André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
e consultor de organizações internacionais.
No presente contexto, torna-se difícil arriscar uma previsão do que acarretará os protestos deflagrados em todo o país para 2014, e se serão manifestações ou uma insurgência declarada como tudo leva a crer. Mas é fácil perceber que estamos em um período de ebulição social com idealistas, indignados, minorias, grevistas e outros grupos insuflados por anarquistas, integrando-se pelas redes sociais para engrossar o que Ortega y Gasset chamava de rebelião das massas insatisfeitas.
Cito esta obra, pois existe uma relação com as “verdadeiras manifestações” que eclodiram no país a partir de junho de 2013. Chamo de verdadeiras, aquelas que partem exclusivamente da iniciativa popular, sem cunho político-ideológico ou apelo a violência. Nelas, prevalece o coletivo contra o Estado e a discussão se certas necessidades sociais não seriam melhor atendidas com maior participação coletiva nestas decisões, já que existe uma decepção generalizada com a classe política, que é quem deveria fazer esta interface. E quem poderia não dar razão a questões históricas levantadas como melhorias na saúde, educação, segurança, contra a corrupção e os juros abusivos do mercado econômico, transportes coletivos de melhor qualidade, salários condizentes e gastos exorbitantes do poder público?
Lamentavelmente, em meio a esta profusão de diversidades nas ruas, surgem grupos oportunistas que apelam para a violência como desejo de atingir simbolicamente o objeto de suas insatisfações, assim como ocorre com o moderno terrorismo e, as torres gêmeas, foi o maior exemplo. Trata-se de um indicativo perigoso pois suas ações podem atingir dimensões imprevisíveis uma vez que chamam maior atenção dos órgãos de imprensa e, lamentavelmente creditam a pauta das verdadeiras manifestações para um plano irrelevante.
Certamente um efeito de propaganda diversionista buscando a desinformação, baseado em um frágil postulado de “contra o aumento das passagens de coletivos”, não mais importante do que a conjuntura de necessidades básicas não atingidas pela maioria da população. Assim, não se consegue identificar quem pleiteia o quê, uma estratégia pensada. O que presenciamos pela mídia são confrontos com as forças de segurança que resultam em um imenso desgaste institucional perante a opinião pública, passando estas, de mocinhos a bandidos. Por enquanto, eventualmente, com algumas vítimas, consideradas como “efeitos colaterais necessários em uma revolução” palavras textuais de Carl Marx.
Podemos afirmar que estas ações, estão inseridas dentro do moderno conceito de guerras de 4ª geração, onde, genericamente, novos atores, alguns menores em tamanho e recursos fazem frente ao poder tradicional com algumas vantagens. Fenômeno que, Moisés Naim, credita ainda não ser reconhecido e compreendido, mas que vem mudando o mundo ou a forma como estávamos acostumados a encará-lo. (no caso do terrorismo os insurgentes contra forças militares) em nosso caso (grupos contra o Estado). Uma tendência para os futuros conflitos em democracias em fases de implementação ou consolidação, que temem a adoção de posturas mais agressivas com receio de exposição. De qualquer maneira, já estão expostas, e o que podem fazer é tentar reduzir o grau de incidência desta violência para evitar uma propagação de grandes dimensões onde então, serão obrigadas a sair da leniência, possivelmente, com repressão ainda maior do que pretendiam.
Provavelmente seja este o maior temor das autoridades governamentais, o surgimento de algo incontrolável que possa acarretar num estado caótico que denigra a imagem do país perante a comunidade internacional, hipótese que não pode ser descartada e que, inclusive, já ocorreu em outros contextos mundiais.
Diferentemente das manifestações verdadeiras, estas que estamos observando, de violência, vandalismos e faces encobertas nada tem a ver com a democracia pois não surgem do coletivo e sim, de grupos isolados, testando e colocando em cheque sistematicamente a força dos governos e do poder estatal, em seu sentido mais amplo. Uma rebelião, modernamente chamada de insurgência de um pequeno grupo com estratégias equivocadas, se pretendem a rebelião das massas.