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Liderança da Crimeia se afasta da Ucrânia e pressiona por adesão à Rússia

Em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia, não se passa um dia sem que as novas lideranças – fiéis a Moscou – aprovem novas leis. Na realidade, o recém-indicado primeiro-ministro da Crimeia, Serguey Aksyonov, dispõe somente de algumas poucas competências e poderes.

Mas já se elevou à condição de governante único da república autônoma. Rapidamente ele colocou sob suas ordens todas as autoridades de segurança – polícia, Ministério Público, serviço secreto –, tirando-as do controle do governo em Kiev.

Nesta quinta-feira, o vice-primeiro-ministro do governo pró-russo, Rustam Temirgaliyev, anunciou que um plebiscito para decidir o futuro da república autônoma foi adiantado de 30 para 16 de março.

Os eleitores terão duas opções: ou votarão a favor da incorporação da Crimeia à Federação Russa ou votarão pelo retorno da Constituição regional de 1992, que transformara a Crimeia numa região autônoma dentro da Ucrânia, afirmou Temirgaliyev.

Simferopol quer Exército próprio

Aksyonov também fez com que o Parlamento regional o nomeasse comandante militar da república. Como a Crimeia não tem tropas próprias, ele está tentando convencer as Forças Armadas ucranianas estacionadas na Crimeia a passar para o seu lado.

Ele conseguiu uma vitória ao convencer um importante oficial – o comandante da Marinha ucraniana. Segundo relatos da mídia, outros oficiais ucranianos já trocaram de lado. "Este é um momento histórico, o nascimento do Exército da Crimeia", anunciou Aksyonov.

Não se sabe quantos militares estão de fato sob o comando de Aksyonov. Em Simferopol, ninguém cita números. Como república autônoma dentro da Ucrânia, a Crimeia nunca teve um Exército próprio. Agora, a nova liderança em Simferopol quer criar até mesmo um Ministério da Defesa.

Não há mais contatos com Kiev

Aksyonov – que muitas pessoas na Crimeia acusam de ligação com o crime – não mira somente o aparato de segurança. Ele trocou às pressas muitos funcionários em outros órgãos, como os diretores de empresas estatais. A nova liderança informou ainda às autoridades financeiras regionais que todos os impostos coletados na Ucrânia não serão mais transferidos para Kiev, ficando retidos na península.

Indagado pela Deutsche Welle se as lideranças em Simferopol estariam em contato com o novo governo ucraniano em Kiev, Aksyonov respondeu: "Não. Nós não o reconhecemos."

Lideranças em Kiev questionam o plebiscito sobre o futuro da Crimeia, afirmando que ele é ilegal pelas leis ucranianas. Mas isso pouco importa aos líderes da Crimeia, que apostam no apoio de Moscou.

Um empréstimo russo, cujo montante ainda é desconhecido, está em cogitação, disse Aksyonov à DW. Ele disse estar certo de que Moscou ajudará a Crimeia, já que quase 60% da população local é russa.

Também nesta quinta-feira, as autoridades da Crimeia pediram ao presidente Vladimir Putin para examinar o pedido de incorporação à Federação Russa. "O Parlamento da Crimeia adotou uma moção com vista à incorporação da Crimeia à Rússia. O Parlamento pediu ao presidente e ao Parlamento russos para considerarem esse pedido", disse um membro da liderança parlamentar.

Resistência entre as minorias

Mas há resistência a essa linha pró-Moscou entre as minorias étnicas da península – principalmente entre os tártaros. Aparentemente, pretende-se atraí-los com ofertas lucrativas. O presidente da Medjlis (associação política dos tártaros da Crimeia), Refat Chubarov, relata ter recebido várias propostas, incluindo cargos no conselho ministerial regional e ajuda financeira para vilarejos tártaros. Ele diz ter recusado. "Primeiramente, os militares devem se retirar e a paz deve ser restabelecida, depois se pode conversar sobre qualquer coisa", disse.

Chubarov não reconhece a legitimidade do novo primeiro-ministro da Crimeia. Durante a eleição, o prédio do Parlamento regional foi ocupado por desconhecidos armados, lembra. "Isso não pode ser chamado de eleição livre", argumenta.

Os ucranianos residentes na Crimeia são ainda mais pessimistas sobre a evolução da situação na península. Eles temem ser rebaixados para cidadãos de segunda classe sob a dominação russa e esperam ter o apoio de Kiev. Embora o novo primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, tenha dito que a integridade territorial da Ucrânia seria inviolável e que Kiev nunca desistiria da Crime, aparentemente a Ucrânia perde cada vez mais o controle sobre a península.

 

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