quem tema a ocorrência de um caos aéreo pelo grande volume de voos que cruzarão os céus do país nos dias de jogos.

Mobilidade urbana

Todas as grandes cidades têm obras de mobilidade. Por causa dos atrasos, ficou decidido que as férias escolares ocorrerão durante a Copa. Para facilitar ainda mais, alguns dias de partidas se tornarão ponto facultativo.

Manifestações de rua

O temor de que as ruas sejam novamente ocupadas por manifestantes, a exemplo do que aconteceu em junho do ano passado, é grande. O governo não conseguiu aprovar o projeto de lei para coibir manifestações. Após os protestos do ano passado, a popularidade de Dilma derreteu a patamares próximos da atual.

Segurança e presídios

No fim do ano passado, quando o Ministério Público de São Paulo desbaratou um esquema de fuga da principal organização criminosa do país, a facção ameaçou impedir a realização dos jogos. No Rio de Janeiro, o aumento da violência nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) também ligou o alerta nas autoridades federais.

Greves

Servidores públicos também podem se tornar um calo para o governo. Insatisfeitos com a política de valorização salarial, alguns funcionários defendem que a categoria aproveite o momento para uma paralisação geral. A Advocacia-Geral da União (AGU), porém, já monitora os sindicatos.

 

Povo fala//

Como a copa do mundo pode influenciar as eleições?

Paulo Peixoto, 64 anos, servidor público, Asa Sul

"A Copa não influenciará. A situação econômica do país, sim. Qualquer brasileiro, que ganha $ 1 mil não tem condições de comprar alimento"

César Lopes, 32 anos, servidor público, Guará

"A influência vai ser grande. Se o Brasil não passar das oitavas, acho que vai gerar uma grande revolta. Porém, se passar para a semifinal ou final, já vai ter um contentamento"

Karoline Matias, 20 anos, confeiteira, Recanto das Emas

"A Copa influenciará as eleições por causa das mudanças, principalmente de infraestrutura. Estão sendo gastos milhões, que poderiam ser investidos em outras coisas"

Francisco Lucas, 48 anos, servidor público, Planaltina

"A Copa do Mundo influencia muito porque é um evento grande e com a participação da Presidência. Portanto, vai influenciar, sim, quem está no governo hoje"

Daniel Rodrigues, 25 anos, Santo Antônio do Descoberto

"Não tem influência. Vai ser só farra. Hoje, é uma minoria que se mobiliza, que pensa no próximo"

Marcos Antônio Nascimento, 21 anos, atendente, Arapoanga

"A Copa é só futebol, não tem nada a ver com eleições. Esse monte de obra pode até atrapalhar um pouco, mas estão fazendo por causa das eleições e não pela Copa. Copa é Copa, eleição é eleição"

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