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Presidente não larga o osso, e a Costa do Marfim vai à guerra

Enquanto os olhares do mundo estão voltados para o Japão e a Líbia, pouca atenção se dá para a situação delicada na Costa do Marfim. A crise começou em novembro passado, quando o então presidente Laurent Gbagbo perdeu as eleições para seu adversário, Alassane Ouattara. Apesar da derrota, Gbagbo se recusou a sair do cargo, e os conflitos começaram, deixando, até ontem, mais de 400 mortos.

Em 10 março, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana tentou por fim à crise na presidência do país aprovando um relatório que confirma Alassane Ouattara como presidente legítimo. Entretanto, essa decisão não fez cessar os ataques armados contra os apoiadores de Ouattara, nem a violenta repressão contra a população.

Em carta enviada aos chefes de Estado da Comunidade Econômica dos Estados do Oeste Africano (ECOWAS, na sigla em francês) na última terça-feira, a presidente do Grupo Internacional de Crise, Louise Arbour, pediu maior atenção “para uma verdadeira guerra civil, que provavelmente envolverá uma purificação étnica e outras atrocidades em massa”.

Louise diz que “os ataques contra civis são cometidos diariamente, casos de estupro e tortura continuam a ser relatados” e que o número de mortos é muito superior aos 440 confirmados pela ONU.

Ao final do texto, ela alerta: “A Costa do Marfim não está mais à beira de uma guerra civil. Ela já começou”.

Na semana passada, Charles Blé Goude, líder do movimento Jovens Patriotas, fez um apelo aos militantes, convidando “os jovens, aptos e prontos a morrer pelo seu país” a se juntarem às frentes armadas leais a Gbagbo.

Brasileira diz que há bairros sitiados
Mais de 20 mil jovens se reuniram, na última segunda-feira, para se alistar no exército. Amedrontados depois da onda de violência da última semana, a pior observada desde o início da crise pós-eleitoral, milhares de habitantes tentam abandonar a cidade de Abidjan, capital comercial do país.

Segundo informações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), os marfinenses têm se reunido nos principais terminais de ônibus da cidade para deixar a região, após o que eles acreditam ter sido um chamado à guerra. Muitos deslocados estão indo para o norte e leste do país e buscando asilo nos países vizinhos como Togo, Mali e, principalmente, Libéria. Estima-se que haja em torno de 70 mil refugiados.

A embaixadora do Brasil na Costa do Marfim, Maria Auxiliadora Figueiredo, conta que quem mora nas aldeias e trabalha na cidade tem mandado a família para longe e ficado para trabalhar. Já quem mora na cidade, procura refúgio em igrejas, mesquitas e escolas.

– A situação aqui não está muito boa. As forças regulares estão combatendo os insurgentes em diversos bairros. As pessoas estão saindo com medo da violência. Alguns bairros estão fechados, não entra comida nem água. Ninguém sai à noite, tem bloqueios em diversas esquinas e os partidários do presidente estão revistando os transeuntes, para procurar armas – relata a embaixadora.

Segundo ela, existem cerca de 120 brasileiros no país, mas não há notícias de que eles estejam em bairros perigosos. Ela afirma que os pais estão enviando os filhos para outros países em busca de segurança. Perguntada sobre a iminência da guerra, a embaixadora se mostra esperançosa.

– É difícil prever. Todo mundo acredita que a guerra virá em breve. Já se fala na “Batalha de Abidjan”. Eu gosto de pensar que eles estejam negociando, mas existe muita inflexibilidade de ambas as partes.

Libéria
Apesar da receptividade, a Libéria não tem condições de receber a grande quantidade de refugiados que tem se deslocado para lá. Com a perigosa época de chuvas chegando, a ACNUR está buscando transferi- los para outras localidades.

No país para uma missão, Melissa Flanning, porta-voz do alto comissário da ONU António Guterrez, afirma que o oficial teme pela segurança dos marfinenses e pede para que a comunidade internacional tome as providências necessárias para cessar o conflito.

– O senhor Guterrez agradece a cooperação da Libéria e garante que está totalmente comprometido em ajudar o governo. Não vamos esperar pelo dinheiro das doações para fazer o que precisa ser feito.

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