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China aposta em peças para seduzir Argentina


Renata Agostini
de Brasília


A crise econômica na Argentina vem batendo mais forte no Brasil do que em outros parceiros comerciais do vizinho, enquanto a China abocanha a fatia brasileira no mercado argentino.

Os produtos chineses mais que triplicaram sua participação nos últimos dez anos, segundo estudo feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) a pedido da Folha.

O Brasil chegou a responder por 36,5% de tudo o que os argentinos compravam do exterior, em 2005. No ano passado, tinha 26,5% –no primeiro bimestre deste ano, a fatia já caiu para 24,8%.

Os chineses são de longe os que mais avançaram no período, atropelando não só a indústria brasileira mas também a americana. Apesar dessa ofensiva asiática, a União Europeia também conseguiu ampliar sua fatia.

O movimento é preocupante diante da importância do mercado argentino, que consome do exterior essencialmente produtos industrializados. É para lá que vai a maior parte dos manufaturados, os bens mais elaborados da indústria brasileira.

Por essa razão, o mau desempenho na Argentina acaba tendo efeito significativo no resultado comercial do Brasil. No primeiro trimestre deste ano, a queda nas vendas para os argentinos representou mais de um quarto do tombo de US$ 1,5 bilhão das exportações totais de manufaturados brasileiros.

"Estamos perdendo nosso mercado na América Latina. Nossa competitividade é colocada à prova a toda hora. Temos de ter preço e ampliar nossa relação com outros parceiros", diz Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI.

Dos 10 setores que mais exportam para a Argentina, 9 apresentaram queda nas vendas desde 2011, quando houve recorde nas exportações brasileiras para o país.

Se o país tivesse mantido a participação que detinha em 2011 no mercado argentino, teria US$ 2,2 bilhões a mais em exportações no ano passado, aponta o estudo –o suficiente para quase dobrar o saldo comercial de 2013.

 

PEÇAS X PRODUTOS

Além da conhecida competitividade dos vendedores chineses, que oferecem preços baixos e têm acesso a farto financiamento à exportação, o perfil dos bens oferecidos pela China favorece a conquista do mercado de lá.

"Os produtos brasileiros ficaram mais caros. Além disso, o Brasil vende veículos e equipamentos acabados, as compras se ressentem mais. A China vende essencialmente peças", diz Matías Carugati, economista-chefe da consultoria argentina M&F.

As peças chinesas baratas viram produtos fabricados localmente. Não por acaso, um dos setores que mais perderam espaço na Argentina foi o de equipamentos eletrônicos e de informática. O país vizinho incentivou novas fábricas, o que fechou o mercado para os brasileiros.

A exportação de celulares, por exemplo, que chegou a US$ 740 milhões, despencou para US$ 200 mil em 2013. Segundo a Abinee, que representa o setor, multinacionais como Nokia e Samsung, que usavam o Brasil como base para a região, agora atendem só o mercado doméstico.

"O Brasil vem adotando uma paciência estratégica com o Mercosul e isso fez com que perdêssemos posições", avalia Humberto Barbato, presidente da entidade.

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