André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos, consultor de agências internacionais
As vésperas do maior evento desportivo mundial, é natural que cresçam as críticas da imprensa internacional sobre os recentes episódios de violência, particularmente o que acarretou na morte do cinegrafista Santiago Andrade, o que de fato, deve ser uma constante preocupação para seus organizadores e para os estados que sediarão os jogos.
Mas, chama a atenção, a forma enfática como tem sido expostos os problemas internos do país para a opinião pública estrangeira, alvo de extensas reportagens que apontam insistentemente não haver garantias de segurança pessoal face a onda de violência, além de graves problemas políticos, sociais e de infra-estrutura, criando uma campanha de verdadeiro terror para aqueles que pretendem acompanhar os jogos.
Estas reportagens, publicadas em importantes veículos da mídia, demonstram possuir fontes de amplos conhecimentos da conjuntura e particularidades da vida brasileira. Nelas, dificilmente se encontrará pontos positivos a favor do país e a ideia que está sendo transmitida é de que não possuimos as mínimas condições para sediar evento de tal magnitude. Uma situação lamentável pois certamente deverá ter reflexos diretos na economia com a redução do fluxo de turistas estrangeiros.
Um dos inúmeros exemplos é a edição da revista FRANCE FOOTBALL desta semana que apresenta a capa toda em negrito e onde se lê “Peur sur le Mondial”, algo como: “Medo do Mundial”, sendo que a letra “O” da palavra “mondial” está a bandeira do Brasil e onde deveria estar escrito “Ordem e Progresso”, foi colocada uma tarja negra. No subtítulo diz: Atingido por uma crise econômica e social, o Brasil está longe de ser aquele paraíso imaginado pela FIFA para organizar uma Copa do Mundo. A menos de 5 meses do mundial, “o Brasil virou uma terrível fonte de angústia”.
A revista pode ser acessada no site: www.francefootball.com mas apenas se vê a capa pois a reportagem de 12 páginas, não está liberada no Brasil. Ainda, segundo estas mesmas fontes, em âmbito interno da FIFA, já se admite o que pode ser considerado o maior erro estratégico da história da Instituição, ter aceitado o Brasil para sediar os jogos.
Da mesma forma, estão disponíveis na internet de forma cada vez mais frequente, inúmeros vídeos em inglês, como o “FIFA World Cup 2014 – The real Brazil” que retratam um ambiente hostil mostrando estradas e obras inacabadas, sujeira nas ruas, descontrole em conflitos entre manifestantes e a Polícia e desrespeito a normas de convivência coletiva num estado que beira a beligerância.
Verdadeiramente nunca se viu tamanha contrapropaganda desde o término da Guerra Fria. Será parte de uma campanha de desestabilização interna e externa? A quem interessa o fracasso de público em um dos maiores eventos desportivos internacionais? Haverá uma estratégia mais ampla dos movimentos irregulares além da que estamos presenciando?